domingo, 18 de abril de 2021

PEDREIRENSES PELO MUNDO: Coluna do Allan Roberth

 ÊXODO

Há exatos 33 anos desembarcava no maior terminal rodoviário da América Latina, o Tietê, na capital paulista. Eu, menino de apenas 18 anos, nascido e criado na Rua da Boiada na pequena e pacata cidade de Pedreiras (MA), e que no máximo teria ido até Belo Horizonte participar de um congresso nacional de estudantes secundaristas no ano de 1985. 

(Foto ilustrativa FM Hostel, retirada da Internet em 18.04.2021, às 09h54)

Confesso que o primeiro olhar para aquela "Selva de Pedras" casava muito bem com um trecho da bela canção de Caetano Veloso, intitulada “Sampa”, que diz: “...E foste um difícil começo, afasto o que não conheço e quem vem de outro sonho feliz de cidade, aprende depressa a chamar-te de realidade.”

Os três dias e duas noites atravessando o país em um velho ônibus da viação Itapemirim passando pelos estados do Piauí, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e finalmente São Paulo haviam me deixado literalmente moído e aquele desembarque na noite de 17 de abril de 1988, uma sexta-feira, naquela rodoviária, um frio de matar me colocavam diante do que por anos imaginava ser aquele lugar que povoava minha imaginação como sendo o “vale do silício” brasileiro, sonho de todo nordestino.

(Foto ilustrativa Brasil de Fato, retirada da Internet em 18.04.2021, às 09h58)

Deixava para trás minhas três grandes paixões da época; família, amigos e minha cidade natal. E como foi difícil aquela despedida. Muitas lágrimas caídas da minha casa até a rodoviária carregando uma grande mala com poucas roupas e uma grande colcha de “chenille”, (chanil) como chamávamos no interior e que minha mãe me deu para enfrentar o frio de São Paulo, mal sabendo a pobrezinha que tal coberta jamais aguenta um frio tão intenso que naquele ano chegou a marcar até dois graus Celsius.

Na cabeça, um futuro idealizado com emprego, casa, novas amizades, e quem sabe um grande amor com quem constituiria uma família. Guardo boas lembranças da acolhida por parte da família do meu padrinho Saulo Cunha que viajou comigo para visitá-la na cidade de Guarulhos e que me recebeu nos primeiros dias em solo paulista. 

Depois fui atrás da minha tia que havia migrado para o sudeste ainda nos anos 60, e a qual eu tinha visto uma vez na minha vida quando da morte do meu avô paterno. Os primeiros meses foram de descobertas, aprendizado. Após 15 dias preso em um apartamento aguardando o dia em que um dos primos fosse comigo ao centro da cidade atrás de agência para procurar emprego, um belo dia decidi ir sozinho mesmo o que causou pavor em minha pobre tia com medo de que eu me perdesse. 

(Foto ilustrativa restirada da Internet em 18.04.2021, às 10h04)

Feitas todas as anotações de como retornar para casa parti com destino ao centro e qual foi minha admiração ao conhecer os arranhas céus da praça da Sé, Vale do Anhangabaú,  Avenida São João, Ipiranga, 23 de Maio. Senti-me pequeno demais diante de tanta grandeza. Porém, tal Caetano “...É que Narciso acha feio o que não é espelho” não me via ali naquele emaranhado de cimento e durezas.

Não demorou muito e estava eu enfrentando a dura realidade dos trabalhadores das grandes cidades. Conduções lotadas, horas perdidas no trânsito, frio das cinco da manhã nas paradas de ônibus e a parafernália de agasalhos para amenizar a temperatura baixa. E,  novamente  inserido na letra do poeta baiano; “...Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas. Da força da grana que ergue e destrói coisas belas.”

O amargo gosto da saudade da família e da terra natal vinham atormentar-me aos finais de semana talvez por conta da parada maior nas atividades. E tudo para mim era estranho pois faltava o principal; aconchego, proximidade, confiança. E eu achava tudo “...o avesso, do avesso do avesso.”

Não demorou muito para que eu tomasse a decisão mais acertada da minha vida, visto que diante da possibilidade de tornar-me mais um naquela imensa multidão de desprovidos, retornei à minha terra ainda que não na minha cidade de origem, mas na capital do meu estado. E Sampa para mim agora só quando posso retornar e como os novos baianos “...passear na tua garoa e te curtir numa boa.”

Allan Roberth
































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