domingo, 23 de maio de 2021

Pedreirenses Pelo Mundo: Coluna do Allan Roberth

 Quitandas 

Durante muito tempo elas foram presentes 

nas vidas de muitos pedreirenses e mesmo 

servindo de instrumento de abastecimento 

na relação econômica eram também o local 

do bate papo, de atualizar a conversa, de 

falar da vida; sua e dos outros também...

Como cenário tinham sempre um grande 

balcão que separava o dono do 

estabelecimento dos fregueses. Esse móvel 

geralmente em madeira maciça desgastado 

mostrava o sinal do tempo sobre si. 

Sobre ele uma balança, seus pesos e as 

folhas daquele papel marrom que servia de 

embalagem para os produtos. Geralmente 

ficava ainda sobre este um outro móvel com 

vidros onde ficavam expostos os pães 

revendidos ali.

Noutros um baleiro, giratório que guardavam 

os bombons, pirulitos e doces que faziam a 

alegria da criançada. 

As paredes geralmente enfeitadas com 

cartazes de propaganda, em sua maioria de 

cigarros e bebidas. 

Do lado de dentro as prateleiras nas 

paredes expunham os produtos; sabão, 

óleo, fumo, carteiras de cigarros, entre os 

mais conhecidos; Hollywood, Continental, 

Arizona, Minister. E muitas garrafas de 

bebidas; 

Cinzano, Pitu, São João da Barra, Velho 

Barreiro... 

Os sacos de estopa com a borda revirada 

para fora exponham os grãos; arroz, feijão, 

farinha, tapioca. Dentro deles o caneco com 

pegador de alumínio com o qual se levava o 

grão para ser pesado na balança. 

Embaixo do balcão as latas de manteiga 

real, as barras de sabão, os litros de óleo e as garrafas de cachaça para venda à 

retalho. Tudo para atender a freguesia que 

áquela época ainda sem geladeiras não

podiam armazenar os produtos e 

compravam tudo para o uso diário. Ou 

mesmo quem não podia comprar uma 

embalagem inteira e comprava em porções.

Era uma quarta de feijão, arroz, uma colher 

de manteiga, uma porção de óleo medida 

num copinho de metal que após cheio virava 

para dentro de recipiente que o freguês 

levava. Meia barra de sabão e uma dose de 

cachaça. 

O produto após pesado era embalado num 

grosso papel marrom que em forma de funil 

recebia os grãos e se transformavam em um 

embrulho bem costurado nas extremidades 

conforme a habilidade do proprietário.

Estamos falando e lembrando das antigas

QUITANDAS, estabelecimentos comerciais 

muito comuns nas décadas de 70, 80 e 90 

nas pequenas cidades do interior. 

Em Pedreiras elas eram muitas. Lembro 

especialmente as da rua da Boiada onde 

nasci e me criei. 

Tinha a do Sr. Edvaldo, Sr. Manoel, Sr. 

Lauzemiro, Sr. Luís Melo e a da minha 

madrinha Salete. Cada uma com sua 

característica e dependendo da simpatia do 

dono, dos preços, da demanda e de outros 

aspectos como a presença de sinuca eram 

escolhidas por seus frequentadores. 

Os homens se demoravam mais nesses 

ambientes, enquanto as mulheres 

geralmente iam se "aviar" de alguma 

necessidade da casa. 

Comum a todas era o caderno de anotações 

do "velho fiado" apesar das placas quase 

sempre presentes que mostravam um rico e um pobre e a frente 

das imagens os dizeres; ESTE 

FAZENDEIRO SÓ VENDIA NO DINHEIRO 

E ESTE COITADO SÓ VENDIA FIADO. Ou 

ainda; FIADO SÓ AMANHÃ...

As histórias de cada uma delas falavam da 

vida de seus frequentadores. As atrações 

variavam entre um doido chamado Gambá 

que diziam comer sabão e não dispensava 

um gole de cachaça.

As mentiras cabeludas de um dos donos 

citados que contava as peripécias de suas 

pescarias com dose de humor e mentira 

elevada ao cubo. 

Uma senhora alcoólatra que frequentemente 

passava pela rua e em cada uma dessas 

quitandas tomava uma dose, ouvia seu rádio 

em alto volume e em voz alta dizia 

palavrões para provocar os puritanos. 

Talvez sua forma de demonstrar sua revolta 

aos olhares que condenaram seu vício. 

Na lembrança de todos que viveram essa 

época as dificuldades, o dever de pagar o 

fiado e aquele cheiro típico de grãos, fumo e 

cachaça que ainda permeiam nossas 

mentes e bem longe dos grandes 

supermercados atuais, sempre lotados, frios 

e impessoais. 































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