O Ser é um dos conceitos fundamentais da tradição filosófica ocidental. O “Ser” (ens) enquanto conceito atravessa toda a história da filosofia desde os seus primórdios. Embora já utilizado pela filosofia indiana desde o século IX a.C., foi Parmênides de Eleia (Séc. VI–V a.C.) quem introduziu, no Ocidente, esse longo debate, que percorre os tempos e as diversas culturas até os nossos dias. Parmênides expôs explicitamente o conceito de SER, que, começa pela inutilidade de sua negação, pois seria impossível falar ou pensar no Não-Ser, pois o Não-Ser nada refere. Para o pensador de Eleia, O Ser, que existe para além das ilusões do mundo sensível da doxa, é uno, eterno, não-gerado e imutável: “O Ser é, e o não ser não é”.
Usualmente, na tradição grega, a palavra SER (einai) assume quatro significados diferentes: existência - para exprimir o fato de que determinada coisa existe; identidade - para identificar ou distinguir algo ou alguém em relação a si mesmo e aos outros; predicação - para exprimir uma propriedade de determinado objeto ou “ente”; veracidade – para indicar a verdade de uma proposição no discurso. Na filosofia, ser é considerado não só como um verbo (existir), mas também como substantivo, significando “tudo o que é”. Assim, filosoficamente, Deus é ens perfectissimum e absolutum. O termo “ens”, designando-o como um ser, não uma ideia, uma força ou poder. Mas alguém com existência real e objetiva, distinguível por sua essência ou substância; e “perfectissimum”, significando perfeição absoluta distinguindo-o de todos os demais seres; e, o absolutum, a adjetivando-o como o único ser verdadeiramente independente e autoexistente.
O apóstolo João lança mão deste conceito, sob inspiração divina, para falar de riquezas tão profundas que, certamente de outra forma, não seria possível, quanto utiliza um conceito grego que apesar de equivalente, era mais próximo da linguagem do povo, e apresenta Jesus como o Verbo “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” (Jo. 1.1). Posteriormente a teologia cristã usaria a estrutura racional deste conceito para argumentar biblicamente sobre a Singularidade de Deus. Deus é o SER e um dos seus aspectos é a unitas singularitatis, uma unidade singular,conota uma distinção total de Deus em relação às demais coisas criadas por seu beneplácito. É uma das verdades mais fascinantes do cristianismo; pois o fato de Deus ser absoluto “realidade suprema e independente de todas as demais”, o faz um ser único, sem-par; não há outro além dele. Como demonstram as Escrituras: “Ouve, Israel, o SENHOR nosso Deus é o único SENHOR” (Dt 6.4); “Vede agora que eu, eu o sou, e mais nenhum deus há além de mim; eu mato, e eu faço viver; eu firo, e eu saro, e ninguém há que escape da minha mão” (Dt 32.39); “Para que todos os povos da terra saibam que o SENHOR é Deus, e que não há outro” (1 Rs 8.60).
Todos os outros seres e coisas têm existência por causa dele: “Ó SENHOR dos Exércitos, Deus de Israel, que habitas entre os querubins; tu mesmo, só tu és Deus de todos os reinos da terra; tu fizeste os céus e a terra” (Is 37.16).
Se houvesse mais de um Deus, não haveria Deus de fato. O Politeísmo nega a singularidade de Deus e, consequentemente, a Divindade. O monoteísmo é a primeira forma de adoração, pois é o reconhecimento que há um Deus e somente um, o Único e Verdadeiro Deus. Logo, todas as formas de politeísmo com deuses e semideuses é uma degeneração do monoteísmo bíblico, teológico e filosófico.
Se houvesse mais de um Deus, não haveria Deus de fato. O Politeísmo nega a singularidade de Deus e, consequentemente, a Divindade. O monoteísmo é a primeira forma de adoração, pois é o reconhecimento que há um Deus e somente um, o Único e Verdadeiro Deus. Logo, todas as formas de politeísmo com deuses e semideuses é uma degeneração do monoteísmo bíblico, teológico e filosófico.
Portanto a adoração concebida desde níveis racionais como o assentimento intelectual da fé, até a manifestação mais fervorosa da religiosidade cristã, para ter legitimidade, precisa ser teocêntrica. Como tão bem exemplifica a poesia de Edson Coelho:
Deus grandioso ser jamais criado,
Princípio e fim não delimitam tua história,
Excelso espírito, supremo e iluminado,
Pai excelente, santo e puro em áurea glória.
Como explicar-te a criatura que é tão breve,
Que esculturaste da poeira esquecida,
Mas adorar-te é o que se pode e o que se deve,
Na gratidão de quem do nada deste a vida.
No princípio, era o verbo e o verbo era,
Sublime parte de ti mesmo que fluía,
E quando alçaste pelo cosmo a grande
Esfera, traçaste o plano da perfeita harmonia.
Deus na apoteose da verdade,
A via láctea estendeste no espaço,
E aos turbilhões constelações de eternidade,
Tu colocaste em ornamento dos teus passos.
Em suma, filosoficamente Deus é, em sua natureza, uma substância, ou essência, a qual é infinita, eterna e imutável; o sujeito comum de todas as perfeições divinas e o agente comum de todos os atos divinos. Teologicamente, “Deus é Espírito infinito, eterno, imutável em seu ser, sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade e verdade”. E, na práxis cristã, o conhecimento conceitual de Deus deve produzir o banimento da idolatria; o reconhecimento da exclusiva, soberana e santa dignidade de Deus.
Pastor Presidente da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Pedreiras; Bacharel em Teologia, Mestrando em Ministério Cristão; Licenciado em Letras, Especialista em Tecnologias Aplicadas a Educação e Educação à Distância; Pós-graduando em Administração Pública e Gestão Estratégica.
Que conhecimento riquíssimo de teologia e filosofia. Fico admirado com tamanho conhecimento a respeito de Deus e da filosofia, todos colocados no seu devido lugar. Palavras sábias, e diante desse conhecimento, agradecemos a Deus pelo colunista, Pastor e teólogo que temos. Obrigado Pr. Walberto, por compartilhar conosco, pérolas de sabedoria.
ResponderExcluirEsse blog com esses colunistas intelectuais da cidade é outro nível. parabéns pra esse pastor, só escreve assuntos de profundo conhecimento.
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