sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Coluna do Carlos Augusto Martins Netto.

 AO MESTRE, COM CARINHO!

Por Carlos Augusto Martins Netto - Servidor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Farmacêutico, Escritor e Poeta.

As lembranças, como costumo dizer, são as testemunhas oculares da nossa vida. Elas estavam presentes em cada um dos nossos momentos, por isso, não permitem a instalação do esquecimento. São nossos retrovisores. Olhar por elas é ter um pouco do nosso passado revivido, um pouco daquilo que tanto nos faz falta trazido para cá, para perto de nós — mesmo que só por um instante.

Podemos rememorar, por exemplo, o dia do primeiro beijo, fato marcante de nossa vida de adolescente, quando vivíamos contando, ansiosamente, os dias para nos tornarmos adultos e, hoje, pisamos no freio do automóvel da vida na tentativa de que ande mais devagar e nos dê de volta o tempo que outrora tanto ansiamos pela sua velocidade.

Mas quero reviver, hoje, lembranças um pouco diferentes. Que tal trazermos à tona as memórias daquilo que um dia nos fizeram felizes? Sim, isso mesmo. Vamos trazer ao presente todos os momentos que, um dia, fizeram nossa criança feliz e permitir que nosso adulto esboce um belo sorriso de satisfação, de contentamento, de felicidade — por que não?

Ainda mora muito vivo dentro de mim pequenos relances dos nossos passeios de bicicleta. Aquela bicicleta verde, de pneus finos que por muito tempo ficou guardada nos fundos do quintal, mas que fora consertada e lavada só para passearmos juntos. Como é bom relembrar toda a satisfação e segurança quando me colocava na garupa, sentava-se à frente, passava tua mão protetora pelas minha costa e dizia: — Abraça a minha cintura com força para não cair. Aquela posição me dava tanta segurança e me ligava tão profundamente a ti que, ao relembrá-la, sinto o teu cheiro ainda entrando forte pelas minhas narinas, até hoje. Que saudade desse cheiro...

Veja só, lembra de quando me ensinou a pescar? — Vou fazer um caniço apropriado para o teu tamanho, e tenha cuidado para o anzol não enganchar na orelha quando for jogar na água. E isso dito com um certo ar de firmeza, de autoridade para que eu não esquecesse. E deu certo, nunca esqueci. E essas pescarias foram marcantes. Foi nelas que tu me ensinaste, pelo exemplo, muito da vida: a ser amigo dos amigos, a me tornar amigo dos teus amigos e a perceber o quanto esses momentos são marcantes e definidores de toda uma vida. Foi aí que aprendi a enxergar o mundo pela lente da igualdade. Lembro de tudo, tudinho. E continuo vendo tudo isso aqui pelo meu retrovisor.

Mas vou confessar que a música foi o ponto que mais nos ligou. Moço, é impressionante! Elas me fazem reviver com riqueza de detalhes os momentos vividos. E foram muitos. Um deles, quando já era um adolescente e estávamos ouvindo música juntos e o senhor decidiu que iria me ensinar a dançar. — Porque homem tem de saber dançar — dizia sorrindo entre um copo e outro de uma cerveja bem gelada. E me abraçava, me beijando as faces dizendo que o homem tinha de ter a coragem de expressar seus sentimentos. E rodopiava comigo na sala lá de casa ao som dos boleros que tanto gostava de ouvir. 

— Ainda hoje ouço essas mesmas canções e, também, ensino meus filhos a dançarem. E, também, os beijo calorosamente. Lição aprendida.

A vida é sempre um desenrolar de fatos que, por fim, nos apresenta lições de bem viver. E os nossos Mestres — Ah, os nossos Mestres! — são eles os responsáveis por tantos momentos que se tornam inesquecíveis e eternos. A ti, meu Mestre, toda a minha saudade.


























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