sábado, 18 de março de 2017

ENSAIO SOBRE POESIA

21 DE MARÇO, DIA MUNDIAL DA POESIA
Verónica M. Delgado | Foto: A. Momám

Este ensaio sobre poesia, tem o fito de esclarecer as pessoas, para que possam pode compreender, algumas bases e também problemas da poesia. Alguns não precisarão deste esclarecimento, mas, estas poucas palavras servirão para compreenderem um pouco o problema dum poeta, em relação a utilizar em certo tipo de ideias, palavras que podem ser mal interpretadas na sua estrutura.

Assim:
Que valem versos escritos
Sem o ardor da inspiração?

A poesia só é poesia
Quando eleva a fantasia
Ao rigor do ideal

De outra forma é apenas verso
Som pelo vento disperso
Murmúrio que nada vale.


Porque não há licenciamentos, nem doutoramentos em poesia, nem a inspiração, a fantasia, e o dom que o poeta tem, ele tem que se inspirar em momentos que viu, que sentiu, ou então que criou e, aí começa a fantasia e o poema.

A poesia, é uma forma diferente de ver a vida e o mundo, e é também a forma mais fácil de exprimi-la. 

O conceito de musa em relação á poesia (porque há musas em todas as artes ), baseia-se sempre em qualquer vivência, seja ela fortuita, sentimental ou metafísica, originando dessa vivência, admiração, agradecimento, temor, respeito, alegria, tristeza, amor, etc. Penso que a musa descrita na poesia clássica, acabou quando acabou o romantismo.

No entanto, o romantismo mantém-se em todas as correntes poéticas, mas de outra forma, pois será sempre o romance a fonte de inspiração de um poeta.

Mesmo assim, este tipo de romantismo vai sendo superado pelo tempo.
Os sentidos e os instintos espirituais, estão a ser ultrapassados, porque o homem e mulher de hoje, são mais que a imaginação e o sentimento, pois o materialismo, obriga a uma evolução constante da vida e, de tal forma hoje é tudo tão apressado (*), que se a poesia não acompanhar essa evolução também ela agoniza, tendo ou não musas.
Além disso, nas escolas não se lê, não se explica, nem se ensina algumas regras da poesia.

Se não se ensina o Português, para que mais uma complicação para os professores? Até porque 90 % deles, (estatística minha), serão uns iletrados nesse aspecto. Mas ensinam-se as técnicas do desenho, da pintura, da escultura, da musica e de outras artes...

Então e porque não, pelo menos despertar o gosto pela leitura da poesia?...Uma poesia declamada é linda. Como nada se explica, e nada se ensina, assim abundam os curiosos como eu, sem nenhuma base a não ser o instinto. Porque agora, o interiorismo, a sondagem do consciente e do inconsciente, a valorização do absurdo, é que são as bases da nova poesia. Ai do poeta ou poetisa, que em segundos, não tem a visão do que vê e do que sente. Mesmo vendo e sentindo, estará essa visão e esse sentimento de acordo com a visão e o sentimento normal? Claro que não!...e é aí que nasce o poeta....porque a sua visão e o seu sentimento não é comum.


Um poeta e um poema, não tem que obedecer a certas regras sociais ou puritanismos, porque assim não haveria poesia... Não que não goste do romantismo, pelo contrário....Só que hoje, o amor, e a tendência do materialismo, são nutridos de sensações brutais, a que chamamos normalmente adrenalina e neste contexto, começa a racionalidade do Ser ou não ser.

A poesia é o ser e o não ser, é o descrever uma realidade ou fantasia, é ver, inventar, ou escrever um poema nas margens do absurdo, onde nada se diz e tudo se compreende. É ser incoerente, na coerência..(*) Na pintura o surrealismo é arte, na poesia é apenas o absurdo.
Mas também na poesia, o surrealismo, é um automatismo psíquico, quando no poema expressamos o funcionamento do pensamento.
Porque a poesia, deve ser a transmissão total do pensamento, e, de tudo o que se possa colher no subconsciente, depois transmiti-la da forma mais natural possível, sem controlar o fluxo do pensamento.
Claro que depois há que substantivar, objectivar o conteúdo, e conjugar o automatismo verbal.

Em relação á transmissão total do pensamento, aí esbarro eu. Porque, entro numa fase de bons costumes, onde critico o pensamento, por vezes quase eliminando, o cerne que deu origem á coisa. Na poesia que faço, não tendo um elemento real, a quem a dirija especificamente, expresso-me á vontade e, por vezes até me torno surreal. E corto o pensamento, quando penso no que disse, ou escreveu um poeta: Ai das mulheres comuns, se todos os homens as soubessem adular com poesias.

Mas muitas vezes o adular é matar a morte antes de morrer .- Digo eu
Através dos séculos e, em cada época da civilização, a poesia, teve sempre um simbolismo amoroso e, muitas vezes foi visto como um meio eficaz de sedução. Mas, também foi e hoje ainda é muito mais, uma critica ás estruturas sociais, politicas, econômicas e também ás suas vertentes artísticas.


Mas como obras artísticas, nunca serão considerados os poemas de um poeta, por muito considerado que seja,e que alguns livros venda.
Se obra artística são os Lusíadas, salve-se Camões desta embrulhada....Mas nem os Lusíadas são uma obra artística, pois se assim fosse, um dos seus Cantos, valeria tanto como um quadro de Picasso. (absurda comparação, mas...)

Mas o que é um poeta?
Um homem comum como, eu que apenas tem o condão de ver o claro no escuro e vice versa, é ser irreal na realidade e na irrealidade real, e no fundo ser concreto.


No concreto, há virtude do inconcreto, que se vê mas não é palpável, que se adivinha mas não se diz, pois é a linha que se desenha nas entrelinhas. É a linha onde se mistura o automatismo do presente, o plano do passado e se conjuga o futuro, do querer ou não querer, da moralidade e da imoralidade, da virtude e do pecado, dos amores e desamores, do bem e do mal, etc... (*)
Este é o concreto sendo o poema inconcreto.

A poesia, é o tempo, a mudança e a vontade...é a essência do espírito agir, pois só o espírito é o único que pode ordenar o conceito do que é lógico.

....o que é preciso ordenar o conceito do lógico, com o ilógico, e depende depois do conceito de valores que cada um introduz no poema.

Se decidires,
Ondear as franjas do poente
Entoa primeiro 
Sombras de melodias
Arrefecidas no entardecer

Há, nos abismos de raiva
Pores de sol de silêncios
E tu ó poeta,
Sabes mais que ninguém
Que qualquer espuma
Ao deslizar pelo corpo
É como envelhecer 
Nas franjas do pôr-do-sol

E poeta é isso...descrever a realidade num contexto irreal
Escrevo-os para mim:

Soam na tarde amordaçada
Breves rajadas de sol
Estertores de mar revolto
Na saliva da infância

Na avalancha que te rasga
Traças no crepúsculo
Uma ponte
Entre o abismo te perfez 
E onde o pavor se desfaz

Este é 
O poema que não escreveste
Na encruzilhadas das insónias
Mas que poderás escrever
E reescrever todos os dias

E quem me ler, que concorde ou discorde, pois só com a critica é que evoluímos.

Por Verônica M. Delgado 










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