NA HORA DA DOR, DA TRISTEZA E DA MORTE, ELE ESTÁ JUNTO...!
(Raphael dos Santos Melo/Foto: Arquivo do Joaquim Filho) |
Hoje, dia 21 de janeiro de 2017, o Blog do Joaquim Filho
reservou algumas horas do seu precioso e abençoado tempo dado por Deus, para
escrever uma matéria referente a uma entrevista que fora feita no dia 24 de
julho de 2016, um dia de domingo, e por incrível que pareça, estranho o
momento: durante o cortejo do sepultamento do meu tio Moreno - que falecera e
foi sepultado nessa data -, no percurso MA que liga os municípios de Trizidela
do Vale a Bernardo do Mearim-MA.
O personagem da matéria é Raphael dos Santos Melo, filho do
senhor Borges Vieira de Melo, proprietário da Funerária Pax União, localizada
na Rua Miguel Atta, no centro da cidade de Pedreiras-MA.
Por se tratar de um rapaz com qualidades brilhantes, a sua
postura de um jovem cidadão sempre me causaram admiração pela sua pessoa e
inclusive, por desde muito cedo, ainda adolescente, ajudar o pai nos serviços
funerários, cousa que sempre fez com a maior naturalidade, embora aos olhos dos
populares já tenha sofrido preconceito e discriminação pelo que faz.
(Cemitério do Alto São José de Pedreiras-MA/Foto: Sandro Vagner) |
Então, seguia o cortejo naquela tardinha de domingo, o sol já
se pondo, pegava carona na cabine do veículo que transportava o corpo do meu
tio, e começamos a conversar, sem nenhuma intenção de depois publicar nas redes
sociais. Essa ideia de fazer a matéria nasceu depois.
Raphael, espontaneamente, começou a falar de si, do trabalho e
da sua família:
(Governador Nunes Freire-MA/Foto: Google Imagem) |
“Joaquim Filho, eu não
sou filho de Pedreiras, eu cheguei aqui na cidade com meus pais com um ano de
idade. Minha mãe é a missionária Célia Marques dos Santos Melo e meu pai como
você bem o conhece é Borges Vieira de Melo. Tenho uma irmã chamada Ananda
Borges, 20 anos. Eu fui fruto do pecado, nasci antes do casamento dos meus
pais. Eu nasci em 1992 na cidade de Governador Nunes Freire-MA. Meu pais vieram
para Pedreiras em 1993, mas meu pai já visitava Pedreiras porque tinha uma
funerária aqui. Minha mãe se encantou com meu pai ainda nova, era solteira e
tinha 17 anos. Meu pai era separado da esposa e tem 4 filhos com a mesma, que
já são adultos e todos formados e por sinal nos damos muito bem. Meu pai, com a
divisão dos bens do primeiro casamento, ficou com a funerária de Pedreiras. Viemos
morar em Pedreiras e desde 1993 estamos construindo nossa vida aqui, eu, meu
pai e minha irmã. Meu pai é goiano, nasceu em Goiânia e minha mãe de Governador
Nunes Freire-MA, cidade de extração de madeira muito enorme. Como já lhe disse,
meu pai era casado e assim que se parou ele conheceu minha mãe que trabalhava
em uma madeireira que existia lá na cidade. Quando minha mãe conheceu meu pai,
ela não era evangélica, já veio aceitar Jesus aqui na cidade de Pedreiras. Meu
pai não diz qual a religião dele, mas é um homem bom, vai vez por outra na
igreja e ajuda muita gente na cidade e isso é o mais importante. Sobre a
decisão de eu hoje está realizando o trabalho que faço na administração da
funerária, na verdade, o meu pai sempre quis que eu me formasse, assim como os
outros filhos, mas já como ele está com a idade já avançada, 56 anos, eu não
gostaria de vê-lo mais trabalhando tanto assim, sozinho. Então, eu larguei os
meus estudos um pouco - por enquanto -, para que eu pudesse ajudá-lo. De todos
os filhos, eu sou o único que ficou dentro de casa para ajudar o pai. Meu pai é
do tipo antigo que não confia em ninguém para fazer o trabalho dele, a não ser
a família. Hoje, praticamente, eu assumi o trabalho por ele, e desde os meus 15
anos que estou à frente do serviço funerário. Depois que completei meus 18 anos
e tirei a minha habilitação, aí sim, eu assumi praticamente todas as
responsabilidades na empresa. Terminei o ensino médio e fui buscar melhorias
nos estudos em outra cidade, pois é o normal de um jovem sair da sua cidade
para ir estudar fora. Fiquei somente seis meses. Mas acontece que todos os dias
eu ligava para a minha mãe e a mesma contava histórias do meu pai, que fazia
tudo sozinho, que já estava cansado do serviço, dormia mal por motivo do
trabalho da funerária, pois podia ser a qualquer hora. Então, a minha mãe dizia
que ele estava cansado. Refleti sobre e resolvi assumi as dores dele. Voltei
para Pedreiras e assumi de vez o trabalho na funerária.”
