FESTEJO
O mês de novembro é sem sombra de dúvidas um mês mais que especial para os pedreirenses. Há 143 anos, ininterruptamente, se celebra o tão falado e esperado Festejo de São Benedito, o padroeiro da cidade.
A devoção ao santo nasceu nas antigas fazendas de gado existentes na região, especialmente entre o povo negro, descendentes de escravizados que habitavam a região, explorados com sua mão de obra escrava.
São Benedito, assim como Nossa Senhora do Rosário, em todo o território nacional são muito devotados entre os negros. As congadas na região sudeste e o tambor de crioula aqui do Maranhão expressam bem essa ligação.
A Semelhança da cor da pele do santo italiano que viveu no século XVI cujos pais migraram da Etiópia para a região da Sicília, reforça a identidade e o orgulho negro deu um povo ainda desprezado e vítima do preconceito.
Resquícios da história de Pedreiras, contam que em 1878 celebrou-se o primeiro festejo do padroeiro e de lá pra cá a festa foi se tornando o que hoje é a maior manifestação religiosa da região do médio Mearim. Os pedreirenses aguardam ansiosamente por sua chegada e os preparativos são grandes para esperá-lo.
Num passado ainda recente a espera pela festa além da expectativa incluía a roupa nova preparada com antecedência e que não podia faltar. A mesma era adquirida em forma de crediário ou na compra de um “corte de fazenda” nas lojas do Armazém Paraíba, Abreu, Alencar ou ainda nas lojas Pernambucanas.
O calçado também fazia parte do kit e, uma vez comprado ficava guardado esperando a ocasião de usá-lo o que era feito no dia do encerramento da festa. Para a compra deste, dispúnhamos de boas opções como a Calçadeira do Chiquinho, do Sr. Mesquita, do Sr. João Dama e outras mais.
O burburinho em torno da festividade se avolumavam nas primeiras semanas do mês quando não raro se ouvia alguém dizendo; “Já chegaram alguns brinquedos do parque Ibiapaba e já estão sendo montados, tem atração nova”. A praça do mercado onde até os anos 80 era realizada a parte social da festa ia se modificando.
As barracas de venda de verduras, frutas e mantimentos iam sendo afastadas liberando o espaço para os brinquedos do parque e para as barracas de palha onde se podia tomar uma bela cerveja e um bom tira-gosto durante as nove noites de festa.
Lá pelo morro de São Benedito as bandeirinhas iam aparecendo pendentes lá de cima da cruz da igreja matriz, descendo até o cruzeiro do patamar e se espalhando pelas extremidades do mesmo.
Chegado o dia da abertura, geralmente uma sexta-feira em meados do mês, pois a festa encerra sempre no último domingo de novembro, apesar do dia do santo ser celebrado no Brasil no dia 05 de outubro; ouve-se um grande estouro de foguetes e o badalar agitado dos sinos cujo toque é diferente de outros lugares.
E a partir de 1978, ano da festa centenária, os auto-falantes da matriz entoam a canção que mexe fundo no coração dos pedreirenses. “Oh Pedreiras, princesa do Mearim, todo mundo festejando oh! bate tambor pra mim” diz a letra do grande João do Vale, maranhense do século, gravada por Ary Lobo em homenagem aos 100 anos da festa de São Benedito.
À noite logo cedo a igreja já estava lotada de fiéis para participar da missa, seguida de ladainha. A parte litúrgica da festa sempre foi muito apreciada e não há quem não se emocione quando se entoa o canto do padroeiro cujo refrão é bem entoado por todos; “Salve, salve, Benedito. Salve eleito do Senhor!”, e novamente uma salva de fogos estoura no céu de Pedreiras.
A partir daí todos desciam a ladeira da matriz para o “largo” da festa. Muita alegria e animação nas barracas, no agitar dos brinquedos do parque funcionando e a meninada saltando gritos de alegria. Ali acontece o encontro de conterrâneos que voltam a terra natal para o pagamento de uma promessa ou mesmo para participar do momento festivo junto às suas famílias.
A “Barrraca da
igreja” ocupando um lugar de destaque no largo era a mais disputada. Ali aconteciam
os leilões e a banda de música estava montada para animar a festa. As mesas
sempre cheias serviam de encontro para um bate-papo familiar e amigo bem
descontraído.
A juventude se espremia nos corredores do largo entre um brinquedo e outro do parque e ali também, encostado numa cerca de proteção dos mesmos se viam os casais namorando, as paqueras acontecendo e emoção aflorando.
O festejo de São Benedito foi palco de grandes romances e não raro marcava época com uma música lançada próxima do evento. Foram tantas marcantes que ainda hoje estão na cabeça e no coração de muitos conterrâneos. Quem não se lembra de Marcos Sabino, por exemplo com a canção “Reluz” ou ainda do grande Fagner com a música “Pressentimento”, grandes sucessos dos anos 80 que marcaram o festejo de São Benedito?
Finalmente, chegando o último domingo de Novembro, a festa se encerra com grande procissão onde os devotos se vestem com túnica marrom amarrado por um cordão branco imitando o santo franciscano no pagamento de suas promessas.
Ou ainda carregam pedras ou pratos de velas em suas cabeças e andado descalço no trajeto da procissão cumprem o prometido pela graça alcançada. Depois participam da missa campal nos degraus da matriz.
No “largo” a sensação de despedida vai tomando conta de todos, um novo sentimento de espera pelo ano que vem. Sensação dispersada pelo rugre-ruge de gente e pela alegria de celebrar mais uma vez o santo querido.
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