COLUNA DO EDILSON MACÊDO
(Edilson Macêdo, Professor Universitário/Foto: Joaquim Filho) |
“TUDO QUE É SÓLIDO SE DESMANCHA NO AR”
Karl Marx
Tudo é efêmero. Tudo passa. Porém, a nossa nostalgia humana
às vezes nos faz andar para frente com os olhos voltados para traz. Por isso, é
comum, ouvirmos expressões como: Antigamente era assim... Antigamente
se tinha... Ah! Se fosse fulano...
Ah!
Se fulano voltasse... De tal forma que, ainda temos pessoas que
gostariam que alguém que “do pó veio e ao
pó voltou”, estivesse ainda à frente disto ou daquilo, “aí, sim, as coisas seriam diferentes.”
Caríssimo leitor(a) do blog do meu amigo Joaquim Filho, no
qual resolvi publicar esse meu artigo, pela sua postura e por ser um meio de
comunicação lido por pessoas que formam opinião e observam o mundo de uma outra
maneira; a vida está em constante movimento. Tudo passa. Tudo muda. Por isso,
esteja sempre aberto “espiritualmente”.
Pois, como Belchior ou Elis Regina: “O
novo sempre vem.” Só resta cantar: “Foi
um rio que passou em minha vida.” Apesar de todos estes lamentos, “amanhã será um novo dia”, não tenha
dúvidas! “The answer
is blowing in the Wind.” (A resposta está esperando no vento –
Bob Dyla).
Reinventar o Carnaval é preciso, (fazer soprar um novo
vento), o que é diferente de voltar ao passado, fazer uma dialética entre
passado, presente e futuro, tendo em vista a superação, sobretudo da primazia
do Carnaval Produto em detrimento do Carnaval Cultura.
O presente artigo que
ora publicamos em um blog que abre espaço para se discutir e pensar a sociedade,
não tem um caráter eminentemente científico, mas é fruto de leituras e
reflexões de quem pretende apensas fazer um ensaio acerca do assunto, por isso
está aberto a novas proposições.
O Carnaval até parece ter sido criado pelo povo brasileiro,
sobretudo pela dimensão que ganhou mundialmente, a ponto de ser até copiado por
outros países: não é sem razões que o universo popular se acostuma dizer que o
Brasil é o país do Carnaval e do Futebol, porém, a história do Carnaval mostra
o contrário.
Sem querer aprofundar de forma mais contundente a História do
Carnaval é importante, embora de maneira simplista, termos uma noção desta, a
fim de que possamos compreender a lógica deste pretenso ensaio.
(Carnaval de Rua Carioca/Foto Ilustrativa Google Imagem) |
A História do Carnaval Brasileiro revela que suas primeiras
manifestações ocorreram por volta do ano de 1723, através do “Entrudo” (do
Latim – introito=introdução), isto porque durante o período quaresmal, ocasião
em que os Cristãos-Católicos, a partir da quarta-feira de cinzas, são obrigados
a praticar a abstinência, o jejum e a penitência, então, os imigrantes
portugueses, principalmente vindos de Açores, de Cabo Verde e da Ilha da
Madeira realizavam o “Entrudo”, também conhecido como “Os Dias Gordos”, visto
que tal festa era bastante regada a grande abundância de vinho, carne e sexo. O
“Entrudo” era também uma festa na qual as pessoas costumavam jogar umas sobre
as outras, água, farinha, limão de cheiro ou qualquer outro produto que
causasse um verdadeiro “mela-mela.”
(Os primeiros carnavais de clube no Brasil/Foto Ilustrativa Google Imagem) |
Duas eram as formas de “Entrudo”, um no espaço privado e
outro no espaço social. Na esfera do privado havia uma prática com regras bem
definidas, entre elas a de que os Membros da Elite Familiar podiam jogar
projéteis e líquidos sobre os Escravos, mas o contrário não. Aproveitando esses
“dias de liberdade” as moças podiam manter contato com rapazes, desde que
fossem do seu mesmo nível, ou melhor, de classe social; pois dali pudesse
surgir um futuro casamento. Já na esfera social as ruas agregavam toda
diversidade social: negros, pobres, prostitutas, escravos, etc... Porém, estes podiam
jogar uns sobre os outros polvilho, pó-de-barro, águas de chafarizes, sarjetas,
etc. Por isso, tal forma de “Entrudo” era mal visto pelas elites dominantes.
(Carnaval de Clube Elitizado no Brasil/Foto Ilustrativa Google Imagem) |
Desse modo, a Elite Brasileira buscou na França um novo
modelo de se fazer Carnaval, ou seja, o Carnaval de Baile de Máscaras, de tal
modo que o primeiro aconteceu no dia 22 de janeiro de 1840 no Teatro Itália no
Rio de Janeiro. Tal forma de Carnaval ganhou um caráter excludente e elitista,
porque só podia participar quem era sócio de algum clube ou tivesse dinheiro
para pagar o ingresso de entrada. Para os pobres e marginalizados a única opção
era o Carnaval de Rua, com todas as suas consequências.
Então, este breve histórico é para desmistificar o Carnaval
como Festa do Povão, apesar de aparentemente se manifestar deste modo, o
Carnaval sempre foi segregacionista. Os Blocos dos morros Carioca só vieram
descer, porque o antigo “Entrudo” resistiu a todo processo de desqualificação,
por parte dos grandes “Clubes Sociais da Elite Carioca”, que mais tarde os
incorporou como produto de consumo. Mas, ainda hoje temos gente com saudade dos
“Grandes Carnavais do Lítero, Associações, etc... Se, você espera voltar este
tempo para brincar na festa de momo, só se tiver isto na pátria celeste. O que
acho muito difícil e no “Sheol”, dizem que só tem fogo.
