domingo, 5 de novembro de 2017

FESTA DA MENINA MOÇA NA ALDEIA KWARAHY-SOL, TERRA INDÍGENA RODEADOR.

A MAIOR FESTA CULTURAL E TRADICIONAL DOS ÍNDIOS GUAJAJARAS DE BARRA DO CORDA-MA ACONTECEU NESSE FIM DE SEMANA




(Moquiado, a Festa da Menina Moça/Foto: Joaquim Filho)

Três horas da madrugada de sexta-feira, dia 03 de novembro de 2017, o despertador do celular anuncia que está na hora de se levantar, se arrumar, pegar a mochila, colocar nas costas e subir na moto rumo à cidade de Barra do Corda, estado do Maranhão e viver mais uma aventura entre tantas já realizadas nesse meio século de nossa vida. O destino é a Aldeia Kwarahy-Sol, distante a 38km de Barra do Corda, estrada de chão, muita poeira, lama, areia, pedra, mata fechada, lugar que só vai mesmo quem sabe o grande significado de estar em um local como este.  

(Nossa chegada na Aldeia depois de uma longa viagem cansativa, mas que vale a pena/Foto: Marta Guajajara)

Saímos de Pedreiras às 4h da madrugada em ponto, de moto, devagar, sem pressa, pois nesse horário e a qualquer momento a estrada é sempre muito perigosa. Mas fomos com a proteção de Deus e muita fé que seria uma viagem abençoada por Ele. Chegamos em Barra do Corda-MA às 8h, e ao chegar, fomos na carroceria de um caminhão até o local onde fica a Aldeia e onde seria realizada a festa que estava marcada para o seu início às 15h. De Barra do Corda até a Aldeia são 38km de estrada de chão, caminhos que só faz quem conhece e que só entra quem vai com alguma missão e com prévio aviso para evitar problemas. Em outras palavras para sermos bem claro: ali só entra quem vai com a missão de fazer o bem e quem leva no coração e na alma o respeito para com esse povo, sua terra, sua tradição e a sua cultura. Do contrário, não vá, nem pense ir. 
(Estrada de 38km que leva até a Aldeia/Foto: Joaquim Filho)

Debaixo de muito sol e muito sacrifício, finalmente, às 12h30 chegamos na Aldeia que já estava em festa. Todos os índios da redondeza já estavam presentes. Muita alegria, muita cantoria, manifestações, rituais, foguetes, muita comida, bebida e muita fatura em todos os sentidos. Tinha que ser assim, já estava com sete anos que essa festa não era realizada. A última que aconteceu foi em 2010, e nós estivemos presente e fizemos a cobertura para as redes sociais. E, sete anos depois, com a graça de Deus, eis que estamos novamente fazendo parte da história desse povo. 

(Barracão de madeira e palha, local onde as meninas moças passam dias esperando o momento da festa/Foto: Joaquim Filho)

Esse é o barracão onde as meninas já estavam há vários dias esperando o grande momento para a saída e se apresentarem à comunidade indígena como agora as mais novas moças, mulheres, que segundo a cultura e a tradição, prontas para serem mulheres, casarem, serem mães e geradoras da continuidade e da perpetuação da raça indígena. Aqui ninguém entra sem a autorização da Cacique ou da mãe da mesma, a senhora Kassi, respeitada por todos na Aldeia. 

(Meninas Moças se preparando com suas vestes típicas e com o auxílio das mães e dos familiares. Estava chegando o momento da aparição, da dança e da festa que iria acontecer das 15h às 19h/Foto: Joaquim Filho)


Esse momento foi o de maior honra, confiança e respeito para com a nossa pessoa, o nosso trabalho de blogueiro e como amigo do povo indígena. Dona Kassi manda a sua nora Marta Guajajara solicitar a nossa presença dentro do Barracão para fazer as imagens. Um ato de muita responsabilidade já que ali não pode entrar ninguém a não ser as mães e irmãs das Meninas Moças que naquele momento tem sua intimidade exposta, com o seu corpo que passam por um processo de pintura e colagem das penas. Então, privacidade nessa hora é o mais importante. 




(Kalinny/Foto: Marta Guajajara)



Às 15h em ponto, o sol ainda estava muito quente, começa uma grande concentração na porta de saída do barracão. As meninas já estão todas prontas, vestidas a caráter para a grande festa, o grande momento da celebração da passagem para a vida adulta. Os pajés começam a se concentrar em frente ao barracão e começam a cantar na língua. Os foguetes começam a ser estourados. Todos saem de suas casas e começam a chegar e se concentrarem a frente do barracão. Quando a porta do barracão se abre, eis que surge o pajé trazendo as meninas e começa a festa. 



