segunda-feira, 29 de junho de 2020

Coluna do Pastor Walberto Magalhães Sales

O PROBLEMA DA COGNOSCIBILIDADE DE DEUS
(Foto: Joaquim Filho)

Pode Deus ser conhecido? Até que ponto? E de qual forma? Pode o homem finito conhecer o Deus infinito? 

As limitações de definir Deus são estabelecidas pelas nossas limitações de compreender intelectualmente, Deus em sua plenitude. Nas palavras de Champlin:

“O homem em seu atual estado de inteligência, não tem podido dizer muito sobre Deus, senão em sentido antropomórfico. Não podemos saber quão aproximada é a nossa terminologia da realidade de Deus; e no presente não há como evitar o uso dessa linguagem. – Portanto, não deveríamos, por tolo orgulho, pensar que temos dito qualquer coisa grandiosa sobre Deus” (2001, p.4121).

Este autor justifica que o homem, apesar dos avanços científicos, continua tateando em torno  da matéria, sendo esta, ainda envolta de mistérios, como então poderia o homem compreender e explicar o Espírito? Muitos sustentam que não, que não há qualquer possibilidade de um conhecimento de Deus, os tais são denominados de agnósticos. Estes destacam a incapacidade humana para conhecer qualquer coisa além do mundo físico e natural. Louis Berkhof sintetiza este ponto de vista da seguinte forma:

A possibilidade de conhecer a Deus tem sido negada sobre diferentes bases. Geralmente essa negação se baseia nos supostos limites da faculdade cognitiva humana, embora se apresente de diferentes formas. A posição fundamental é a de que a mente humana é incapaz de conhecer qualquer coisa que esteja além e por trás dos fenômenos naturais, e, portanto, é necessariamente ignorante quanto às coisas super sensoriais e divinas (2001, p.21). 

O problema da possibilidade de conhecer a Deus situa-se entre o fato do ser humano ser finito e Deus ser infinito. Como pode o finito conhecer o “Infinito”? Como o ser humano pode alegar possuir algum conhecimento de Deus? Este problema persiste enquanto Deus é mantido como objeto do conhecimento humano, mas quando Deus passa a ser o agente da revelação ao homem isso muda. Observe o aparente paradoxo entre os dois versículos bíblicos: “Poderás descobrir as profundezas de Deus? Poderás desvendar a perfeição do Todo-Poderoso?” (Jó 11.7 VKJ); e, “E a vida eterna é esta: que te conheçam a Ti, o Único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3 VKJ). No primeiro o homem é o ser cognoscível investigando o Criador; no segundo, ele é só um pecador alvo da graça maravilhosa da revelação divina.

Portanto, podemos conhecer a Deus apesar do nosso aspecto limitado e finito. A possibilidade reside na capacidade do Deus infinito se manifestar ao homem finito. Heber Campos diz: “Não poderíamos conhecer a Deus se ele não se revelasse na obra da natureza, no desenrolar da História, na constituição da natureza humana, e, especialmente, no que diz a sua
Palavra” (2012, p. 12). O apóstolo Paulo, sob a inspiração reveladora de Deus, escreveu aos romanos:

Porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis (Rm 1.19 ARA/grifo nosso).

Perceba que há neste texto a declaração clara de que o ser humano pode conhecer a Deus, sendo que, tal conhecimento é critério para julgamento do homem em tempo determinado perante o Senhor. Fica, pois, estabelecido pela Bíblia que de fato podemos conhecer a Deus.

No entanto, até que ponto podemos conhecer a Deus? Até o ponto estabelecido pelo zelo investigador piedoso dentro dos limites da Revelação. “O ser divino deve ser objeto de nosso estudo mediante pesquisa que fazemos de sua revelação. Não podemos ter qualquer noção da divindade a não ser pela sua própria revelação. Portanto, o objeto de estudo não é propriamente Deus, mas Deus por meio
da sua revelação” (Campos, 2012, p.12).

