90 ANOS DE TOM JOBIM
((Crédito da imagem: reprodução da arte gráfica do álbum Stone flower) |
Por mais que já soe
como clichê, o epíteto maestro soberano traduz com fidelidade a supremacia de Antônio
Carlos Brasileiro de Almeida Jobim (25 de janeiro de 1927 – 8 de dezembro de
1994) no cancioneiro brasileiro. Tom maior da música produzida no Brasil na
segunda metade do século XX, Jobim foi dos grandes compositores do mundo. Um
gênio que deixou vasta coleção de obras-primas. Tanto que hoje, 25 de janeiro
de 2017, dia em que o universo pop festeja o 90º aniversário de nascimento
deste carioca que tinha a origem brasileira no sobrenome, já não vale mais o
clichê de que o Brasil perdeu o tom. Sucessivos álbuns dedicados ao cancioneiro
de Jobim – lançados por Vanessa da Mata em 2013, Chitãozinho & Xororó e
Vinicius Cantuária em 2015, Carminho em 2016 e Danilo Caymmi e Fernanda Cunha
neste mês de janeiro de 2017, para citar somente alguns recentes discos de
artistas brasileiros como o que uniu Caetano Veloso e Roberto Carlos em 2008 –
sinalizam que a música do maestro está viva e continua sendo ouvida e gravada
no Brasil e no mundo.
(Foto: O Globo) |
Sim, o cancioneiro de Jobim reina e paira soberano acima dos caprichos
mercadológicos do universo pop. Jobim compôs a trilha sonora de um Brasil que,
ao menos na música, deu certo no século XX. Um Brasil que começou a ficar industrial
e musicalmente moderno no período em que o compositor esteve em cena, do início
da década de 1950 até 1994. Só que, se o país desandou, a modernidade da música
do compositor permaneceu atemporal, associada à revolução estética da Bossa
Nova, mas não restrita ao cancioneiro cheio de bossa apresentado por João
Gilberto em 1958. Até porque a música sempre viva de Jobim também está
entranhada nas matas, sofre a benéfica influência do jazz, flerta com a música
clássica (Saudade do Brasil,
sublime tema instrumental de disco de 1976, explicita tal aspiração) e bebe da
fonte do cancioneiro de outro soberano compositor carioca, Heitor Villa-Lobos
(1887 – 1959), maestro erudito que saiu de cena quando Jobim estava em plena
ascensão com a composição de obra autoral impregnada de beleza tão universal
que foi capaz de inserir o Brasil definitivamente no mapa-múndi da música a partir de 1963, ano da gravação, nos EUA, do álbum The composer of Desafinado plays, pedra inaugural da
obra fonográfica de Jobim.
(Foto: O Globo) |
A música de Jobim é por vezes carioca como o compositor, como evidenciam o Samba do avião (1962),
a Garota de Ipanema (Antônio
Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1962) e o jeito de andar da musa inspiradora
de Ela é carioca (Antônio
Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1963). Mas essa obra também tem canções de
um amor demais que
podem ter nascido em qualquer parte do mundo ao mesmo tempo em que é, também,
uma obra bem brasileira, do ecológico Brasil rural de Matita Perê (Antônio
Carlos Jobim e Paulo César Pinheiro, 1973).
(Tom Jobim com João do Vale cantando em um almoço/Foto: O Globo) |
Urbano ou rural, o cancioneiro de Jobim sempre foi pautado pela sofisticação
melódica e harmônica – requinte contrabalançado pela habitual coloquialidade
das letras (nesse quesito, a parceria com o poeta Vinicius de Moraes foi
fundamental). Jobim fez música refinadamente popular. Por isso, a obra do
maestro continua soberana e viva no momento que são celebrados os 90 anos de
nascimento do compositor. Jobim foi gênio que soube celebrar a vida numa música
bela e moderna, destinada a ser eterna. A vida é breve. Mas a arte, se
verdadeira como a música de Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, é
sempre longa.
Fonte
G1 – Por Mauro Ferreira
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