sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Coluna do Carlos Augusto Martins Netto

                             O UNIVERSO É UM BOTECO

Por Carlos Augusto Martins Netto - Servidor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Farmacêutico, Escritor e Poeta.

Todos acreditamos que o universo surgiu de uma grande explosão, o Big Bang, ocorrido há mais ou menos 4,5 bilhões de anos. Desde esse momento, tudo que existe no universo encontra-se em contínua expansão, ou seja, todo o universo ainda está, digamos dessa maneira, crescendo. Por outro lado, atualmente, alguns cientistas começaram a afirmar que o Big Bang ocorreu em virtude do forte encolhimento pelo qual o universo passava há época. Encolheu tanto que foi impossível manter tantos elementos presos em um espaço tão reduzido. A interação foi inevitável, e, também, a explosão. Esse pode ter sido o primeiro exemplo do fenômeno de fluxo e refluxo.

O universo é cheio desses exemplos. A periodicidade dos cometas a passarem pelas vizinhanças da Terra, o ciclo da Lua e de todos os planetas e satélites da Via Láctea em torno do Sol. E tudo isso regido por uma misteriosa e tênue interação definida pelos campos gravitacionais de cada um deles. A menor perturbação nessa intrincada harmonia trará consequências para todos.

Essa harmonia entre os planetas da nossa galáxia faz-me lembrar de um boteco e as relações entre seus frequentadores. Todos ali se encontram no mesmo universo, rodeado de variadas energias e variados humores, cada um tem suas particularidades e gostos. Há um estranho equilíbrio entre os convivas do boteco. E parece que qualquer desajuste desse equilíbrio, tal qual o universo, pode produzir consequências catastróficas.

Entretanto, as interações entre os personagens do universo, na maioria das vezes, são benéficas para todos. O posicionamento da Lua em relação à Terra propicia o fluxo e refluxo das marés. A maior proximidade do Sol em relação a alguns locais do nosso paraíso terrestre cria as condições necessárias para a formação de ventos, pois o ar quente tem a tendência de subir, sendo esse espaço ocupado por ar frio vindo de outra localização. E essa movimentação de massas de ar, dentre outras coisas, é responsável pela disseminação de sementes que darão sequência à renovação da camada vegetal; além disso, os ventos também irão influenciar nos regimes pluviais terrestres. Como vemos, esse perfeito equilíbrio é o responsável pela natureza das interações no universo e em (ou entre) seus planetas.

Experimente chegar a um boteco chutando as cadeiras, destratando as pessoas e se sentando no balcão. Big Bang. Sim, a harmonia do universo foi rompida e o resultado é o caos. Por outro lado, se adentramos cumprimentando a todos, pedindo uma cerveja gelada com uma porção de torresmo bem crocante para beliscar, criamos as condições necessárias para desfrutarmos de momentos agradáveis.

Contudo, as relações no boteco são mais complexas — como as do universo também o são — e é necessário que outras leis sejam levadas em consideração. Uma das formas de interação entre pessoas é a conversação. É por meio dela que nos aproximamos e temos a oportunidade de conhecermos o próximo para, quem sabe, evoluir para interações mais promissoras. Esse é um momento importante porque nosso comportamento em relação aos posicionamentos do outro ditarão o futuro da relação nascente e, até, se será possível terminar a cerveja pedida.

Nunca podemos nos esquecer de que o diálogo, incluindo o do boteco, também é regido pelas leis do universo. É o equilíbrio entre as interações dos bêbados — digo, frequentadores — que determinam a harmonia do lugar. É o reconhecimento de que o próximo tem direito de expressar suas convicções, concordemos ou não com elas. Sempre funcionou assim no ambiente democrático do boteco... e no universo.

— Abreu, desce mais uma daquele jeito!



























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