terça-feira, 6 de dezembro de 2016

JOÃO DO VALE E SUA RELAÇÃO COM OS ARTISTAS E O POVO DO MARANHÃO

Uma amizade de 25 anos
(Foto retirada do Google Imagem) 

As informações do endereço que eu tinha era esse: Ferro de Engomar, no Beco Escuro, no Studio Via Brasil, ao lado da Fundação Dilu Melo. Assim, sai pelas ruas de São Luís do Maranhão à procura de um dos maiores compositores e cantores do Maranhão. A data era dia 15 de outubro de 2010, uma sexta-feira, no período da manhã.

(Foto retirada do Google Imagem)

Quando fui à procura de Rogério já se tinha a informação de que o compositor sabia e sabe muito sobre João do Vale. Finalmente encontrei Rogéryo Du Maranhão, jornalista, cantor, compositor, poeta, membro da Academia Vianense de Letras e produtor cultural. Um homem simpático, fino, inteligente e de uma educação fora do comum. No seu Studio Via Brasil, no Beco Escuro pude logo perceber a relação de amizade com João do Vale, onde se veem fotos e recortes de jornais dos dois por todos os lados, expostas nas paredes.

(Foto retirada do Google Imagem)

Ao tomar conhecimento que eu pretendia falar de João do Vale, o cantor Rogéryo Du Maranhão ficou muito satisfeito e se prontificou a colaborar com esse trabalho monográfico. Falei a Rogério que não se tratava de entrevista, mas que o cantor pudesse ficar à vontade para falar de João e depois seriam transcritas para a pesquisa monográfica as informações que fossem mais necessárias e cabíveis ao trabalho. Sentado numa cadeira preguiçosa, o cantor e compositor narrou:

A minha convivência com João do Vale foi de 25 anos ininterruptos. João não fazia amizade fácil com ninguém; ele era arredio, desconfiado, e sabia que muita das pessoas que se aproximavam dele era para tirar proveito. Ele era muito inteligente, não tinha nada de besta como muita gente pensa. Todos os detalhes da vida de João, eu sei. Os filhos dele só sabem a metade da sua vida. Tornamo-nos amigos no ano de 1979, em São Paulo. Eu já o conhecia, e o via muito aqui em São Luís, na verdade ele era amigo mesmo era do meu pai José Pereira Gomes que era promotor e atualmente procurador da justiça. Certo dia em São Paulo, pela manhã, bem cedo, eu descia a Rua da Consolação e vejo um sujeito sentado num banco de uma praça, lendo um jornal de cabeça para baixo, era João do Vale. Falei com ele e o mesmo perguntou quem eu era, e quando lhe disse, ele logo gostou de mim, foi amor à primeira vista. Em seguida, ele me convidou para ir a um bar tomar uma, eu lhe respondi que àquela hora não, mas que ele ficasse à vontade. Eu tomei um café e João pediu um leite 51, que era cachaça. Lembro-me de um caso que ele teve com uma israelense chamada Viviane, a mesma que estava com ele quando teve o derrame pela primeira vez. Uma vez ele me chamou para ir numa festa na casa de um jornalista, no Morumbi. João mesmo bêbado foi capaz de perceber que a mulher do jornalista estava dando em cima de mim. Ele me chamou num canto e me disse: “Não aceite a provocação dessa mulher, você está vendo que o esposo dela está nos recebendo muito bem; e tem mais: amizade é coisa sagrada. Essa atitude de João eu nunca esqueci, ele era um gênio, inteligente e sabia das coisas.” (ENTREVISTA COM MARANHÃO, 2010).


Por alguns instantes a conversa com Rogéryo Du Maranhão fora interrompida, pois a todo instante chegava uma pessoa, um artista à sua procura, e todas as vezes que isso aconteceu, o cantor de forma educada pedia licença e ia atender aos seus amigos. Em seguida, voltava, prosseguindo assim seus relatos sobre os momentos de sua amizade com João do Vale:

“Só para você ter uma ideia, amigo, eu ainda hoje me lembro do endereço de João: Avenida Noroeste, conjunto Rosa dos Ventos, Nova Iguaçu – Rio de Janeiro. A casa de João era bem arrumada, a esposa dele, a Dona Domingas era muito caprichosa nas coisas. A casa tinha uma sala com sofá, cristaleira, dois quartos, banheiro, cozinha grande. Na geladeira de João não faltava surubim, tatu, peba; era farta e tinha bastante alimentação. No quintal havia muitas plantações e canteiros com as ervas típicas do Nordeste. Dona Domingas, esposa de João, pensava antes de me conhecer que, eu era um negro, velho e gordo. Ela me disse certa vez que João falava muito em mim, que ela chegou a pensar que eu era de algum morro do Rio de Janeiro. Vi numa tarde, na casa de Chico Buarque o Tom Jobim chegar e ir direto falar com o João. Aquilo me impressionou muito, Como aquele negro tinha prestígio com os grandes da MPB!” (ENTREVISTA COM MARANHÃO, 2010).

Quando eu falei com Rogéryo Du Maranhão se ele tinha feito alguma música com João, ele disse que fez uma, mas não saiu, não gravaram. O nome da música é Calça no Rendengue que fez questão de recitar a letra: “Pequeno, caminhando no vento com a calça no rendengue e o chamató na mão. No bolso, só bolinha de vidro, baladeira no pescoço, danisco e resmungão, assuviando, passarinhando, bico de brasa, juriti e corrupião. Agora em sonhos, me vi menino, feliz rumei pra São Luís do Maranhão.” (ENTREVISTA COM MARANHÃO, 2010).

Perguntei acerca de detalhes sobre o forró forrado, e Rogéryo falou da participação que teve e de mais momentos que presenciou de João do Vale:

“O forró forrado foi um tempo muito bom na carreira musical de João e de muitos artistas que frequentaram aquele espaço, inclusive eu. Nessa época eu morava no Flamengo, bem próximo do local onde acontecia o forró forrado, no Catete. O evento acontecia as terças e quintas-feiras. Um dia eu fui com João do Vale jogar no campo de Chico Buarque e quem estava lá era o Bob Marley. Vi João do Vale jogar bola com Bob Marley.” (ENTREVISTA COM MARANHÃO, 2010).

Rogéryo Du Maranhão encerrou a sua colaboração com esse trabalho dizendo que adora Pedreiras, que se pudesse iria mais vezes à terra do seu grande amigo; que João do Vale foi um dos seus grandes amigos. Falou ainda que quando ele morreu, esteve velando-o em São Luís, que pegou no caixão para colocar no carro que levaria o corpo para Pedreiras, mas não pode acompanhar o grande amigo da sua vida para sepultá-lo na sua terra natal.  

Fonte: Trecho da Monografia defendida na FAESF em 2010 - Joaquim Filho 




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