ERA DE UM PIRATTA O CANTO DA EMA NO MAIOBÃO
Dia
13 de outubro de 2010, fiz uma viagem a São Luís do Maranhão, com o objetivo de
fazer uma pesquisa de campo, junto a cantores que pudessem falar da obra e da
pessoa de João do Vale. Nesse mesmo dia, numa tarde de quarta-feira,
entrevistei o cantor e compositor pedreirense Paulo César Felizardo da Silva, 48 anos de idade, conhecido
popularmente pelo nome artístico de Paulo Piratta; proprietário na época da
casa de show Canto da Ema, um espaço cultural que foi um ponto de cultura e de encontro
dos cantores de São Luís onde o compromisso maior era a divulgação da música do
Maranhão. Perguntei ao cantor Paulo Piratta o que ele tinha a dizer de João do
Vale, e o mesmo falou:
(Foto retirada do Google Imagem) |
“Conheci João do
Vale na década de 90, mas antes de conhecê-lo pessoalmente já ouvia muito falar
dele e o via pelas ruas e nos bares de Pedreiras. Fui apresentado oficialmente
para João em um dia que eu estava no bar da Luiza, numa roda de artistas. João
chegou e foi apresentado a todos. Lembro-me muito bem que Luiz Guide, seu
empresário, estava presente e eles estavam em Pedreiras para a festa da
inauguração da Rádio FM Cidade de Pedreiras juntamente com Rogério Du Maranhão,
Milena, Julinho do Acordeom e Chico Viola. Luiz Guide pediu que fizéssemos uma
música para homenagear o João, e fizemos a canção que foi tocada no dia da
inauguração da Rádio. A música se chamava João, você nunca morrerá. Essa relação
com João do Vale foi muito marcante para mim porque foi através dessa música
que eu apareci pela primeira vez em público e dava início a minha carreira.
Para provar o que eu estou dizendo, guardo comigo fotos desse momento. Depois
passei a estar nos lugares onde João estava e frequentava, cantando e tocando
violão para ele e seus amigos. Certo dia tive um momento de decepção com João.
Pensava que pelo fato de ter feito uma música para ele, o mesmo iria ser grato
comigo e ser gentil quando me visse. Estava havendo um Especial João do Vale na
Churrascaria Brisa, que ficava localizada na Rua das Laranjeiras, no Bairro do
Goiabal, em Pedreiras. Quando João entrou no recinto comecei a cantar a música
“Pisa na Fulô”. Quando terminei de cantar, fui até João e me aproximei dele e
ele de forma brusca me empurrou. Fiquei morrendo de vergonha, chateado, mas
depois fui analisar que aquela atitude dele poderia ser reflexos da sua doença.
Confesso que aquela atitude dele não fez morrer a minha admiração que eu tinha
e ainda tenho por ele.” (ENTREVISTA COM SILVA, 2010).
Uma
pausa, Paulo Chama sua esposa Maria Vita e lhe pede para servir um café, uma
água ou mesmo um lanche ao entrevistador. Brincadeiras e piadas à parte,
risos... A conversa que tive sobre João do Vale com o cantor Paulo Piratta, viu
a tarde se despedir e a noite chegar muito bela na Ilha do Amor. Em seguida,
para a alegria e a grande satisfação desse momento histórico, eis que chegou ao
recinto, o empresário, poeta e compositor Paul Getty que presenciou uma parte
da conversa que se teve com Paulo Piratta.
Paulo
Pirata abraçado ao seu violão, bandana na cabeça, garrafa de café sobre a mesa
e uma enorme xícara com a sua foto, prosseguiu falando de João do Vale:
“Lembro-me que o ano era 1994, João ganhou o Prêmio
Sharp de melhor CD, e passava pela Rede Globo de Televisão, numa quinta-feira à
noite, no mesmo dia em que o Armazém Paraíba festejava um dos seus aniversários
na Brisa, com fogos e muita animação. João do Vale estava presente, sentado num
canto, sozinho, jogado. Cantei uma música de João e depois perguntei se alguém
ali sabia se João do Vale havia recebido o Prêmio Sharp. Convidei a todos os
presentes a cantar parabéns para João. Percebi que muita gente não gostou da
minha atitude, pois sei que ofusquei um pouco a festa do Armazém Paraíba.
Depois fui para a casa do empresário David Oliveira que ao saber que João
estava na Brisa, imediatamente mandou buscá-lo. Quando João já estava na casa
de David Oliveira, cantei uma música para ele de Chico Buarque; ao ouvir,
chorou como uma criança. Foi a última vez que vi João do Vale. Para a minha
felicidade de artista aquele momento foi importante para a retirada da má impressão
que eu tinha por ele.” (ENTREVISTA COM SILVA, 2010).
Fonte: Trecho da Monografia defendida na FAESF no curso de Letras em 2010 - Joaquim Filho
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