sexta-feira, 25 de junho de 2021

PEDREIRENSES PELO MUNDO: Coluna do Carlos Augusto Martins Netto.

 É LINDA PAPÔXA!

Por Carlos Augusto Martins Netto - Servidor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Farmacêutico, Escritor e Poeta.

Conheço um pedação de chão que tem um charme danado. E, também, é cheio de todo tipo de beleza. Tem um pôr do sol para lá de inspirador que deixa rastros com nuances douradas e rosadas antes de a bola de fogo mergulhar no mar. Por lá, também tem um complexo de casarões antigos — por sinal, o maior da América Latina — que nos fazem viajar para épocas coloniais. Suas ruas, adornadas por esses casarões azulejados, e ainda hoje de pé, são palco para performances culturais diversas.

(Pôr do Sol em São Luís do Maranhão. Imagem ilustrativa Pinterest)

Em tempos normais, ela dá um show com as radiolas de reggae, grandes paredões de caixas de som tocando o mais puro ritmo jamaicano, com casais bailando sinuosamente. Sim, lá é um dos últimos lugares pelo mundo em que o reggae ainda é dançado com os casais agarradinhos exalando sedução.

(Um casal dançando reggae no dançante clipe de TQT. Foto: Ingrid Barros).

Contudo, é no mês de junho, com as festas juninas, que esse lugar se acende com grande brilho e exuberância. Todo ele é enfeitado com bandeirolas coloridas e vira um grande palco a céu aberto. São acesas grandes fogueiras nas quais se aquecem os pandeirões que serão tocados mais logo numa das grandes manifestações culturais locais. Não demora muito e todos vão se reunindo até que, de repente, surge o boi. Todo enfeitado, brilhante, tremulando de um lado para o outro e rodopiando, dando o tom da grande festa que vai começar. Os pandeirões rufam e todos se encantam com a força da lenda da noiva grávida que teve o desejo de comer a língua do boi.

(São Luís Capital Nacional do Bumba Meu Boi. Imagem ilustrativa Imirante.com)

Não muito longe dali, a cena se repete, só que dessa vez com o boi ao som de matracas, longos pedaços de madeiras que servem para marcar o ritmo. Lindo e inesquecível. Sabe, por lá, o acompanhamento para o boi dançar — matracas, pandeirões, orquestra — são denominados de sotaques, pois são formas diferentes de falarem sobre a mesma lenda.

Por outro lado, a força cultural também se mostra na gastronomia. Modéstia à parte, uma das melhores desse país. Por lá tem-se forte influência de todos que participaram da formação do povo brasileiro. Já provaram o arroz de cuxá com pescada amarela frita? Meus amigos, uma versão desse prato, ganhou até concurso nacional. E o uritinga seco, uma espécie de bacalhau local, cozido ao molho de coco babaçu e acompanhado por arroz branco! É de comer rezando!

(Imagem ilustrativa de O Imparcial)

Ah, tem também o garoto que anda pelas ruas do centro da cidade vendendo o famoso Ideal, um cuscuz feito com massa de arroz e servido com leite de coco! Nunca comeu? 

— Meu preto, não sabes o que estás perdendo — diria um habitante local.

Sim, na segunda pessoa do singular e com a conjugação correta, mesmo. Outra característica desse lugar, o português bem falado. E junto, a expressão “meu preto”, uma forma carinhosa de chamar o outro, independentemente do tom de sua tez. Por lá, tem-se também “piqueno/piquena”, para denominar menino/menina; “bogue”, significando soco e “brocado”, com fome.

Essa diversidade é marca registrada do lugar. E tudo isso ocorre numa ilha que, oficialmente, é denominada de Upaon-Açu; fisicamente, de Ilha Magnética e, sensualmente, Ilha do Amor. Sim, essa é São Luís do Maranhão, um pedacinho de Portugal incrustado aqui pelos trópicos.


























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