É consenso entre a cristandade, a luz da revelação especial, a Palavra escrita, que: jamais poderemos compreender plenamente a Deus, mas podemos conhecer a Deus de modo verdadeiro. 

Quanto a primeira parte desta conclusão de que nenhum ser humano pode conhecer a Deus em sua totalidade, em toda a profundidade e sublimidade do seu Ser, verifica-se facilmente no texto sagrado em passagens como: “Grande é o SENHOR e mui digno de ser louvado; a sua grandeza é insondável” (Sl 145.3); “Grande é o SENHOR nosso e mui poderoso;
o seu entendimento não se pode medir” (Sl 147.5); “Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim: é sobremodo elevado, não o posso atingir” (Sl 139.6). Acrescenta Wayne Grudem:

Não só é verdade que jamais poderemos compreender plenamente a Deus; é verdade também que jamais poderemos compreender plenamente nem mesmo uma só coisa acerca de Deus. Sua grandeza (Sl 145.3), seu entendimento (Sl 147.5), seu conhecimento (Sl 139.6), sua riqueza, sabedoria, juízos e caminhos (Rm 11.33) estão todos além da nossa capacidade de compreensão plena (1999, p. 102).

A segunda parte, assegura que embora não seja possível conhecer a Deus em sua plenitude, pode-se conhecer a Deus de modo verdadeiro. Neste sentido, deve se observar textos bíblicos como: “Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte, na sua força, nem o rico, nas suas riquezas; mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o SENHOR e faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o SENHOR” (Jr 9.23-24 ARA/grifo nosso); e, “E a vida eterna é esta: que te conheçam a Ti, o Único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3 VKJ/grifo nosso).

Ainda que o conhecimento acerca de Deus esteja limitado apenas ao que Ele mesmo revelou; isto não é pouco, não se trata simplesmente de informações, é possível conhecê-lo e desfrutar de uma comunhão pessoal com Ele.

[...] a riqueza da vida cristã envolve um relacionamento pessoal com Deus. Como sugerem essas passagens, temos privilégio bem maior do que o mero conhecimento de fatos acerca de Deus. Falamos com Deus em oração, e ele fala conosco pela sua Palavra. Temos comunhão com ele na sua presença, entoamos seus louvores e temos consciência de que ele pessoalmente habita no meio de nós e dentro de nós para nos abençoar (Jo 14.23). De fato, pode-se dizer que esse relacionamento pessoal com Deus Pai, com Deus Filho e com Deus Espírito Santo é a maior de todas as bênçãos da vida cristã (GRUDEM, 1999, p. 104).

Por tanto, atente para o que recomendou o profeta Oseias: “Conheçamos o Senhor; esforcemo-nos por conhecê-lo. Tão certo como nasce o sol, ele aparecerá; virá para nós como as chuvas de inverno, como as chuvas de primavera que regam a terra.” (6.3 NVI).

Pr. Walberto Magalhães Sales

Pastor Presidente da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Pedreiras; Bacharel em Teologia, Mestrando em Ministério Cristão; Licenciado em Letras, Especialista em Tecnologias Aplicadas a Educação e Educação à Distância; Pós-graduando em Administração Pública e Gestão Estratégica.

REFERÊNCIAS
BÍBLIA SAGRADA, Almeida Revista e Atualizada. São Paulo: SBB, 1993.
BÍBLIA SAGRADA, nova versão internacional. São Paulo: Vida, 2000.
BÍBLIA SAGRADA, versão king James. São Paulo: Abba Press, 2020.
BERKHOF, Louis. Teologia sistemática. 4ª Ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2017.
CAMPOS, Heber Carlos de. O ser de Deus e seus atributos. 3ª ed., São Paulo: Cultura
Cristã, 2012.
CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento interpretado versículo por versículo.
2ª ed. Vol. 6, São Paulo: Editora Hagnos, 2001.
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática: atual e exaustiva. São Paulo, SP: Vida Nova, 1999.
















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