domingo, 11 de julho de 2021

Coluna do Allan Roberth

 RESSIGNIFICAR

Ultimamente, algumas palavras têm sido muito utilizadas e ganharam destaque no linguajar e na vida das pessoas. Resiliência, Empatia, Ressignificação, são algumas delas e hoje quero refletir um pouco sobre a última citada.

 O ato designa atribuir um novo significado a algo ou alguém. Na verdade, durante toda a nossa vida nós fazemos isso mesmo sem ter consciência de tal fato. A nossa vida é marcada por atos de ressignificação que nos permite corrigir, alterar ou mudar o rumo de algo que se apresenta necessitado de nova roupagem, de novo rumo.

O prefixo RE, nos remete ao ato de engatar a marcha ré em um veículo para voltar, retroceder, voltar a um ponto. Isso se faz necessário muitas vezes quando estamos no controle de automóvel ou mesmo nalguma caminhada em que passamos do ponto ou esquecemos de parar para resolver algo.

Na nossa vida, em algum momento também precisamos retroceder, voltar atrás, dar ré, para continuarmos seguindo e ao fazer isso estamos sempre ressignificando algo, alterando o trajeto, fazendo algo novo, diferente. 

Já dizia o filósofo e pensador pré-socrático, “pai da dialética”, Heráclito de Éfeso (540-470 a.C); “Nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio, pois na segunda vez o rio já não é mais o mesmo, nem tão pouco o homem”. 

Ao dizer isso ele afirma que o mundo e a natureza são constantes movimentos. Tudo muda o tempo todo e o fluxo perpétuo (movimento constante) é a principal característica da natureza. 

Voltando ao passado podemos perceber a enorme diferença existente entre o nosso olhar de criança e o olhar atual para as coisas. Quando retorno à minha terra natal fico lembrando das minhas percepções infantis; literalmente falando, à cerca de quase tudo por lá existente.

A ladeira do Alto São José para mim era a maior do mundo. A torre da igreja matriz de São Benedito parecia tocar o céu varando as nuvens e a sua escadaria parecia não ter fim para as minhas pequeninas pernas.  A ponte sobre o Rio Mearim era a maior do planeta e a janela da frente da minha casa tinha na minha cabeça, a altura de uns três metros do chão. 

Hoje, em meu olhar de adulto, tudo perdeu a megalomania e já não carregam em si o espanto e a grandeza. Conscientes, ressignificamos as coisas que nos pareciam enormes, inalcalçáveis, intransponíveis. 

Em nossa experiência sentimental é comum ressignificarmos algo após uma tragédia, um trauma, um rompimento, uma perda. E a sabedoria adquirida nos faz ultrapassar, vencer, superar algo, pois a própria necessidade de sobrevivência exige de nós tal atitude. É preciso seguir adiante, buscar, caminhar, refazer-se.

Em tempos pandêmicos no qual estamos inseridos, o ato de ressignificar exigiu de nós atitudes, mudanças, busca por algo diferente. As lives no mundo artístico, as aulas e reuniões de trabalho em plataformas on-line e até os atendimentos médicos para orientação sobre o tratamento da covid. 

Tudo isso foram formas alternativas de vencer o isolamento e de maneira virtual, diferente, fazer algo que deveríamos fazer presencialmente, da maneira que estávamos acostumados.

O “novo normal” foi a forma achada de ressignificar as coisas no tempo presente, embora parecendo estranho, complicado, frio, diferente. O certo é que haverá sempre uma saída, uma luz no fim do túnel ou fora da caverna onde muitos preferem permanecer.


























Um comentário:

  1. Um belíssimo texto, com palavras bem claras, para o nosso bom entendimento.Parabens! Allan

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