sexta-feira, 14 de maio de 2021

PEDREIRENSES PELO MUNDO: Coluna do Carlos Augusto Martins Netto.

AS FRANCESAS E AS ITALIANAS

Por Carlos Augusto Martins Netto - Servidor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Farmacêutico, Escritor e Poeta.

Das muitas coisas de que gosto na vida, música é uma delas. As francesas me atraem com força: Aznavour, Cristophe, Becaud; e as italianas, também: Villa, Capri. 

Herdei, ou aprendi, esse gostar de meu pai, um grande amante da música. O coroa tinha know-how nesse assunto. Desde cedo, acostumei-me a ouvir canções eternas, dessas que nos forçam a deixarmos nossos corpos e mentes aqui e nos desdobrarmos a lugares inimagináveis, a nos remeter a experiências ainda não vividas ou que gostaríamos de experimentar e de trazer à tona lembranças muito caras.

Além disso, escrever sobre assuntos do cotidiano, sentimentos e saudades, também, são práticas que me servem como um divã particular. Aqui, tenho um universo completamente louco — no bom sentido — em que tudo consigo misturar, ao sabor de algumas cervejas geladas, e que dão vazão às cascatas de pensamentos que derramam selvagens diante de meus olhos. É uma viagem e tanto! 

Música e escrita, no meu caso, são coisas intimamente interligadas: a música meio que me impõe a escrita. Parece uma abdução embalada por harmonia e registrada em palavras que inscreverão o agora nas páginas da eternidade... e terão como personagens aqueles que permearam momentos inesquecíveis.

Outro dia, um sábado, estava em casa me preparando para assumir as tarefas culinárias — outra paixão — quando, de repente, apresentou-se irrefreável vontade de ouvir música. Mas não podia ser qualquer música, tinham de ser as nossas.

Peguei o celular, abri um daqueles aplicativos de música, cliquei na lista “Só o Filé” — que montei num outro momento com aquelas que ouvíamos juntos — e iniciei prazerosa visitação às nossas canções preferidas. Fui tomado de assalto... pela saudade! Que sentimentozinho sorrateiro! Quando menos esperei, já estava instalado e dando as cartas. Deixei a situação se desenrolar para ver aonde iria me levar. Olhei para o lado e vi que logo ali estavam meus fiéis companheiros desses momentos. Sim, minha caneta acompanhada de meu bloco de notas estavam ali, bem perto — já há algum tempo eles sempre estão por perto!

Tomei-a. Estava um tanto atônito, sem saber bem que fazer. Preparei-me e... uma música inundou o ambiente: “Una casa in cima al mondo”, coincidentemente, uma daquelas que cantava a plenos pulmões com meu pai e seu irmão, o Zé Buí. 

A mão coçou, ouvi um clique na cabeça e empreendi a escrita ouvindo aquelas que embalaram tantas histórias nossas. Vieram muitas. Nunca as tinha escutado daquela forma. Havia algo diferente. Parecia que faltava algo, mas o quê? Duas ou três depois, descobri que as ausências físicas estavam fazendo grande diferença e que nunca mais conseguiria ouvir aquelas canções da mesma forma que antes e que elas já não eram mais as mesmas. Gastei algum tempo tentando me acostumar à nova circunstância... e de repente, o universo me mostrou que seus mistérios são infindáveis e que ele está sempre disposto a nos pregar peças, pois quando terminei de escrever estava tocando Gilbert Becaud, outra das nossas. E veja só: “Au Revoir”.

Debrucei a caneta.






























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