Coluna do Padre José Geraldo Teófilo da Silva
Reitor do Santuário São Benedito/Pedreiras-MA.
Diante da realidade da morte, cobri-me da ousadia para poder conversar com você, amigo leitor.
Sinto-me desconfortável ao falar desse assunto, até em desenvolver esta mensagem, fico constrangido, às vezes vejo esse assunto como um tabu.
Meu texto parte da minha FÉ, pois sem FÉ, a morte é absurdo, inimigo, derrota, ameaça, humilhação, tragédia, vazio, nada...
Às vezes fico tentando esquecer que um dia alguém ou aqueles a quem amamos vão partir... E ao mesmo tempo, sinto, quando estamos em momentos felizes , percebendo a vida dando certo, os amigos juntos e o balsamo do Amor derramando em nossos corações, bate uma grande DOR em saber que podemos partir a qualquer momento, sem um gesto de despedida.
Quando tento concatenar as ideias nesse texto, vem muito forte a palavra INEVITÁVEL. Ao longo dos anos, aqui em Pedreiras-MA., venho percebendo a banalização da Vida! Assassinatos, aborto, eutanásia, violência... tudo NORMAL.
São Francisco de Assis achava que a morte é um bem, uma manifestação da sabedoria do Criador. Chamava-a de irmã. Agora entendo, porque morrer é uma experiência profundamente humana. Aliás, é a morte que confere um certo gosto e encanto à vida, pois se tudo fosse indefinidamente repetível, a vida se tornaria indiferente, insossa e até desesperadora.
Lembrei-me que Budha escreveu: “O homem comum pensa com indiferença na morte de um estranho, com tristeza na morte de um parente e com horror na própria morte.”
Um grande pensador chamado Epiteto, confirma muito bem aquilo que expomos: “Quando morre o filho ou a mulher do próximo, todos dizem: é a lei da humanidade. Mas, quando morre o próprio filho ou a própria mulher, o que se ouve são gemidos, gritos e lágrimas.”
Há os que preferem fazer da morte uma experiência soft, é a “morte-soft”, relegada aos hospitais, funerárias e religiões. Aí a morte é maquiada, relativizada pelas instituições, chamada também de “morte digna”. Muitos de nós vivemos uma “vida inautêntica”, uma existência falsa porque não nos permitimos refletir e aceitar a morte.
A dura realidade é que a morte faz parte da vida, é o fim do curso vital, é uma invenção da própria vida em sua evolução.
Sempre escutei dos grandes professores: “Para morrer bem, é preciso viver fazendo o bem.” “Levaremos a vida que levamos.” O bem é o passaporte para a eternidade feliz e o irmão que ajudamos será o avalista de nossa glória no céu: “Vinde, benditos.”
Quando celebro o dia 02 de Novembro, não quero de maneira alguma ser alienante, não pretendo ser doutor em metafísica e nem desejo esbanjar pós-doutorado em Escatologia. Pretendo que o Cristão que me acompanha sinta que este dia dos Fiéis Defuntos, não é uma invencionice de padres, mas remete às tradições do início do cristianismo, onde foram encontrados registros à partir do século II, quando em antigas tumbas e lápides podiam se encontrar grafismos com orações para aqueles que estavam enterrados.
No século V foi separado um dia para orar pelos mortos que não eram mais lembrados e ninguém mais rezava.
Os primeiros vestígios de uma comemoração coletiva de todos os fiéis defuntos são encontrados em Sevilha (Espanha), no séc. VII, e em Fulda (Alemanha), no séc. IX. O verdadeiro fundador da festa, porém, é Santo Odilon, abade de Cluny (França). A festa propagou-se rapidamente por todo estado francês e pelos países nórdicos.
Mas foi no Século XI durante o pontificado do Papa Leão IX que foi criado um dia onde todos os fiéis deveriam orar aos finados. Assim, o dia 02 de novembro seria estabelecido durante o século XIII, pois é logo após o dia de todos os Santos. Como no Dia de Todos os Santos oramos por aqueles Santos que não foram lembrados ao longo do ano, no Dia de Finados oramos pelos que morreram e não são lembrados durante todo o ano.
Se alguém contesta a oração pelos defuntos, sugiro uma leitura em II Macabeus 12,43-46 e Tobias 12,12, onde é relembrada a importância de orarmos por aqueles que se foram.
Não podemos dar mais ênfase a Morte do que a Vida, a Ressurreição de Jesus trouxe uma revolução em relação à morte, transformou o “poente em nascente”, Cristo “matou a morte”. Bem escreveu o poeta Turoldo: “Morrer é sentir quanto é forte o abraço de Deus.” E Santo Agostinho nos fala com muita convicção “Nada mais horrível que um eterno-retorno.”
A ressurreição nos garante que a morte não é uma aniquilação da vida, mas uma transformação. O homem vive para além da morte. Não precisa reencarnar. Creio na ressurreição da carne e no mundo que há de vir. A morte será então a maior festa da vida porque com ela dá-se o início da plena realização da pessoa humana. Habitaremos com Deus com um corpo incorruptível, espiritual e glorioso.
Com Santa Terezinha, todo cristão pode dizer: “Não morro, entro na vida.” A morte não é apenas um fim, ela é também e principalmente um começo. É o início do dia sem ocaso, da eternidade, da plenitude da vida. A vida é imortal espiritualmente falando. Na morte chegamos a ser plenamente como dizia a Santa das Rosas: “Teu rosto Senhor é nossa pátria definitiva.”
A Minha Igreja ensinou-me que para os que creem na eternidade, a morte é porta de entrada da vida, o acesso a uma realidade superior, a posse da plenitude.
Convido a todos para visitar o Cemitério com um sentimento de que Finados não é dia de lembrar como as pessoas morreram, MAS RECORDAR COMO ELAS VIVERAM.
Que a visita aos cemitérios seja para rezar a MEMÓRIA DO AMOR QUE FICA. E que as velas nos túmulos recordem que Jesus é LUZ PARA TODA VIDA.
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