quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

CARNAVAL CULTURA VERSUS CARNAVAL PRODUTO

COLUNA DO EDILSON MACÊDO
(Edilson Macêdo, Professor Universitário/Foto: Joaquim Filho)

“TUDO QUE É SÓLIDO SE DESMANCHA NO AR”
Karl Marx 

Tudo é efêmero. Tudo passa. Porém, a nossa nostalgia humana às vezes nos faz andar para frente com os olhos voltados para traz. Por isso, é comum, ouvirmos expressões como: Antigamente era assim... Antigamente se tinha... Ah! Se fosse fulano... Ah! Se fulano voltasse... De tal forma que, ainda temos pessoas que gostariam que alguém que “do pó veio e ao pó voltou”, estivesse ainda à frente disto ou daquilo, “aí, sim, as coisas seriam diferentes.”

Caríssimo leitor(a) do blog do meu amigo Joaquim Filho, no qual resolvi publicar esse meu artigo, pela sua postura e por ser um meio de comunicação lido por pessoas que formam opinião e observam o mundo de uma outra maneira; a vida está em constante movimento. Tudo passa. Tudo muda. Por isso, esteja sempre aberto “espiritualmente”. Pois, como Belchior ou Elis Regina: “O novo sempre vem.” Só resta cantar: “Foi um rio que passou em minha vida.” Apesar de todos estes lamentos, “amanhã será um novo dia”, não tenha dúvidas! “The answer is blowing in the Wind.” (A resposta está esperando no vento – Bob Dyla).

Reinventar o Carnaval é preciso, (fazer soprar um novo vento), o que é diferente de voltar ao passado, fazer uma dialética entre passado, presente e futuro, tendo em vista a superação, sobretudo da primazia do Carnaval Produto em detrimento do Carnaval Cultura.

 O presente artigo que ora publicamos em um blog que abre espaço para se discutir e pensar a sociedade, não tem um caráter eminentemente científico, mas é fruto de leituras e reflexões de quem pretende apensas fazer um ensaio acerca do assunto, por isso está aberto a novas proposições.

O Carnaval até parece ter sido criado pelo povo brasileiro, sobretudo pela dimensão que ganhou mundialmente, a ponto de ser até copiado por outros países: não é sem razões que o universo popular se acostuma dizer que o Brasil é o país do Carnaval e do Futebol, porém, a história do Carnaval mostra o contrário.

Sem querer aprofundar de forma mais contundente a História do Carnaval é importante, embora de maneira simplista, termos uma noção desta, a fim de que possamos compreender a lógica deste pretenso ensaio.

(Carnaval de Rua Carioca/Foto Ilustrativa Google Imagem)

A História do Carnaval Brasileiro revela que suas primeiras manifestações ocorreram por volta do ano de 1723, através do “Entrudo” (do Latim – introito=introdução), isto porque durante o período quaresmal, ocasião em que os Cristãos-Católicos, a partir da quarta-feira de cinzas, são obrigados a praticar a abstinência, o jejum e a penitência, então, os imigrantes portugueses, principalmente vindos de Açores, de Cabo Verde e da Ilha da Madeira realizavam o “Entrudo”, também conhecido como “Os Dias Gordos”, visto que tal festa era bastante regada a grande abundância de vinho, carne e sexo. O “Entrudo” era também uma festa na qual as pessoas costumavam jogar umas sobre as outras, água, farinha, limão de cheiro ou qualquer outro produto que causasse um verdadeiro “mela-mela.”

(Os primeiros carnavais de clube no Brasil/Foto Ilustrativa Google Imagem)

Duas eram as formas de “Entrudo”, um no espaço privado e outro no espaço social. Na esfera do privado havia uma prática com regras bem definidas, entre elas a de que os Membros da Elite Familiar podiam jogar projéteis e líquidos sobre os Escravos, mas o contrário não. Aproveitando esses “dias de liberdade” as moças podiam manter contato com rapazes, desde que fossem do seu mesmo nível, ou melhor, de classe social; pois dali pudesse surgir um futuro casamento. Já na esfera social as ruas agregavam toda diversidade social: negros, pobres, prostitutas, escravos, etc... Porém, estes podiam jogar uns sobre os outros polvilho, pó-de-barro, águas de chafarizes, sarjetas, etc. Por isso, tal forma de “Entrudo” era mal visto pelas elites dominantes.

(Carnaval de Clube Elitizado no Brasil/Foto Ilustrativa Google Imagem)

Desse modo, a Elite Brasileira buscou na França um novo modelo de se fazer Carnaval, ou seja, o Carnaval de Baile de Máscaras, de tal modo que o primeiro aconteceu no dia 22 de janeiro de 1840 no Teatro Itália no Rio de Janeiro. Tal forma de Carnaval ganhou um caráter excludente e elitista, porque só podia participar quem era sócio de algum clube ou tivesse dinheiro para pagar o ingresso de entrada. Para os pobres e marginalizados a única opção era o Carnaval de Rua, com todas as suas consequências.

Então, este breve histórico é para desmistificar o Carnaval como Festa do Povão, apesar de aparentemente se manifestar deste modo, o Carnaval sempre foi segregacionista. Os Blocos dos morros Carioca só vieram descer, porque o antigo “Entrudo” resistiu a todo processo de desqualificação, por parte dos grandes “Clubes Sociais da Elite Carioca”, que mais tarde os incorporou como produto de consumo. Mas, ainda hoje temos gente com saudade dos “Grandes Carnavais do Lítero, Associações, etc... Se, você espera voltar este tempo para brincar na festa de momo, só se tiver isto na pátria celeste. O que acho muito difícil e no “Sheol”, dizem que só tem fogo.