(Carnaval no Anfiteatro Dom Jacinto em Pedreiras/MA - Foto: Carlinhos Filho) |
Portanto, a forma de se fazer Carnaval mudou radicalmente,
mas não significa dizer que tal forma não possa ser RE-IN-VENTADA. Cultura se
recria. Como dissemos desde o início, com este ensaio se propõe, exatamente a
este fim, sobretudo por conta da primazia do Carnaval Produto em detrimento do
Carnaval Cultura, criado pela Indústria Cultural, aqui no Nordeste há uns 30
anos.
Destarte, diante do novo cenário carnavalesco que vejo às vezes
me pergunto: - Até quando seremos vítimas da Indústria Cultural? Quem sentenciou
que para se fazer um Carnaval tem que se comprar Abadás e Camarotes? Abadá
uniformiza, vira farda. Carnaval é uma festa do povo, ocasião em que as pessoas
fogem do cotidiano para extravasar suas fantasias reprimidas no inconsciente,
daí a razão das fantasias, onde cada um se fantasia de acordo com a sua. Para
ter Carnaval basta bater na lata e rufar o tambor. Cada um fazer sua fantasia e
seu “pileque” e cair na folia momesca. Você é obrigado a consumir somente a
bebida imposta pelos organizadores do Carnaval?
(Foto Ilustrativa Google Imagem) |
Camarote, mais do que ostentação é a expressão da segregação
social política e econômica. Pior ainda, é que pobre que gosta de bajular o “aparentemente
rico”, se vê obrigado, estar lá, nem que depois seu cartão esteja estourado,
mas se sente feliz, porque estava no Camarote desta ou daquela personalidade;
deste ou daquele político, que em época de campanha se “mistura” com “oves
et boves.”
(Prefeitura de Pedreiras/Foto Ilustrativa Google Imagem) |
Embora, se diga que as prefeituras recebam verbas para
investirem em Carnaval, onde está decretado que tem que ser uma Pseudo-Banda da
Bahia, do Ceará ou de outro lugar? Mas tem que ser famosa, mesmo que seja
banal. Pois, se a mídia que veicula a banalização da cultura disser qual é a
música do Carnaval e a banda, coitado do prefeito que não fizer isto, porque o
povo fica até revoltado. Não sou contra que prefeitura invista em Carnaval,
desde que faça um projeto para promover um carnaval que não seja vendido como
produto, mas como expressão da diversidade cultural do povo da sua cidade.
Infelizmente, alguns fazem um grande projeto para carrear verbas significativas,
depois fazem de conta que cumpriram, e, ainda contratam empresas de fachadas ou
parentes para venderem o Carnaval para um povo pobre e sofrido, que se vê
obrigado a comprar por preços exorbitantes os produtos oferecidos pelos
mercenários da cultura. E o restante da verba que não é aplicado, vai para
onde? “Responda quem souber.”
(Vista parcial da cidade de Pedreiras/MA, foto Google Imagem) |
Pedreiras é uma cidade de artistas nos mais diversos ramos da
cultura. Por que não se faz um Trio ou Banda, valorizando os talentosos
artistas de sua terra? Talvez, alguém diga: “Santo
de Casa não Faz Milagres”, pura ideologia do senso comum e dos medíocres.
Se, isto fosse verdade não teríamos a alegria de ver Médicos, Odontólogos,
Enfermeiros, Advogados, Engenheiros, Professores, Empresários e tantos outros
profissionais, filhos desta terra, atuando nas mais diversas áreas existentes
no seio da Sociedade Pedreirense. Superemos estes preconceitos ideológicos e
valorizemos o que temos.
(Foto: Google Imagem)
Até quando seremos
escravos da Indústria Cultural?
Oxalá, que um dia destes, sem bairrismo, vejamos nossos
artistas nestes eventos culturais, tendo um lugar debaixo do céu e o nosso povo
querendo que nossos governantes invistam sem medir esforços em Educação, Saúde,
Moradia, (construindo casas que não caiam logo após, um dia da entrega aos seus
futuros moradores), Segurança, Pagamento do Funcionário em dia, Geração de
Emprego e Renda, rompendo com o Corporativismo Político, atuando no serviço
Público quem tem competência, porque foi aprovado em um Concurso Público feito
por uma Universidade e não por uma Empresa de Educação Caça Niqueis.
(Foto: Google Imagem) |
Finalmente, queremos dizer que com o presente ensaio não
queremos negar a valorização do Carnaval, enquanto fato cultural, trata-se de
reforçar a ideia dos primeiros críticos da Indústria Cultural, Adorno e
Horkheimer, principais expoentes da Escola de Frankfurt, segundo os quais “A Apropriação da Cultura com fins de lucro
ocasiona sérias perdas com processos de homogeneização, padronização e serialização.”
Por isso, façamos soprar, tendo em vista
a reivindicação de uma nova forma de se fazer Carnaval em Pedreiras. POIS, PEDREIRAS TEM ARTISTAS, PEDREIRAS NÃO
PRECISA IMPORTAR ARTISTAS.
YES, WE CAN! (SIM, NÓS
PODEMOS)
Verdade como diz meu pai ja não se fazem mas Carnavais como antigamente...mas fazer o quê? temos que dançar conforme a música!
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