TONHA
Avisada por um menino do que estava acontecendo, Tonha desceu o Morro correndo em meio à chuva, trovões e relâmpagos naquela tarde de céu escuro. As pernas trêmulas debaixo do vestido marrom surrado, no pescoço o símbolo maior da sua fé nordestina; o "rosaro" de pequenas contas azuis entrecortadas por outras cinquenta branquinhas maiores finalizadas por uma medalha dessas bem simples com a imagem do Coração de JESUS gravada em seu corpo.
Lá embaixo mal podia acreditar no que via; em meio à lama formada pela água da chuva que rolava Morro abaixo estava quadro de Santa Luzia que trouxera de Juazeiro do Norte, sua terra natal e presenteara sua afilhada Jacinta que nasceu com uma "vilidia" nos olhos e estava condenada a não enxergar. Sua mãe muito triste fora encorajada por Tonha a "se valer" com Santa Luzia que é a protetora dos olhos. Logo ela prometera que se a menina enxergasse lhe faria festejo todo ano com reza, procissão e bolo com aluá para servir ao povo no dia da santa.
Ao ver o quadro molhado, depressa o agarrou e apertando-o ao peito procurou enxugá-lo com a barra do seu vestido. Já debaixo da biqueira da casa de Jacinta, gritou;
- Minha filha o que fizeste??? Por que essa maldade com a santinha???
Jacinta se debruçou na janela e respondeu;
- Ah! Minha madrinha, agora sou crente, aceitei JESUS e vou me casar com um rapaz da Assembleia de DEUS.
Tonha abraçada ao quadro da santa lhe disse;
- Oh! minha filha, você pode casar com quem quiser mas não precisava fazer isso com o quadro daquela que lhe valeu. Se minha comadre fosse viva não deixava isso acontecer.
E subiu o morro levando consigo a "santinha". Contou o acontecido ao marido, um velho pintor dos bons que fazia paisagens para enfeitar as paredes de madeira da casa suspensa no topo do morro.
- Que maldade! Bradou o marido afeiçoado a imagens e pinturas e já levantando da sua cadeira preguiçosa para arrumar um canto onde ficaria o quadro da linda santinha.
Tonha com sua voz rouca que lhe forçavam as veias do pescoço para falar foi logo dizendo;
- Não se preocupe minha santa querida, vou assumir o prometido por minha comadre. Dagora em diante vai ter novena no mês de dezembro e no dia 13 a procissão com seu quadro e bolo com aluá para todos que vierem participar. Os vizinhos aplaudiram e se benzendo beijavam os dedos e tocavam o quadro já exposto na parede da casa.
E quando chegava dezembro, durante nove dias se ouvia de longe os benditos e rezas que Tonha e a vizinhança entoavam.
No dia 13 todo o povo de perto vinha acompanhar a procissão também pensando no bolo gostoso acompanhado pelo aluá que era preparado dias antes nos potes de barro cheios de abacaxi e cobertos por pratos, fermentando ali para a preparação da bebida.
O morro se animava com as bandeirinhas tremulando e os foguetes estourando anunciando a festa. É lá ia a santinha em seu andor toda ornada de flores feitas de papel crepom fazer o seu passeio anual. Da lama ao andor ela seguia lindamente arrumada. E a voz rouca de Tonha era ouvida de longe entoando o bendito. "Tinha um curto da vista, se vendo com agonia. Caminha curto da vista vem ver a Santa Luzia"
Já era noite e o Morro em festa se despedia do esperado 13 de dezembro com Avisada por um menino do que estava acontecendo, Tonha desceu o Morro correndo em meio à chuva, trovões e relâmpagos naquela tarde de céu escuro. As pernas trêmulas debaixo do vestido marrom surrado, no pescoço o símbolo maior da sua fé nordestina; o "rosaro" de pequenas contas azuis entrecortadas por outras cinquenta branquinhas maiores finalizadas por uma medalha dessas bem simples com a imagem do Coração de JESUS gravada em seu corpo.
Lá embaixo mal podia acreditar no que via; em meio à lama formada pela água da chuva que rolava Morro abaixo estava o quadro de Santa Luzia que trouxera de Juazeiro do Norte, sua terra natal e presenteara sua afilhada Jacinta que nasceu com uma "vilidia" nos olhos e estava condenada a não enxergar. Sua mãe muito triste fora encorajada por Tonha a "se valer" com Santa Luzia que é a protetora dos olhos. Logo ela prometera que se a menina enxergasse lhe faria festejo todo ano com reza, procissão e bolo com aluá para servir ao povo no dia da santa.
Ao ver o quadro molhado, depressa o agarrou e apertando-o ao peito procurou enxugá-lo com a barra do seu vestido. Já debaixo da biqueira da casa de Jacinta, gritou;
- Minha filha o que fizeste??? Por que essa maldade com a santinha???
Jacinta se debruçou na janela e respondeu;
- Ah! Minha madrinha, agora sou crente, aceitei JESUS e vou me casar com um rapaz da Assembleia de DEUS.
Tonha abraçada ao quadro da santa lhe disse;
- Oh! Minha filha, você pode casar com quem quiser mas não precisava fazer isso com o quadro daquela que lhe valeu. Se minha comadre fosse viva não deixava isso acontecer.
E subiu o morro levando consigo a "santinha". Contou o acontecido ao marido, um velho pintor dos bons que fazia paisagens para enfeitar as paredes de madeira da casa suspensa no topo do morro.
- Que maldade! Bradou o marido afeiçoado a imagens e pinturas e já levantando da sua cadeira preguiçosa para arrumar um canto onde ficaria o quadro da linda santinha.
Tonha com sua voz rouca que lhe forçavam as veias do pescoço para falar foi logo dizendo;
- Não se preocupe minha santa querida, vou assumir o prometido por minha comadre. Dagora em diante vai ter novena no mês de dezembro e no dia 13 a procissão com seu quadro e bolo com aluá para todos que vierem participar. Os vizinhos aplaudiram e se benzendo beijavam os dedos e tocavam o quadro ja exposto na parede da casa.
E quando chegava dezembro, durante nove dias se ouvia de longe os benditos e rezas que Tonha e a vizinhança entoavam.
No dia 13 todo o povo de perto vinha acompanhar a procissão também pensando no bolo gostoso acompanhado pelo aluá que era preparado dias antes nos potes de barro cheios de abacaxi e cobertos por pratos, fermentando ali para a preparação da bebida.
O morro se animava com as bandeirinhas tremulando e os foguetes estourando anunciando a festa. É lá ia a santinha em seu andor toda ornada de flores feitas de papel crepom fazer o seu passeio anual. Da lama ao andor ela seguia lindamente arrumada. E a voz rouca de Tonha era ouvida de longe entoando o bendito. "Tinha um curto da vista, se vendo com agonia. Caminha curto da vista vem ver a Santa Luzia"
Já era noite e o Morro em festa se despedia do esperado 13 de dezembro com crianças felizes e de bucho cheio já pensando no próximo ano.
(Minha homenagem a madrinha Tonha, rezadeira das boas das bandas da Rua da Boiada em Pedreiras-Ma)
Allan Roberth. 13/12/20
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