MORREU O MESTRE DE CULTURA JOÃO MUNIZ
(João Muniz, à esquerda, no lançamento do livro REMINISCÊNCIAS, na AABB de Pedreiras-MA, em 22.10.2014) |
O blog do Joaquim Filho
recebeu nessa manhã de sábado (14), com muita tristeza, a notícia do falecimento do folclorista João Muniz,
um homem que marcou a história das cidades de Pedreiras e Trizidela do Vale, culturalmente
falando e, porque não dizer da região do Médio Mearim.
Em setembro de 2014, eu e
meu amigo Henrique do Blog Pedras Verdes fizemos uma visita ao senhor João
Muniz (depois dessa, fiz outras) e, na oportunidade, com a permissão dele e da
família, aproveitamos para fazer uma entrevista com ele, na qual João falou da
sua vida, da profissão, do amor à cultura, da brincadeira do Boi, da política local, as grandes enchentes de Pedreiras e também da
família. Foi uma longa conversa que rendeu uma matéria que depois foi postada
no blog Pedras Vedes e que será reproduzida, na íntegra, aqui no blog do
Joaquim Filho.
(João Muniz/Foto Henrique Pedras Verdes, em setembro de 2014) |
JOÃO MUNIZ RECEBEU VISITA DO BLOG PEDRAS VERDES
Por:
Joaquim Filho
A
tarde desse último sábado de 20 de setembro de 2014, foi abençoada e muito proveitosa para fazermos
um registro importante para a história da nossa cultura local; pois,
finalmente, o blog Pedras Verdes encontrou um precioso tempo para colocar um
projeto antigo em ação: visitar João Muniz, um senhor que reside na Rua São
Joaquim, na baixada, na cidade de Trizidela do Vale, estado do Maranhão e, ter com ele, um momento
de uma visita informal, e claro, ouvir do “seu” João, as belas histórias de
saudosismo, sabedoria, memórias de pessoas ilustres e, sobretudo, da cidade de
Pedreiras e Trizidela do Vale.
Logo
que chegamos (eu e meu amigo Henrique), fomos recebidos por um dos filhos de
João Muniz, que para a nossa alegria, o ilustre visitado estava em casa,
deitado, descansando. O jovem, bem educado, foi chamá-lo e, em seguida, João
apareceu já trazendo na ponta da língua aquela voz de locutor de rádio FM:
impostada, límpida e com um português de dá inveja a qualquer um professor de Língua Portuguesa; e, já foi dizendo que muitos dos seus amigos que o visitavam,
não apareceram mais. Citou os nomes deles, mas por questão de ética e respeito
a essas pessoas, não vamos entrar em detalhes. Demonstrou muita alegria e
satisfação com a nossa presença. Não temos dúvidas, que você que não sabe de
quem estamos falando, deve estar se perguntando: "Mas quem é João Muniz mesmo,
e de quem esse blog está falando?"
Então,
caríssimo (a) amigo (a) leitor (a)-internauta, vamos saber quem é João Muniz.
Mas antes saiba que não é em um simples texto, ou numa rápida visita que fazemos
a uma personalidade, que vamos traduzir tudo sobre essa pessoa.
João
Muniz é um cidadão Pedreirense, que nasceu na Rua Pinto Saldanha, no Cantinho de
Cima, no dia 27 de dezembro de 1929, e, nesse ano de 2014 irá completar 85 anos de idade, ou
seja, nasceu quando Pedreiras tinha somente 9 anos de
emancipação político-administrativa.
Como vemos através dos números e datas, João tem história. João fez a história e sabe contá-la na ponta da língua para quem quiser ouvir. Há 15 anos perdeu totalmente a visão, mesmo buscando recursos em São Paulo para ficar bom, não teve jeito. Teve problema de glaucoma, segundo os médicos que o atenderam. Mora com a esposa (adoentada) e os filhos de um segundo casamento, que por sinal, têm-lhe o maior respeito e carinho nessa hora mais importante da sua vida: a velhice e a doença.
Como vemos através dos números e datas, João tem história. João fez a história e sabe contá-la na ponta da língua para quem quiser ouvir. Há 15 anos perdeu totalmente a visão, mesmo buscando recursos em São Paulo para ficar bom, não teve jeito. Teve problema de glaucoma, segundo os médicos que o atenderam. Mora com a esposa (adoentada) e os filhos de um segundo casamento, que por sinal, têm-lhe o maior respeito e carinho nessa hora mais importante da sua vida: a velhice e a doença.
Tirando
o problema da falta de visão, o que nos chamou à atenção foi ver João Muniz com
saúde, forte e ainda trabalhando, pois segundo ele, todos os dias ele faz a
mesma coisa que vem fazendo esses anos todos: fazendo o seu programa, colocando
no ar a sua voz, das 6 às 7 da manhã e transmite para a comunidade as notícias
do dia, fazendo propagandas das empresas que lhe apoiam, dando informes de
utilidade pública, avisos, recados, tocando músicas e muitos serviços de comunicação em prol da comunidade.
