O Brasil tem sido governado por
espinheiros
porque as oliveiras, as
figueiras e as videiras estão se
omitindo.
Por Pastor João Abrantes
É cógnito por todos que a ausência do tato ou feeling com a
realidade é um dos principais sintomas para o diagnóstico desta moléstia,
traçado a partir do histórico do indivíduo cristão. Não há causas exatas ou
perceptivas e nem ao menos um exame laboratorial específico, já que se trata de
teor espiritual. O que se sabe é que a hipocrisia ou farsa é uma doença
relativamente comum e que seus portadores podem vivenciar mudanças na sua forma
de pensar, sentir e falar, principalmente em períodos eleitorais, e nesse
contexto mergulharam na lama pútrida do processo trocando, vendendo e alugando
o de mais sagrado no ser humano, sua honra e sua moral. Com isso, suas relações
espirituais, morais e cristã, são afetadas publicamente sem a consciência e
consequências da realidade vivenciada no momento.
Existe
um ditado popular que diz: “As palavras movem e os exemplos
arrastam”. É pelo exemplo que se consegue que as coisas sejam
feitas. Essa é uma característica do falso moralismo, enxertada de receitas
mentirosas e desonestas ensinadas por aquelas que deveria ser e dar exemplos,
pois o exemplo vem das atitudes e não das palavras. Observe como Jesus Cristo
ensinou muito mais pelos exemplos do que pelas suas próprias palavras. O
exemplo do amor, o da paciência, da fé e da esperança, e atos praticados principalmente
no processo do mandato postulado pela sociedade ou que antecede o período
eleitoral. De repente alguns cognominados políticos têm até a intenção de
mandar fazer as coisas, mas cadê os bons exemplos? Na verdade, pode-se
constatar facilmente que se conhece o dono de uma empresa por meio do
comportamento dos seus funcionários, pois o exemplo que ele fornece é o que
será seguido.
Vivemos a realidade de mais uma eleição que sem dúvida alguma,
interferirá diretamente e indiretamente na vida de todos nós. Essa é uma
realidade inegável que não podemos cerrar nosso discernimento em um momento
crucial para nós, nossos filhos e as gerações vindouras. Houve uma época em que
os governantes eram impostos ao povo e sua forma de governo era baseada em
modelos totalitários e opressores. Entretanto, a democracia deu ao povo a
oportunidade de participar diretamente do pleito. Hoje, elegemos nossos pares,
pois a Constituição assegura que todos são iguais perante a lei, não havendo
distinção de cor, sexo ou religião. Dessa forma, os eleitores tornam-se
corresponsáveis pela política, e pelas consequências boas ou ruins advindas de
nossas decisões, pois cabe à população dizer sim ou não às propostas de cada
candidato, sabendo que nossas escolhas podem definir o nosso futuro.
Na Bíblia Sagrada, a palavra de Deus há lições das mais
diversas, e que poderão ser aplicada em qualquer contexto social, espiritual,
político e etc. No livro de Juízes 9:8-15, aprendemos uma preciosa lição sobre
POLÍTICA e o direito de escolher nossos governantes. Pois quando os bons se
omitem, os maus assumem o poder. Esta parábola afirma que inúmeras árvores
foram cogitadas para governar, sendo a oliveira, a figueira e a videira.
Contudo, nenhuma delas quis assumir essa responsabilidade, se omitindo e
delegando o direito a quem quiser. Diante do exposto, não havia outra saída
senão convidar o espinheiro para exercer tal função. Essa parábola ilustra que
a presença de um mau governo se deve em função da omissão daqueles que poderiam
fazer um bom governo, omitir é pensar em si, no fisiologismo tirano e desumano
que perdura em nossa pátria. Martin Luther King Jr., pastor batista que lutou
contra o racismo norte-americano, bradou: “O que me impressiona não é o grito
dos tiranos, mas o silêncio dos justos”.
O Brasil tem sido governado por espinheiros porque as oliveiras,
as figueiras e as videiras estão se omitindo. Eis o motivo pelo qual a nação
padece diante da gestão de pessoas inescrupulosas que estão interessadas
unicamente no benefício próprio. Ética e moral são conceitos desconhecidos pela
maioria de nossos parlamentares e gestores.
Há uma máxima popular que é verdadeira: o povo é o reflexo de
sua liderança. Muitos cristãos estão à margem dos acontecimentos, alienados ao
processo eleitoral. A Igreja evangélica brasileira, que deveria ser uma voz
profética, como disse o (profeta Joel 2:1) “tocai a trombeta em sião”, para
bradar contra a impiedade de nossos governantes espinheiros, tem se prostituído
com esse sistema corrupto e imoral que assola o país, associando a esses
indivíduos e não discernindo o joio do trigo. Muitos púlpitos são transformados
em verdadeiros palanques eleitorais, onde candidatos profanos sobem ao altar de
Deus para manipular um rebanho que se tornou massa de manobra. Igrejas tem se tornado
palanques e pastores cabos eleitorais sem medir as consequências pelos
escândalos subsequentes.