(Ananda, Célia, Borges e Raphael - vamos ficar devendo o nome do cachorrinho) |
Perguntamos ao Raphael se ele não pensa em voltar a estudar e
fazer um curso superior, principalmente na sua área, administração. Ele disse
que isso é um projeto que ele tem para a sua vida, quer sim, voltar a estudar e
fazer o seu curso superior. Mas isso só depois que resolver alguns problemas
financeiros que algumas prefeituras têm para com a funerária devido à economia
do país está passando por baixos momentos. Disse que no momento não está com
cabeça. Quer fazer algumas reformas na funerária, comprar um veículo novo, abrir
filiais e depois sim, voltar a estudar.
A partir desse momento passamos a ter um diálogo mais de
perguntas e respostas. E, a cada uma curiosidade nossa, Raphael, gentilmente, ia se
soltando e respondendo naturalmente.
(Raphael bebê e aos 24 anos de idade/Foto: "Facebook") |
Blog do Joaquim Filho – Raphael, me explica uma cousa: o que
significa um jovem na sua idade, simpático, está fazendo um trabalho desses?
Raphael Melo – Hoje já é bem mais fácil porque eu já tenho um
nome na cidade, já sou conhecido, já tenho vários amigos. Mas assim que eu
comecei esse trabalho, muitas pessoas me ignoravam, eu perdi amigos, eu não
conseguia arrumar uma namorada pelo fato do meu trabalho ser diferente. Para
muitos o meu trabalho é estranho, é esquisito e é uma coisa que eles acham que
não cabe a mim, um menino, um jovem, um rapaz da minha aparência e idade. Hoje
já é mais tranquilo, as pessoas já têm respeito por mim, embora, às vezes,
ainda sofra um certo tipo de preconceito com isso. Algo que eu ignoro.
Blog do Joaquim Filho – E o que a senhora Célia Marques, sua
mãe, pensa sobre isso?
Raphael Melo – Minha mãe, ela pensa assim, que eu deveria
estar fazendo uma faculdade e pensando no meu futuro. Mas como esse é um
negócio da família, onde aprendo diariamente com meu pai sobre o trabalho, eu
acho que não dá para falir e perder a minha vida e o meu futuro.
Blog do Joaquim Filho – Explique-me como funciona a questão
administrativa da funerária. As pessoas pagam um consócio, como é isso?