(Carnaval no Anfiteatro Dom Jacinto em Pedreiras/MA - Foto: Carlinhos Filho)

Portanto, a forma de se fazer Carnaval mudou radicalmente, mas não significa dizer que tal forma não possa ser RE-IN-VENTADA. Cultura se recria. Como dissemos desde o início, com este ensaio se propõe, exatamente a este fim, sobretudo por conta da primazia do Carnaval Produto em detrimento do Carnaval Cultura, criado pela Indústria Cultural, aqui no Nordeste há uns 30 anos.

Destarte, diante do novo cenário carnavalesco que vejo às vezes me pergunto: - Até quando seremos vítimas da Indústria Cultural? Quem sentenciou que para se fazer um Carnaval tem que se comprar Abadás e Camarotes? Abadá uniformiza, vira farda. Carnaval é uma festa do povo, ocasião em que as pessoas fogem do cotidiano para extravasar suas fantasias reprimidas no inconsciente, daí a razão das fantasias, onde cada um se fantasia de acordo com a sua. Para ter Carnaval basta bater na lata e rufar o tambor. Cada um fazer sua fantasia e seu “pileque” e cair na folia momesca. Você é obrigado a consumir somente a bebida imposta pelos organizadores do Carnaval?

(Foto Ilustrativa Google Imagem)

Camarote, mais do que ostentação é a expressão da segregação social política e econômica. Pior ainda, é que pobre que gosta de bajular o “aparentemente rico”, se vê obrigado, estar lá, nem que depois seu cartão esteja estourado, mas se sente feliz, porque estava no Camarote desta ou daquela personalidade; deste ou daquele político, que em época de campanha se “mistura” com “oves et boves.”

(Prefeitura de Pedreiras/Foto Ilustrativa Google Imagem)

Embora, se diga que as prefeituras recebam verbas para investirem em Carnaval, onde está decretado que tem que ser uma Pseudo-Banda da Bahia, do Ceará ou de outro lugar? Mas tem que ser famosa, mesmo que seja banal. Pois, se a mídia que veicula a banalização da cultura disser qual é a música do Carnaval e a banda, coitado do prefeito que não fizer isto, porque o povo fica até revoltado. Não sou contra que prefeitura invista em Carnaval, desde que faça um projeto para promover um carnaval que não seja vendido como produto, mas como expressão da diversidade cultural do povo da sua cidade. Infelizmente, alguns fazem um grande projeto para carrear verbas significativas, depois fazem de conta que cumpriram, e, ainda contratam empresas de fachadas ou parentes para venderem o Carnaval para um povo pobre e sofrido, que se vê obrigado a comprar por preços exorbitantes os produtos oferecidos pelos mercenários da cultura. E o restante da verba que não é aplicado, vai para onde? “Responda quem souber.”

(Vista parcial da cidade de Pedreiras/MA, foto Google Imagem)

Pedreiras é uma cidade de artistas nos mais diversos ramos da cultura. Por que não se faz um Trio ou Banda, valorizando os talentosos artistas de sua terra? Talvez, alguém diga: “Santo de Casa não Faz Milagres”, pura ideologia do senso comum e dos medíocres. Se, isto fosse verdade não teríamos a alegria de ver Médicos, Odontólogos, Enfermeiros, Advogados, Engenheiros, Professores, Empresários e tantos outros profissionais, filhos desta terra, atuando nas mais diversas áreas existentes no seio da Sociedade Pedreirense. Superemos estes preconceitos ideológicos e valorizemos o que temos.

(Foto: Google Imagem)

Até quando seremos escravos da Indústria Cultural?

Oxalá, que um dia destes, sem bairrismo, vejamos nossos artistas nestes eventos culturais, tendo um lugar debaixo do céu e o nosso povo querendo que nossos governantes invistam sem medir esforços em Educação, Saúde, Moradia, (construindo casas que não caiam logo após, um dia da entrega aos seus futuros moradores), Segurança, Pagamento do Funcionário em dia, Geração de Emprego e Renda, rompendo com o Corporativismo Político, atuando no serviço Público quem tem competência, porque foi aprovado em um Concurso Público feito por uma Universidade e não por uma Empresa de Educação Caça Niqueis.

(Foto: Google Imagem)

Finalmente, queremos dizer que com o presente ensaio não queremos negar a valorização do Carnaval, enquanto fato cultural, trata-se de reforçar a ideia dos primeiros críticos da Indústria Cultural, Adorno e Horkheimer, principais expoentes da Escola de Frankfurt, segundo os quais “A Apropriação da Cultura com fins de lucro ocasiona sérias perdas com processos de homogeneização, padronização e serialização.” Por isso, façamos  soprar, tendo em vista a reivindicação de uma nova forma de se fazer Carnaval em Pedreiras. POIS, PEDREIRAS TEM ARTISTAS, PEDREIRAS NÃO PRECISA IMPORTAR ARTISTAS.
YES, WE CAN! (SIM, NÓS PODEMOS)










Um comentário:

  1. Verdade como diz meu pai ja não se fazem mas Carnavais como antigamente...mas fazer o quê? temos que dançar conforme a música!

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