(Momento da saída do barracão/Foto: Joaquim Filho)

É um momento mágico e indescritível. Há muita emoção nessa hora. Eles vão ao êxtase e todos cantam, dançam, pulam, sorriem, choram e se abraçam de uma forma que só os espíritos da floresta são capazes de explicar.  A primeira aparição foi na tarde da sexta-feira, 3, retornando para o barracão somente às 19h, para sair somente no outro dias às 5h da manhã. 

 (Foto: Joaquim Filho)

Na manhã do sábado, dia 4, antes que o sol nascesse e antes do canto do galo, todos já estavam de pé. As Meninas Moças mais uma vez iriam sair do Barracão e fazer a última apresentação da festa. Estava chegando o fim do ritual. 

(5h da manhã do dia 4/11, a comunidade toda acorda para a última dança da festa/Foto: Joaquim Filho)

O QUE É O MOQUIADO E O QUE SIGNIFICA A FESTA DA MENINA MOÇA PARA OS ÍNDIOS

(Rhennoyro, filho do saudoso Cacique Soriano Pompeu. Na festa lamentou muito a ausência física do pai e chorou a sua falta)

"A moça Guajajara, ao menstruar pela primeira vez, tem o seu corpo inteiramente pintado com o sumo do jenipapo, uma fruta silvestre que espalhada pelo corpo, depois de algumas horas, fica de cor azul escuro intenso.

A partir do momento em que ela recebe a pintura no corpo, realizada pela avó materna ou pela própria mãe, a moça cumprirá uma dieta alimentar rigorosa. Ela ficará de repouso num quarto escuro durante oito dias, sem poder sair. Lá, ela receberá suas refeições, visitas, e um conjunto de conselhos dados por sua mãe, tias, e avós. Após esses dias, ela sairá do seu quarto de manhã bem cedo. Iniciará a correr pela aldeia, seguida pelos irmãos e outros parentes que correrão atrás dela, a significar que ela será uma mulher ativa, dinâmica e trabalhadeira. Após a corrida, ao voltar para casa, tomará banho com folhas de cajazeira, para evitar que fique com mau cheiro nas axilas. A dieta alimentar continuará enquanto o corpo estiver pintado."


(A dança que invoca os espíritos para abençoarem as Meninas/Foto: Joaquim Filho)

UMA DANÇA QUE EXIGE MUITO PREPARO FÍSICO E MENTAL, POIS SÃO 5 HORAS SEM PARAR, CADA DANÇA


(Recebendo das de mãos de Dona Kassi, minha comadre, um colar que simboliza a renovação de batismo na Aldeia/Foto: Claudio Moreno)
Dona Kassi, renovando os votos que foram feitos em 2010, quando o seu esposo o Cacique Soriano me deu de presente um calor que simbolizava que naquele momento nós passaríamos a ser amigo da Aldeia. Mais um colar para selar esse compromisso de continuar na luta com esse povo que aprendemos a amar. 


Kalwiro, filho do saudoso Cacique Soriano Pompeu, Secretário Municipal de Assuntos Indígenas de Barra do Corda-MA


Minha afilhada Inaiury, filha do saudoso Cacique Soriano Pompeu


Inawy, filho do saudoso Cacique Soriano Pompeu, Acadêmico de Direito pela UFMA



Minha amiga Marta, fiz questão de encerrar essa matéria enaltecendo você, pela amiga e irmã que tem sido comigo durante todos esses anos. Sempre que vou à Aldeia ou na Barra do Corda, você me recebe como uma filha trata um pai, e isso me deixa muito honrado e com o compromisso de ser sempre grato e lhe ter respeito. Que Deus abençoe a sua filha Kalliny, para que essa nova fase da vida dela possa lhe trazer esperanças de dias melhores. Obrigado por tudo! 


A SEGUIR, IMAGENS DA FESTA COM FOTOS DE JOAQUIM FILHO
















































































































































  














































AGRADECIMENTOS ESPECIAIS ÀS EMPRESAS QUE ANUNCIAM CONOSCO
APOIO CULTURAL:























Um comentário:

  1. Nossa muito lindo ' parabéns poeta fiquei até emocionada com essas fotos tudo bem organizado ' simples mas de uma beleza incomparável...mais uma vez parabéns vc é 10 obrigado por compartilhar conosco por isso que smpre admiro vc ...bjos no coração!!!da próxima vez quero ir com vocês kkkk

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