Perguntamos como ele faz para transmitir os avisos já que perdeu a visão. Disse que o filho lê, ele grava na memória e retransmite. Como você vê, João Muniz é um cidadão que ajudou a construir a cidade e a sua história com os diversos trabalhos que ele fez em prol da comunidade. Toda a sua vida foi mais como doação, altruísmo, do que alguém que se preocupou em acumular riqueza. A prova do que estamos falando, é a sua humilde casa, a forma humilde que mais um João vive no interior do Maranhão.
Perguntamos como ele faz para transmitir os avisos já que perdeu a visão. Disse que o filho lê, ele grava na memória e retransmite. Como você vê, João Muniz é um cidadão que ajudou a construir a cidade e a sua história com os diversos trabalhos que ele fez em prol da comunidade. Toda a sua vida foi mais como doação, altruísmo, do que alguém que se preocupou em acumular riqueza. A prova do que estamos falando, é a sua humilde casa, a forma humilde que mais um João vive no interior do Maranhão.
Quando
perguntamos sobre a brincadeira do Bumba Boi, que ele tinha há quase 30 anos, ele
respondeu que há mais de 15 anos não brincou mais, tudo agora é passado e ficou
apenas em suas reminiscências os belos momentos que o seu Boi realizou em todo o Estado do Maranhão, várias festas, terreiros, festejos e datas festivas
populares como São João, São Pedro e outras. Foi bastante taxativo quando
afirmou que um dos fatores do fracasso do boi mimoso, foi a falta de apoio e
incentivo da última administração que segundo ele, não via a brincadeira do Boi
como uma coisa interessante para a cultura local. Disse nunca ter recebido um
centavo do poder público municipal, na gestão passada.
O
Subtenente Granges, ex-chefe de Instrução do TG-08-008 (2010/2011) disse certa
vez, que em Pedreiras as pessoas não são somente uma cousa. Verdade. João Muniz
é a prova dessa leitura sociológica e inteligente desse grande homem. Quando eu
era menino, trabalhava na oficina do meu saudoso tio Juarez Costa Ferreira e,
eu lembro que João Muniz era lanterneiro, ou funileiro, como chamam em outros
lugares. A oficina dele era na rua que eu nasci e morei até os meus 15 anos, a
Rua Primeiro de Novembro, na entrada do Cuscuz, onde hoje é a oficina do Pepe,
filho de Davi.
Lembro-me de que o seu trabalho como lanterneiro era bastante elogiado até mesmo pelos colegas de profissão. Além disso, João Muniz exerceu outras atividades, como: locutor na Voz do Comércio; locutor de carro de som; foi motorista da Casa do Povo, antiga loja que tinha na Avenida Rio Branco, cujo proprietário era Zeca Araújo, dirigia um Jeep que ele tinha. Em 1952 tirou sua carteira de motorista e foi trabalhar no Departamento de Estradas e Rodagem.
Lembro-me de que o seu trabalho como lanterneiro era bastante elogiado até mesmo pelos colegas de profissão. Além disso, João Muniz exerceu outras atividades, como: locutor na Voz do Comércio; locutor de carro de som; foi motorista da Casa do Povo, antiga loja que tinha na Avenida Rio Branco, cujo proprietário era Zeca Araújo, dirigia um Jeep que ele tinha. Em 1952 tirou sua carteira de motorista e foi trabalhar no Departamento de Estradas e Rodagem.
JOÃO MUNIZ E A POLÍTICA DE PEDREIRAS-MA
(Palácio Municipal/Foto: Carloto Júnior) |
Houve
uma época que em Pedreiras a política local só se restringia a dois grupos de
famílias: ‘Brancos e Melos.’ Segundo João Muniz, ele apoiou os dois grupos em
momentos diferentes. Começou apoiando Dr. Josélio Carvalho Branco e Dr. Kleber
Branco, devido a amizade que tiveram na infância, pois quando meninos fizeram
muita estripulias juntos. “Minha mãe Maria foi criada junto com a mãe de
Josélio e Kleber, a Dona Meloca, esposa de Zeca Branco. Joguei muita bola ali
enfrente a casa do Josélio, lá tinha um alpendre e um campinho. Meus colegas de
bola era Josélio, Barzinho, Zé Gomes, Meraldo e outros. Só o Dr. Kleber que não
jogava porquê ele era muito mufino. O Edilson Branco, irmão de Josélio,era
padrinho de um irmão meu, o Zé Buchim.” Engraçado foi ouvir de João Muniz dizer
que Dr. Josélio era muito esperto e durão quando menino, mas o Dr. Kleber
Branco era muito “mufino”. Disse que depois passou a apoiar o Deputado Carlos
Melo em várias eleições. Foi vereador por 7 vezes, mas em todas elas, não teve
êxito, não conseguiu se eleger. Sobre política, João Muniz nos fez uma
revelação muito surpreendente, que hoje nós sabemos o porquê de muitas pessoas
sérias, honestas, que se candidataram e não foram eleitas. Segundo Muniz,
naquela época do QUERO, POSSO E FAÇO, os coronéis ou mandatários do poder na
cidade só permitiam ser eleitos que eles bem queriam. Soube depois por uma
fonte segura que por duas vezes ele tivera votos suficientes para se eleger,
mas devido a um político poderoso da época, ele ficou de fora, dando a vaga a
outro, disse João Muniz. Sobre a política atual, eleições, e esses nomes que
estão aí, ele não quer nem saber, E, dá graças a Deus porque a sua família
também não se mete e não tem ilusão com essas pessoas.