O povo de Deus não deve apenas orar, mas, sobretudo, ser uma
Igreja consciente e agir! Agir no sentido de orientar seus rebanhos em quem
devamos votar e porque votar em candidatos que apresentem tal perfil. Se há um
dom que carecemos na atualidade é o dom do discernimento. Precisamos que homens
e mulheres vocacionados por Deus se levantem para lutar pelos valores morais e
princípios cristãos que a nação tem perdido ao longo desses anos. Nós podemos
ser as árvores frondosas de que o país precisa. Não podemos omitir-nos nem
achar que todos os que exercem a política são espinhos! Se os espinhos estão lá
é porque as árvores se furtaram do seu verdadeiro papel, de governar sobre a
nação.
Eis o motivo pelo qual muitos não querem servir nem se
transformar em benção na vida dos outros. Perceba que oliveira disse: “Deixaria
eu o meu óleo, que Deus e os homens em mim prezam, e iria pairar sobre as
árvores?” (v. 9). Da mesma forma, a figueira se esquivou: “Deixaria eu a minha
doçura, o meu bom fruto e iria pairar sobre as árvores?” (v. 11).
Semelhantemente, a videira apresentou sua justificativa: “Deixaria eu o meu
vinho, que agrada a Deus e aos homens e iria pairar sobre vós” (v. 13). Como se
pode observar, o serviço exige abnegação e sacrifício, qualidades que nem todos
estão dispostos a buscar. As pessoas não estão interessadas em sair da sua zona
de conforto para se envolver nos problemas dos outros. Então, houve uma
inversão abrupta da função pública e poucos estão a perceber, pois aqueles que
deveriam se valer do cargo para servir os outros, utilizam o posto e suas
prerrogativas para benefício próprio, em detrimento da opressão de seus
súditos.
De acordo com a parábola, o rei deveria pairar sobre as demais
árvores, dando proteção e sombra a elas. A função do rei seria servir as demais
árvores. Contudo, ao ser empossado rei, o espinheiro disse: “Vinde e
refugiai-vos debaixo de minha sombra; mas, se não, saia do espinheiro fogo que
consuma os cedros do Líbano” (v. 15). Ou seja, aquele que deveria ser um
instrumento de benção, governar para todos e de forma isenta, torna-se uma
maldição, oprimindo e amedrontando quem se opor. O espinheiro subjugou as
demais árvores e passou a oprimi-las. Essa história é um retrato contemporâneo
da política no Brasil. Basta ver e ouvir as propostas na propaganda eleitoral
para vislumbrar que aquilo que se propõe é bem diferente da prática. Inclusive
candidatos que se autodenominam evangélicos são flagrados em escândalos que
envergonham o Evangelho de Cristo. Embasado neste perfil, nós povo evangélico
podemos e devemos segundo um olhar bíblico tomar algumas atitudes em relação às
eleições.
Primeira
Atitude: Ore! O apóstolo Paulo fez a seguinte exortação ao seu
filho na fé, Timóteo: “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de
súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens,
em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que
vivamos vida tranquila e mansa, com toda a piedade e respeito. Isto é bom e
aceitável diante de Deus, nosso Salvador.” (I Tm 2:1-3).
Segunda
Atitude: Vote com consciência! Você conhece as propostas de seus
candidatos? Muitos cristãos estão votando em candidatos que defendem abertamente
principio contrário a palavra de Deus e suas normas, são favoráveis ao aborto,
apoiam leis ridículas e anticristãs e tantas outras que ferem diretamente o
principio e a constituição da fé cristã, a Bíblia Sagrada. Como servo de Deus,
seu primeiro compromisso é com a Palavra de Deus e não com partidos ou
políticos. Portanto, votar em candidatos que são espinheiros para implantar a
institucionalização da iniquidade é uma contradição. Como disse o sábio
Salomão. “Não havendo sábia direção, cai o povo…” (Pv. 11:14). Somos sal da
terra e luz do mundo, o que não podemos é ser pisado pelos homens e perder o
nosso sabor. A Igreja precisar repensar o seu papel na política e eleger
pessoas comprometidas com a moral, a ética e os bons princípios que regem uma
nação justa e livre.
JOÃO ABRANTES, Professor, graduando em direito, pós-graduado em políticas
públicas, palestrante, pastor, funcionário público.
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