domingo, 11 de abril de 2021

PEDREIRENSES PELO MUNDO: Coluna do Allan Roberth

 MORTE

Estamos vivendo dias difíceis em que as palavras mais recorrentes tem sido morte, falecimento, sentimentos, pêsames. 

Todos nós já experimentamos o gosto amargo dessa etapa da vida que se apresenta para nós, sem distinção, em todas as famílias. 

Aprender a lidar com o luto é uma tarefa difícil e os especialistas recomendam o enfrentamento do mesmo como etapa necessária para passar pela dor de perder um ente querido sem ficar com sequelas e aceitar tal realidade como parte inevitável da vida.

Claro que dependendo do grau de tragicidade envolvendo o falecimento, da aceitação do mesmo por conta da idade de quem vai, os velórios se tornam mais ou menos tristes. 

As mudanças ocorridas nos últimos tempos principalmente nas grandes cidades onde há uma tendência de fuga da realidade na hora da morte como funerais realizados fora das casas das famílias, o afastamento de crianças dos mesmos, as cremações com rituais reservados às famílias. Tudo isso tem nos colocado distante da morte mesmo sabendo que em algum momento ela se tornará próxima. 

O modo como os funerais tem acontecido nesse tempo de pandemia sem o tempo necessário de velar nossos defuntos e fazer as despedidas com rituais de costume, tem causado mais dor ainda às famílias. 

Diante de tudo isso, me pus a lembrar dos velórios da minha terra em que mesmo diante da dor da família podia-se fazer de tal evento um reencontro de parentes, amigos e conterrâneos. Não raro em alguns deles se tomava uma boa pinga na roda de conversa de amigos que varavam as noites em animadas prosas regadas a risos e animação.

Diante dessas lembranças quis relatar aqui algumas anedotas de velório. Todas verídicas ocorridas com esse que vos escreve e em solo pedreirense, na tentativa de provocar algum riso diante da tragédia da morte:

Estava eu num velório de um senhor paras as bandas da Prainha. O mesmo era frequentador da igreja e bem conhecido, ao passo que sua esposa, não. Naquela hora mais complicada da saída do caixão, eu estava na sala apertada bem próximo de uma senhora vizinha do morto. Diante daquele chororô todo, eu olho e vejo uma senhora ao lado do caixão e supus ser a viúva. Estranhei apenas o fato de se conservar tranquila, sem chorar naquele momento em que os filhos todos se esvaziam em prantos. Diante da cena eu me virei para a dona que estava ao meu lado e lhe perguntei:

- Essa senhora que está na cabeceira do caixão é a esposa dele? 

Ela responde que sim. Eu repliquei:

- Nossa, como ela é forte!!! 

Ao passo que minha confidente prontamente respondeu:

- Que nada! Com essa doença dele ela se abateu foi muito... está é magra!!!!

Um outro fato muito engraçado, não fosse a seriedade do momento, foi já na visita de sétimo dia de um jovem senhor em que a viúva, depois da reza do terço em volta da cova do finado, se pôs a chorar e lamentar a partida do seu amor. As palavras eram de cortar o coração e provocou as lágrimas de todos os presentes no ato de fé e piedade popular. Ajoelhada e abraçada com a cruz de madeira enfiada na terra nova e revirada, entre lágrimas, ela dizia em alta voz:

- Oh meu filho, tu me deixou sozinha com nossos filhos. O que vai ser de mim? 

Chorou, chorou... soltou a cruz, levantou-se depressa batendo a terra dos joelhos e disse:

- Mas é assim mesmo! - e com a mão aberta voltada para o túmulo e já saindo do local, disse: fica-te aí sem eu e nem ninguém meu por muito tempo...

Outro fato engraçado foi ao chegar no velório de uma parenta nossa, alguém que nos viu pequenos, a mim e meus irmãos, se admirou tanto de como estávamos e à proporção que descíamos do carro ia dizendo:

- Meu DEUS, eu não acredito que são os filhos do Antônio e da Raimundinha. Como estão grandes, bonitos!

A surpresa maior foi com uma das minhas irmãs, que na infância era muito magrinha. Ao vê-la sair do carro, sem a reconhecer direito, perguntou para a mesma quem era ela. Minha irmã disse o seu nome e a senhora admirada de como minha irmã engordara, disse com toda inocência própria das gentes do interior:

- Oh, minha filha, como tu tá bonita. Tá parecendo um avião da TAM.... kkkkkk

Por: Allan Roberth




























Um comentário:

  1. Parabéns! A vida é assim mesmo! Os velórios de antigamente eram diferentes no interior, muita comida e bebida,principalmente porque muitos parentes,vinham de longem passavam a noite toda velando sem cessar, os amigos todos juntos só no velório,as vezes passavam anos e anos ou nunca tinham tempo para visitar essa pessoa mais quando morriam achavam tempo.e agora com esse coronavirus os velórios estão mais distantes,Principalmente porque não podemos velar esse ante querido. A dor para uns é doloroso para outros não.principalmente porque a pessoa não é visto,são levadas direto para o cemitério hoje com as mudanças de não velar mais em casa tudo está diferente.

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