domingo, 27 de março de 2022

Coluna do Allan Roberth

 A FALSA VIDA REAL





Esses dias escutei no rádio uma música dessas atuais que não me agrada muito, nem o ritmo e muito menos a letra. Porém, essa me chamou a atenção por colocar uma verdade que passa despercebida; dizia mais ou menos assim: "Cê posta que tá bem, eu posto que tá massa. Cê posta no barzinho, eu posto na balada, mas os dois tão sozinhos da Silva. Nós somos dois postadores de mentira."

Então, fiquei a pensar naquilo que vejo diariamente nas redes sociais e no que se tornou a vida de muitos com a chegada da internet e do acesso às mídias sociais.

Hoje, a maioria da população tem um celular com câmera fotográfica e acesso à internet, o que permite todo tipo de postagem possível: das mais interessantes às mais ridículas; das mais instrutivas às mais deploráveis.

É certo que a liberdade de expressão defendida por muitos dá voz e vez à uma multidão de anônimos e não raro alguns ascendem do dia para a noite através de postagens que "bombaram" por seus conteúdos esdrúxulos ou mesmo interessantes.

A vida de alguns, como do menino maranhense da cidade de Pinheiro, que foi flagrado em dezembro último, no lixão do seu municipio, com uma árvore de Natal na mão, mudou consideravelmente após a divulgação da foto feita por um fotógrafo paraense, que viu naquela cena triste uma realidade vivida por crianças e adultos desse Brasil imenso, mergulhado numa crise sem precedentes e que encontram no lixo a sua subsistência.

Outros ainda por conta de seus talentos e que outrora anônimos, conseguiram visibilidade através das mesmas redes que têm servido tanto para elevar como para derrubar.

Relembro aqui os primeiros anos da sociedade brasileira com a participação da internet onde alheio às leis; até porque não havia legislação específica para os crimes digitais, a população postava tudo que suas câmeras eram capazes de captar.

Hoje, felizmente há uma legislação própria para os crimes de natureza virtual que  responsabiliza os ávidos por divulgar e repassar notícias e vídeos que prejudiquem alguém.

A reflexão que fomento é a sede de postagens as quais não condizem com a vida real de muitos e que expõem, invadem e prejudicam.

Essa semana o Brasil inteiro assistiu a um episódio em que um mendigo foi violentamente espancado por um marido furioso ao flagrar a esposa, que segundo o mesmo, tem problemas mentais,  mantendo relações sexuais com o morador de rua dentro do carro.

O episódio expôs a vida do casal e exaltou o feito do mendigo que fez sexo com uma pessoa de classe média. Avesso a tudo que está acontecendo no mundo, como a triste guerra que devassa a Ucrânia, promovida pela poderosa Rússia. Ao preço da gasolina que nunca esteve em níveis tão altos, a sociedade brasileira se manteve presa ao episódio do mendigo de Brasilia, se esbaldando em postagens e memes ridicularizando ainda mais a bizarra história.

Tudo isso nos faz questionar que tipo de pessoas somos e o que faz nossa gente ter comportamentos tão escusos e invasivos? Somos mesmo um povo que exalta a mesquinhez e vive de simplorismos? Ou ainda não aprendemos a viver com a tal liberdade que julgamos ter mesmo que ela invada a vida privada de outrem?

A real vida falsa das redes sociais mais acostumada com fotos do que com textos, com exposição do que com reflexão, persiste e nos deixa estarrecidos a cada novo fato dessa vida virtual.

Um comentário:

  1. texto muito bem elaborado, pensamento coerente com os tempos líquidos pelo qual vivemos.

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