Salve-se quem puder!

Coluna do Doutor "Doidão"

(Ano I, Edição VI, 2018)

Ontem, raiando o dia, antes de sair de casa para trabalhar, assistia no telejornal Bom Dia Mirante, ao viv, uma reportagem no Socorrão I, onde trabalho desde 2007, culpando esse maior hospital de Urgência e Emergência de nosso Estado, de responsabilidade da Prefeitura de São Luís, por pacientes estarem internados em corredores e até no chão. Ao chegar ao hospital, antes das 7 da manhã, a equipe jornalística ainda estava lá e continuava a culpar-nos. Eu questionei ao repórter se ele tinha conhecimento das causas daquela superlotação e passei a relatar-lhe tais motivos. Assustado, ele perguntou-me se eu teria coragem de gravar uma entrevista sobre o que eu estava lhe dizendo. Assustou-se porque é muito comum que o medo de represálias e demissões imponha aos médicos um silêncio obsequioso, omisso, subserviente e criminoso com esse "genocídio silencioso" (by Érico Cantanhede) com a população maranhense. Eu lhe respondi que sim! Podíamos gravar. E o que eu disse todos viram na mídia estadual e nacional ontem. Tenho certeza que o povo está cansado de ouvir críticas aos governos. O povo quer é proposta, solução e resultado! 

Fiquei muito triste quando meses atrás vi o prefeito de Pedreiras, minha cidade natal, junto com vereadores e lideranças políticas comemorando a aquisição de uma ambulância nova. Ora, na minha concepção essa é a confissão patente da ineficiência e falta de resolutividade da assistência à saúde local. Comemorar a aquisição de ambulância é o que chamo de investir na "empurroterapia", "ambulancioterapia" ou "reboqueterapia". Não salva! Mata... na maioria das vezes.

Para uma assistência à saúde de qualidade, excelência e resolutividade tem-se que ter ambulância, sim, mas antes comemorar a aquisição de aparelhos de ultrassonografia, de endoscopia, de eletrocardiógrafos, de desfibriladores, de aparelhos de raios-X, de tomógrafo, de médicos especialistas, de uma emergência pública com médicos emergenciais experientes e com condições diagnósticas e terapêuticas com condições de no mínimo estabilizar hemodinamicamente os casos mais graves antes de encaminhá-los (caso contrário, a maioria dos pacientes morrerá no caminho ou chegará ao destino sem condições de sobrevivência).

Tem-se que se fazer uma Atenção Básica de Saúde eficiente, na qual os enfermeiros não sejam usados como mão de obra barata para suprir toda a demanda de clínica médica e obstetrícia/ pré-natal do município, e assim garantamos de fato a saúde dos hipertensos e diabéticos, pois na atual realidade o Programa de Saúde da Família está servindo apenas como um "bico" para pagar 6 mil reais/mês ao médico para consultar duas manhãs ou duas tardes por semana para "benzer" dez pacientes e passando remédio de verme. E haja diabéticos com pés e pernas amputadas, hipertensos com AVC e ambos evoluindo para falência renal e hemodiálise, dentre outras complicações mais. Assim funciona a saúde em Pedreiras e na grande maioria dos 216 municípios do interior maranhense. 

Enquanto a Atenção Básica não funcionar de fato como deve ser e os prefeitos não deixarem de investir em ambulâncias para investir em equipamentos diagnósticos e terapêuticos, medicamentos, insumos e recursos humanos, médicos e paramédicos especializados e eficientes, os corredores dos Socorrões continuarão congestionados, a assistência à saúde no interior do Maranhão será de araque e prefeitos, secretários de saúde e médicos omissos continuarão enriquecendo às custas do pus, das lágrimas, da dor, do desespero, do sangue e da morte dos nossos irmãos pedreirenses e maranhenses mais pobres.

Em Pedreiras hoje, se formos dar um nome à Saúde local seria: "a peritororização da saúde". Empurra-se tudo para Peritoró! 

 Allan Roberto Costa Silva

Médico, ex-presidente da Câmara Municipal de Pedreiras, membro da Academia Pedreirense de Letras e da Associação de Poetas e Escritores de Pedreiras-MA.