Raphael Melo – Sim, têm uns consórcios que são pagos de três
em três meses através de um valor bem baixo e que na verdade a pessoa não paga
não é um caixão, ela paga um consócio como se fosse de carro, uma carta de
crédito. Caso alguém da família chegue a falecer, essa pessoa tem um
determinado valor para escolher um caixão. Se por acaso ela quiser um mais
caro, vai pagar a diferença. O mínimo que a pessoa tem direito é o valor do seu
plano. Uma vez que acontece de alguém falecer, nós vamos à residência - que é o
caso desse teu tio aqui -, eles pagavam e por causa disso, agora não arcam com
despesa alguma. Eu tomo todas as providências do sepultamento. Se a pessoa
faleceu no hospital, eu vou lá e dou toda a assistência, assim como fiz com o
seu sogro e sua sogra e de muitas outras pessoas, e que você tem sido
testemunha do meu trabalho funerário e reconhece. Joaquim Filho, você tem um
trabalho voltado para o social, nossa família vê isso, e, sobre trabalho
social, às vezes, aqui na cidade por não ter necrotério e nem IML, quando
alguém se acidenta, quem faz esse trabalho sou eu. Eu vou à residência ou nas
ruas onde quer que tenha sido e faço a remoção junto com a Polícia ou Corpo de
Bombeiros e levo para o hospital e nem sempre acabo vendendo ou entregando o
caixão pelo município. Têm vezes que eu faço esse trabalho e quem sai ganhando
financeiramente é outra funerária pelo trabalho que eu realizei. Faço pela
família e por hoje ser convicto que tenho vocação e amor pela profissão que
abracei e gosto de fazer.
Blog do Joaquim Filho – As prefeituras de Pedreiras e
Trizidela do Vale têm convênios com a funerária para casos de famílias que não
podem comprar um caixão?
Raphael Melo – Sim. As prefeituras de Pedreiras e Trizidela do
Vale fazem isso sempre com quem não tem condições. Eles contratam os nossos
serviços e a partir daí nós fazemos o velório para a pessoa.
Blog do Joaquim Filho – Na vida a gente paga tudo, nada é de
graça: pagamos para nascer, viver e morrer. Raphael, já aconteceu de alguém que
está à margem da sociedade, que não tem amizade ou aproximação com políticos e
empresários, de morrer e não poder comprar o caixão e vocês ajudarem?
Raphael Melo – Joaquim Filho, isso já aconteceu várias vezes e
é o que mais acontece diariamente. Por várias vezes meu pai já doou caixão. Tem
vez que ele chega a um velório de pessoas pobres nas periferias, ele compra
café, açúcar, pão e às vezes até lâmpada para colocar na residência que não tem
energia usando da extensão que tem no carro e pede para algum vizinho. Isso
acontece muito com famílias desassistidas pelo poder público aonde a ação
social não chega e nem sabe que existe.
(Sepultamento de Carlos Nascimento/Foto: Joaquim Filho) |
Blog do Joaquim Filho – Morte é uma coisa que ninguém se
acostuma. Independente das pessoas que você faz esse trabalho funeral, deles serem
ou não seus parentes ou ligados a você, é um trabalho estranho, mas doloroso. O
que tem a dizer?
Raphael Melo – Sim. É um trabalho difícil na verdade. Mas ao
mesmo tempo, como a Bíblia mesmo fala que é muito melhor você está em um
velório, que há verdade, do que em uma festa onde há iniquidade. Isso serve
para a minha vida também. Eu aprendo a dar mais valor para as pessoas. Eu vejo
muito pai perdendo filho, filho perdendo pai e famílias se destruindo na
questão quando o tema é morte. Eu vejo isso no meu dia a dia e aprendo a tirar
lições de vida dando valor a meu pai, minha mãe e minha irmã. Eu sei que um dia
vou perdê-los, e quando isso acontecer, eu quero estar pronto para ver essas
pessoas partirem.
Blog do Joaquim Filho – Conheço sua mãe, uma grande mulher.
Sei que ela é evangélica da Assembleia de Deus. Você também é evangélico,
Raphael?
(Missionária Célia Marques, mãe de Raphael Melo/Foto: "Facebook") |
Raphael Melo – Sim. Eu sou evangélico. Entrei na igreja junto
com ela, quando eu tinha 2 anos de idade, no ano de 1994 que minha mãe aceitou
Jesus. Desde esse tempo que eu estou na igreja e nunca me desviei. Nunca entrei
em uma festa, nunca bebi, nunca fumei e nem sinto vontade de fazer essas coisas
do mundo. Graças a Deus eu sempre tive a cabeça no lugar para não me drogar e
não viver nesse meio. Eu sei que isso foi Deus em minha vida.
