domingo, 14 de novembro de 2021

PEDREIRENSES PELO MUNDO: Coluna do Allan Roberth

 MORTE E VIDA

O mês de novembro inicia-se com a comemoração do dia de todos os santos e em seguida o dia de finados. Essas são heranças do calendário cristão que penduram até hoje e mesmo sendo questionado, especialmente pelos capitalistas que não vêm sentido em um feriado para comemorar aqueles que já morreram e “parar” a economia de um país.

Confesso que ao longo dos tempos e com a secularização em torno da fé, esses feriados cristãos católicos foram perdendo o sentido levando-se em conta que para uma grande maioria “não praticante” a folga serve apenas para a diversão. Nada contra, pois como trabalhador também aprecio um dia para ficar “de boa” como se diz hoje.

Porém a reflexão que trago para essa temática é especialmente em torno da vida e consequentemente da morte. Dois grandes mistérios encarados de forma bem diversa nos âmbitos moral, social e religioso. A vida em todas as suas etapas; concepção, nascimento, crescimento, evolução e declínio é um bem inalienável e precisa ser protegida e vivida com dignidade. 

São tantas as instâncias em que se propõem a proteção e garantia de condições mínimas para a existência humana. A constituição brasileira em seu artigo 5° defende o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Embora a letra morta em um papel signifique vida quando se propõe a fazer políticas públicas que favoreçam a vida. Ou ainda o contrário quando em ambos; papel e realidade se promove a morte.

Coincidentemente ao mês em que consta o dia dos mortos, fomos surpreendidos pela comoção da morte de uma personalidade do mundo da música, juntamente com sua equipe em um acidente aéreo no último dia 5. A pouca idade da artista, sua fama e toda a escalada vertiginosa de um sucesso amplamente alardeado pela mídia, tudo se acabou em alguns minutos.

A vida e a morte tão próximas fez o Brasil parar revendo os últimos momentos da artista e o que se seguiu em torno da sua morte nos fez pensar em quanto é fugaz aquilo que temos de mais precioso e o quanto é certo aquilo que rejeitamos tão veementemente; a morte. E é natural que seja assim; não aceitamos a finitude da vida por sermos seres infinitos.

No âmbito religioso cristão, aprendemos que temos duas naturezas; a humana e a divina. Ambas coabitam em um corpo material que se finda restando a partir daí apenas a natureza invisível que será eterna. Em outras religiões se prega a reencarnação, a elevação. E todas enfim são o desejo humano de perpetuação. A rejeição ao fim da vida é uma forma natural de não aceitação da morte.

Vida e morte são realidades aproximadas em nosso cotidiano e muitas vezes desprezadas ou não refletidas como deviam por todos nós. Há na sociedade atual um claro distanciamento dessa condição em torno da morte. 

Os velórios em ambientes fora da casa onde a pessoa viveu toda uma vida, a proibição de crianças nesses ambientes funerários, a fuga de assuntos relacionados ao momento último de cada um, retratam bem esse afastamento em torno de algo tão natural como a vida.

A “paz” e a “áurea vazia” dos cemitérios deviam nos falar dessas questões em torno da vida. Ali se encerra tudo aquilo que carregamos de mal em nós. Certa vez vi uma descrição no portal de um que traduz bem o que quero dizer: “AQUI SE ENCERRA TODA A ARROGANCIA HUMANA”. E ainda no portal do mais antigo e famoso cemitério da capital maranhense, o do “Gavião” está escrito; “NÓS, OS OSSOS QUE AQUI ESTAMOS PELOS VOSSOS ESPERAMOS"

No mês em que também comemoro o meu natalício ficou marcado em mim a partida do meu saudoso pai, um dia após o meu aniversário. Ao longo desses nove anos de separação, questionando, tentando entender o porquê dessa infeliz coincidência me deparei com essa reflexão em torno da vida e da morte. Dessa proximidade e coexistência e apesar da dor posso dizer que aprendi ainda mais sobre uma e outra.

A alegria está sempre perto da tristeza, a dor sempre ao lado do prazer, a vida tão próxima da morte. Assim é nossa realidade humana e não há como fugir dela. Resta-nos a sabedoria para lidar com ambas. Resta-nos a aceitação. São Tomás de Aquino em seus tratados filosóficos nos ajuda a compreender bem isso. Ele diz que; “Quando o mistério é grande demais, nada mais nos resta a não ser nos rendermos a ele”

Que assim façamos diante do grande mistério de viver e morrer. E que vivamos bem para morrermos bem. Em paz conosco, com o universo e tudo que ele nos favorece.





















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