JOÃO MUNIZ E MONSENHOR GERSON: PENSE
NUM ‘CABRA’ BRUTO!
(Santuário de São Benedito - Pedreiras-MA/Foto: Henrique Pedras Verdes) |
Perguntado
sobre as pessoas ilustres do passado, que já não estão mais no meio de nós,
dentre elas, perguntamos a João Muniz se ele teve amizade ou havia convivido
com o saudoso Monsenhor Gerson, vigário da Paróquia de São Benedito. “Eu tive a
honra de ser amigo de Monsenhor Gerson, convivi com por muito tempo e sei de
muita história dele”. Pense em um ‘cabra’ bruto! O bicho era bruto! (risos)
Certa vez eu fui com ele para Marianópolis, ele tinha umas terras lá, aí, eu
brincando ele, eu falei em sonho, que tinha tido um sonho. Ele me respondeu:
“Que negócio de sonho, preto, eu lá acredito em sonho.” Aí, eu falei como era
que um Padre não acreditava em sonho, pois está escrito lá na Bíblia que era
através de sonhos que os mensageiros traziam as mensagens de Deus para os
homens aqui na terra! Depois que eu falei isso, Monsenhor Gerson olhou para
mim, sorriu e me disse: “Preto, preto, onde é que tu estás aprendendo isso”?
JOÃO MUNIZ E AS HISTÓRIAS DAS GRANDES
ENCHENTES DO RIO MEARIM
(Enchente em Pedreiras-MA 1974/Foto: Theago Costa) |
João
Muniz disse que as maiores enchentes do rio Mearim, ele viu todas elas. Falou
que nas grandes enchentes, já viu a Praça Cinquentenário, conhecida como Praça
da Sucam, totalmente alagada, as pessoas pegando canoas para passarem para o
outro lado do bairro Tresidela. Para João Muniz, as maiores enchentes
aconteceram nos anos de terminação 4: 1954, 1964, 1974 e 1984; que depois
disso, as outras maiores foram a de 1985 e 2009. Viu muito o sofrimento do povo
que contraiu doenças, perdiam seus pertences, fome e muita miséria. João Muniz
nunca foi à guerra, mas já viu coisas nesses 85 anos de vida, que muita gente
não acredita. Segundo João, quase todas as pessoas daquela época que tinham a
sua idade, todos já morreram.
JOÃO MUNIZ E JOÃO DO VALE: QUEM É PATACA
DOS DOIS?
“João
do Vale foi moleque aqui em Pedreiras e nós brincamos muito jogando bola,
correndo na rua e fazendo arruaça ali na Rua da Ponte. A minha vocação por Bum
Boi começou desde pequeno brincando com João do Vale que improvisava um côfo de
palha na cabeça coberto com saco de estopa e dizia que era o boi. Fora nós, a
única pessoa que tinha boi era o finado Raimundo Cheque, na Rua do Correio,
onde ele morava. Os nossos instrumentos eram feitos com o couro de camaleão que
nós matávamos." Perguntamos se naquela época João do Vale já fazia música de
boi, ele respondeu o seguinte: “Que eu saiba, não. No meu entendimento, João do
Vale só se tornou compositor depois que foi para o Rio de Janeiro. Qualquer
pessoa da nossa época sabe disso. A primeira música dele foi ‘Estrela Miúda’,
que quem gravou primeiro foi Dalva de Oliveira."
REMINISCÊNCIAS
No dia 22 de outubro de
2014, fizemos o lançamento do nosso último livro de poemas, intitulado
REMINISCÊNCIAS, e um dos convidados de honra foi o João Muniz, que aproveitou e
usou da palavra durante a cerimônia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
(Rio Mearim, uma paixão de João Muniz/Foto: Patrício Oliveira) |
Estar
com um homem que guarda tanta história, uma lenda viva, que ultrapassou décadas
e décadas e ainda está no meio de nós, é uma dádiva de Deus, é uma oportunidade
ímpar para nós escrevermos a nossa história e darmos mais valor a quem um dia
fez tudo para que a cidade hoje, embora não seja a terra dos sonhos, mas com
certeza, bem melhor que antes. E, João Muniz é responsável por essa história
viva.
Viva
João Muniz! Viva o Boi Mimoso que parou de dançar! Viva o povo da nossa terra!
Corpo de João Muniz está sendo velado em sua residência, por familiares, amigos e pessoas simples da comunidade baixada trizidelense, que aprenderam a respeitá-lo e admirá-lo por tudo que ele fez e representou para nossa cultura, na Rua São Joaquim, em frente à praça que leva seu nome, no município de Trizidela do Vale-Ma. O sepultamento será às 16h no cemitério do Alto São José de Pedreiras-MA.
(Foto/Google Imagem) |
Nenhum comentário:
Postar um comentário