Blog do Joaquim Filho – Eu ia me esquecendo de perguntar a
data do seu aniversário. Quando você nasceu?
Raphael Melo – Eu nasci no dia 10 de novembro de 1992, na
cidade de Governador Nunes Freire, a cidade de minha mãe, mas em 1993 nós
viemos embora para Pedreiras e estamos aqui até hoje. Farei 25 anos agora em
2017.
Blog do Joaquim Filho – Mais alguma cousa que esse blogueiro
seu amigo e admirador se esqueceu de lhe perguntar que você gostaria de
acrescentar?
(Edvard Munch- Dance of Life, 1899-1900 – óleo sobre tela – 129 × 191 cm – National Gallery, Norway/Google Imagem) |
Raphael Melo – De acordo com o meu segmento e da maneira de
ver o sofrimento das pessoas e que o vizinho do lado não sabe que a pessoa que
perdeu um ente querido sofre muito, então, o que eu peço à juventude que não
gosta de velório, de ver ou visitar, é uma coisa que ninguém quer estar no
meio, pois as pessoas só querem estar em festa, festa e festa, eu aconselho a
darem a mais valor para as suas famílias, para os seus amigos, porque isso é
uma coisa que vai acontecer com todo mundo, ou seja, você morrendo ou você
perdendo alguém. Não importa quem seja, mas um dia esse sofrimento vai chegar a
você. Que possamos ter um pouco mais de amor no coração. Mais compaixão uns
para com os outros. Que nós possamos aprender com os erros dos outros. Que
possamos dar mais valor para a nossa vida, pois sempre tem alguém que está em
uma situação pior do que a nossa. Não devemos ignorar as situações, temos que
tomar como experiências. Vendo o que eu vejo sempre, que possamos ter um pouco
mais de respeito à vida e amor a Deus.
Blog do Joaquim Filho – Raphael, quando você faz um velório e
um sepultamento de uma pessoa, seja ela o maior empresário da cidade até o
cidadão mais pobre da periferia, isso não faz nenhuma diferença, todos vão para
o mesmo buraco. O que você tem a falar sobre isso?
Raphael Melo – Eu sempre digo e sei que é feio dizer isso, mas
a verdade é que todos vão cheirar mal do mesmo jeito.
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Conheço o Rafa é muito empenhado no que ele faz e sem falar que tem um core enorme.Adoro esse Preto
ResponderExcluirÓtima matéria.Me prendeu como leitora
ResponderExcluirNossa Rafael! Lembrei de minha sogra. Ela costuma falar que já viu tanta morte linda, e acho muito esquisito ela falar isso, às vezes nem gosto de ouvir ela falar. Agora sabe o que achei do seu trabalho ? Lindo e chique. (Estranho né).
ResponderExcluirConheci sua mãe. Ela veio pregar em nossa cidade no congresso de mulheres em nossa igreja.
Um Abraço Deus continue abençoando toda sua família.
Conheço Rafael há 10 anos, tenho orgulho do grande homem que se tornou. Um jovem muito admirável. Que Deus abençoe seus projetos meus amigo. Parabéns pela materia.
ResponderExcluiradmiro muito o trabalho dele . QUE Deus continue abençoando todas as áreas da sua vida.
ResponderExcluirDeus te abençoe Raphael . Homem de coração grande te admiro muito Deus te abençoe sempre
ResponderExcluirRaphael é meu vizinho, ele e a família dele são pessoas de bom coração.
ResponderExcluirSempre ajudam a quem precisa e trabalham de forma idônea.
Além de vizinho o Raphael é meu amigo e realmente possui a boa índole que foi demonstrada na matéria.
É um homem que tem meu respeito e admiração.
-Júlio César