É LINDA PAPÔXA!
Conheço um pedação de chão que tem um charme danado. E, também, é cheio de todo tipo de beleza. Tem um pôr do sol para lá de inspirador que deixa rastros com nuances douradas e rosadas antes de a bola de fogo mergulhar no mar. Por lá, também tem um complexo de casarões antigos — por sinal, o maior da América Latina — que nos fazem viajar para épocas coloniais. Suas ruas, adornadas por esses casarões azulejados, e ainda hoje de pé, são palco para performances culturais diversas.
Em tempos normais, ela dá um show com as radiolas de reggae, grandes paredões de caixas de som tocando o mais puro ritmo jamaicano, com casais bailando sinuosamente. Sim, lá é um dos últimos lugares pelo mundo em que o reggae ainda é dançado com os casais agarradinhos exalando sedução.
Contudo, é no mês de junho, com as festas juninas, que esse lugar se acende com grande brilho e exuberância. Todo ele é enfeitado com bandeirolas coloridas e vira um grande palco a céu aberto. São acesas grandes fogueiras nas quais se aquecem os pandeirões que serão tocados mais logo numa das grandes manifestações culturais locais. Não demora muito e todos vão se reunindo até que, de repente, surge o boi. Todo enfeitado, brilhante, tremulando de um lado para o outro e rodopiando, dando o tom da grande festa que vai começar. Os pandeirões rufam e todos se encantam com a força da lenda da noiva grávida que teve o desejo de comer a língua do boi.
Não muito longe dali, a cena se repete, só que dessa vez com o boi ao som de matracas, longos pedaços de madeiras que servem para marcar o ritmo. Lindo e inesquecível. Sabe, por lá, o acompanhamento para o boi dançar — matracas, pandeirões, orquestra — são denominados de sotaques, pois são formas diferentes de falarem sobre a mesma lenda.
Por outro lado, a força cultural também se mostra na gastronomia. Modéstia à parte, uma das melhores desse país. Por lá tem-se forte influência de todos que participaram da formação do povo brasileiro. Já provaram o arroz de cuxá com pescada amarela frita? Meus amigos, uma versão desse prato, ganhou até concurso nacional. E o uritinga seco, uma espécie de bacalhau local, cozido ao molho de coco babaçu e acompanhado por arroz branco! É de comer rezando!
Ah, tem também o garoto que anda pelas ruas do centro da cidade vendendo o famoso Ideal, um cuscuz feito com massa de arroz e servido com leite de coco! Nunca comeu?
— Meu preto, não sabes o que estás perdendo — diria um habitante local.
Sim, na segunda pessoa do singular e com a conjugação correta, mesmo. Outra característica desse lugar, o português bem falado. E junto, a expressão “meu preto”, uma forma carinhosa de chamar o outro, independentemente do tom de sua tez. Por lá, tem-se também “piqueno/piquena”, para denominar menino/menina; “bogue”, significando soco e “brocado”, com fome.
Essa diversidade é marca registrada do lugar. E tudo isso ocorre numa ilha que, oficialmente, é denominada de Upaon-Açu; fisicamente, de Ilha Magnética e, sensualmente, Ilha do Amor. Sim, essa é São Luís do Maranhão, um pedacinho de Portugal incrustado aqui pelos trópicos.
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