ÁGUA
Por: Allan Roberth Vieira Alves
É o tempo dela; março é considerado o mês mais chuvoso na região do médio Mearim, e, Pedreiras e Trizidela do Vale sabem muito bem o que isso significa, por conta do histórico de alagamento que já sofreram ao longo dos anos. “As águas de março”, literalmente, caem em profusão em nosso chão e o nosso sofrido rio, assoreado, poluído, judiado, mostra sua força de maneira trágica, desalojando muita gente.
É o dia dela; no último dia 22 comemoramos o dia mundial da água. Esse líquido precioso, que fez o grande arauto da natureza, São Francisco de Assis, cantar; “LOUVADO SEJAS MEU BOM SENHOR PELA IRMÃ ÁGUA E SEU VALOR. PRECIOSA E CASTA, HUMILDE E BOA. SE CORRE UM CANTO A TI ENTOA.
(Foto ilustrativa. Fonte: TEMS. Templo Espiritual Maria Santíssima. Retirada da Internet em 28.03.2021, às 8h19)
O “tal líquido precioso” que ao contrário do que muitos pensam é um recurso escasso, precisa ser melhor tratado e preservado. Lembremo-nos de regiões que sofrem com a falta dele, em nível mundial, o Continente Africano e nacional o nosso sofrido nordeste. Embora saibamos que falta vontade política para resolver tais situações, pois destarte caras e com alto grau de dificuldade, ações como a transposição de grandes rios como a do São Francisco, ajudam a amenizar essa escassez.
Nas minhas mais tenras lembranças de menino, as águas do rio Rio Mearim, do riacho e da cachoeira do Insono, dos muitos açudes e córregos da região são as mais felizes, pois fui criado praticamente à beira do nosso sagrado rio. Confesso que o único motivo de me arriscar em pegar uma boa “surra”, era o danado desse rio. Tantas vezes banhando nu para não molhar a roupa e ser descoberto, esquecia apenas que não tinha um colírio à disposição para pingar nos olhos vermelhos que denunciavam a estripulia.
A grande vantagem de ser criança é que não nos damos conta dos problemas, pois enquanto nossos pais estavam preocupados em arrumar um lugar mais alto – era nesse período que mais se valorizavam os tantos “altos” e “ladeiras" de Pedreiras – para se mudar com a família, nós, as crianças já nos preparávamos com grande frenesi para as brincadeiras e aventuras das enchentes.
(Foto ilustrativa. Fonte: Castro Digital. Retirada da Internet em 28.03.2021, às 7h14)Depressa, íamos “ao mato” tirar aquela vara mais “linheira” que pudéssemos encontrar, a mesma era raspada com uma faca, tirados os nós que por ventura tivesse nela. Então, era só ir ao mercado, especificamente no comércio do Sr. Rivaldo, Sr. Vicente ou do Sr. Pedro Caeira comprar a linha, o anzol e o chumbo para preparar o artifício que nos traria muita alegria com as piabas pescadas, às vezes das janelas de nossas casas, dos muros e quintais onde a água chegava. Isso nos garantia um belo “frito” (piaba frita no azeite de coco com farinha de puba) acompanhado com café.
Outra grande aventura era se arriscar nos “pulos” da ponte Francisco Sá que se enchia de meninos de toda parte. Essa aventura custava uma “surra” mais severa. Se na época era normal o banho de rio escondido e resultaria numa sova com uma chinelada ou mesmo umas palmadas, o salto da ponte garantia uma “pisa” de corda. Mas a adrenalina que a aventura proporcionava fazíamos esquecer essa possibilidade. Sem falar que nos garantia o status de gente grande, de corajoso, coisa de menino...
(Foto ilustrativa. Fonte: Blog do Carlinhos. Retirada da Internet em 28.03.2021, às 7h07)A cidade se agitava com a enchente e não faltava diversão aos domingos no famoso “cuscuz”; antigo coreto localizado na rua Santo Antonio, em Trizidela, que ganhou esse apelido por conta do formato de um cuscuz de arroz cozido no pano de prato. Iguaria muito apreciada na região. Ali a população se encontrava para curtir as cheias, mesmo que sofrendo com elas e justificando a máxima; o que é mais uma ferida para quem está leproso?
O certo é que a relação dos pedreirenses e trizidelenses com a água resulta nessa dicotomia de sofrimento e prazer. Porém, o Rio Mearim é nosso mais belo, querido e precioso tesouro que precisa ser melhor cuidado para que mesmo nos trazendo esses contratempos do período chuvoso ele possa garantir a saciedade, o alimento e a diversão para a posteridade.
Parabéns linda é emocionante matéria, uma viagem no tempo
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