domingo, 15 de agosto de 2021

PEDREIRENSES PELO MUNDO: Coluna do Allan Roberth

 MARANHÃOS

Recentemente, vi uma publicação numa página de facebook, entitulada: “100% Maranhão”, na qual havia uma provocação em forma de frase para tentar saber se os maranhenses sabiam o que significava. A frase dizia mais ou menos assim; “Esse menino tá enguiando porque tá cheio de serôto”. Inúmeras respostas surgiram de pessoas que sabiam o que era “enguiar” mas não conheciam a palavra “serôto” ou vice e versa. 

Alguns comentavam que eram maranhenses mas não conheciam nenhuma e nem outra expressão. Fiquei pensando o quanto nosso estado é grande e diverso. O Maranhão possui 331.983 quilômetros quadrados, uma área igual ou superior a muitos países da Europa. Atualmente possuímos 6.851 milhões de habitantes espalhados em 217 municípios.

Fazemos fronteira com três estados, dois na região norte e um apenas no nordeste; a saber, Tocantins, Pará e Piauí. Em relação à região, somos considerados mais pertencentes ao norte do Brasil que propriamente ao nordeste.

As influências são as mais diversas e basta se aproximar das divisas para percebermos o quanto somos diferentes em costumes, linguagem, gosto musical, gastronomia, modo de ser. Um maranhense da microrregião do Gurupi chia tanto quanto os paraenses na pronuncia da consoante “S”.

Tenho a grata satisfação de conhecer 161 municípios dos 217 existentes. Devo isso à minha profissão de representante comercial que me permitiu ao longo de 26 anos de ofício, passar, parar, permanecer uns dias ou horas em cada uma dessas cidades.

Devido a isso, posso afirmar que existem vários Maranhãos dentro do Maranhão. As distâncias são gigantescas e chegam a inacreditáveis 1.034 quilômetros como no caso de São Luis x Alto Parnaíba, município que fica na divisa com o estado do Piaui.

É impossível para um maranhense da baixada por exemplo, estar lá e não se sentir em outro estado da federação. O clima é outro, os costumes são outros, a língua apesar de ser a mesma, mas possui inúmeras variantes que é capaz de deixar um ou outro literalmente “boiando” como se diz no linguajar popular, referindo-se à não compreensão do que é dito.

Recentemente estive em duas regiões distintas do nosso estado e pude perceber bem claro essa riqueza de palavras e expressões próprias de cada uma. Em São Raimundo das Mangabeiras ao comentar sobre o clima à noite no período de julho alguém retrucou;

- Eita que a “cruviana” vai judiar com gente de madrugada!" Fiquei sem entender nada apesar do contexto me indicar que era algo relacionado ao clima. Porém, fiquei pensando o que significaria especificamente a palavra “cruviana” que logo alguém se propôs a me explicar que é a friagem.

Em Imperatriz durante essa semana que passou estava em um local onde se vende café da manhã com iguarias diversas próprias da nossa culinária. Cuscuz de milho, de arroz. Bolos de milho, macaxeira, puba, tapioca. Então ouvi alguém solicitar; - Quero uma talhada de cuscuz de arroz, um bolo de tapioca e uma “orelha”.

Ao ouvir a palavra orelha e com vergonha de perguntar o que seria fiquei observando a simpática senhora que atendia, colocando os pedidos numa sacola plástica para ver se identificava a tal “orelha” quando vejo que com um pegador na mão ela ensacava um “bolo de arroz” enorme e redondo; diferente do formato do nosso tradicional bolo de arroz pedreirense. Confesso que sorri bastante ao relacionar o nome ao produto. 

Ainda no âmbito da linguagem, abro aqui um parêntese para falar de um produto que só no Maranhão possui inúmeros correspondentes, porém apenas em Pedreiras ele é chamado de uma forma única. Estou falando do nosso famoso “mike” que na maioria do estado é conhecido por suquinho ou dindim, mas pode ser chamado de chopp na divisa do Pará ou sacolé, em São Luis.

Somos muito em um e isso mostra a beleza de um estado que a partir da sua capital que, segundo a história, mesmo contestada, foi fundada por franceses, invadida por holandeses e colonizada por portugueses. Não esquecendo a influência negra e indígena.

No interior predominou a influência de sertanistas que fugindo da seca dos outros estados do Nordeste, povoaram muitas de nossas cidades imprimindo nelas seus costumes, linguajar e tradições.  

O resultado de tudo isso é esse turbilhão cultural que faz do povo maranhense único, rico e diverso. Um estado com vários outros dentro e, portanto, múltiplo, orgulho de quem admira essa singularidade.

* serôto - sujeira

* enguiar ou engulhar - ânsia  de vômito. 



























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