UM DIA FELIZ
Por Carlos Martins (23/06/2023)
O dia amanhece. Acordar cedo, pular da cama e cumprir rotinas de higiene pessoal. Tomar o caminho da cozinha, esfregar os braços com as mãos para se aquecer um pouco, a viração matinal do mês de julho incomoda um pouco logo cedo da manhã. A cozinha está um brinco, resultado dos dez minutos de blitz da noite anterior, antes de se recolher para o merecido descanso. Água fervendo, hora de vertê-la sobre o pó do café. Não demora muito e a casa inteira é invadida pelos odores vaporosos e estimulantes de um café recém-passado no coador de pano. É o aviso inequívoco de que o dia já começou. E serve como um despertador para toda a residência. Na verdade, mais se assemelha a um sinal de fumaça, uma mensagem cifrada a que todos atendem de pronto.
À mesa, xícaras emborcadas sobre pratos pequenos com colherzinhas dispostas ao lado. Beijús com manteiga aguardam calmamente uns sobre os outros. Ao lado, cesta de pães aquecidos no forno para ficarem mais crocantes e parecerem que tinham acabado de chegar da padaria, um bolo de macaxeira e um leite quentinho, ainda fumegante.
Sob à luz do raio de sol que adentra pela janela da cozinha, todos se acomodam à mesa. Sentam-se. Conversam animadamente, nem parece que ainda é muito cedo. Não importa. Esse cheiro de café quentinho estimula até não gosta. — E tem quem não goste de café? Bom, tem gosto pra tudo.
Aos poucos, a cozinha vai ficando quieta. Na mesa, migalhas que se desprenderam dos pães quando foram cortados ou mordidos; restos de café com leite em algumas xícaras esfriando e aguardando pelo derradeiro gole que não veio, talvez porque seu dono conversou tanto que perdeu a hora e teve de sair apressadamente. Cadeiras fora do lugar. Louças do café da manhã sendo lavadas, enxutas e guardadas.
Não demora muito e a cozinha volta a ficar solitária. O raio de sol mudou um pouco a sua inclinação. Mesa e cadeiras já estão novamente organizadas. Tudo quieto.
Entro. Sinto envolvente toque de leveza, satisfação. Paro, observo ao redor tentando entender o que se passa. Nada. Passo pelo raio de sol desfazendo momentaneamente a sua trajetória, sentindo sua quentura de vida em minha pele. Puxo uma cadeira, sento-me. Fico calado, só sentindo. Respiro fundo, vagarosamente. Levanto-me. — Estou pronto para o dia!
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