terça-feira, 5 de dezembro de 2017

ALDO GOMES É O MAIS NOVO IMORTAL DA APL

Discurso de posse de Aldo Pereira Gomes na Academia Pedreirense de Letras, em 25 de novembro de 2017
(Aldo Gomes recebendo Diploma de Acadêmico das mãos do Confrade Dr. Allan Roberto)

Excelentíssimos Senhores Kleber Lago e Edivaldo Santos, presidente e presidente em exercício, respectivamente, da Academia Pedreirense de Letras; Excelentíssimo Senhor prefeito de Pedreiras Antônio França; Vereador Elcinho e demais componentes da Mesa; minha digníssima esposa Ilma, cunhada Iolanda e demais parentes, amigos e amigas que atenderam o nosso convite e nos dão a honra da vossa presença.

(Aldo Gomes com a esposa Ilma)

Senhores e Senhoras,

A vida nos reserva passagens de tal sorte, que possíveis lacunas produzidas com sensação de infinitude em um dia com ares de temporais fortes e ameaçadores, transformam-se de relance e sem prenúncio que nos prepare o espírito, em suave bonança e docílima leveza para nossas almas. Difícil externar com clareza e precisão que sentimentos me embalam e movem o meu ser quando da minha ciência de que o meu nome fora aprovado para compor a plêiade de membros da Academia Pedreirense de Letras, daí passando a integrar o seleto grupo de homens e mulheres desta amada terra ou que a adotaram amavelmente para viver e se propuseram ao suave trato das letras, como bons artesãos da palavra, para lhes extrair o néctar, o melhor da sua essência, pela singela e doce ousadia, aparentemente possível, de alcançar o inalcançável. Percorreram-me as veias, o coração e a mente não só o sangue e sensações atípicas afeitas aos fatos auspiciosos, mas e, sobretudo aura leve, amaciante do ego, a suscitar nova investida do tempo, apontando para um horizonte mais amplo e próximo, mais real e acolhedor dos melhores desejos e aspirações que rondam nossos sonhos. Senti-me em estado inebriante, que de antemão, como um primeiro exercício ainda que inacabado sobre as minhas tendências literárias, fizeram-me percorrer épocas e contextos, experimentando extremos como ansiedade e bem estar; certezas e dúvidas; alegria sem par e sensação do peso da responsabilidade. Mas prevaleceu a convicção de que novas portas se abrem para um futuro alvissareiro da compreensão do ordenamento social calcado na honra, no respeito e no amor ao próximo. Sentindo-me neste espaço estimulador e rejuvenescente, logo imaginei quão surpreendente foi a reação de Pero Vaz de Caminha ao chegar à nossa amada terra Brasil e contemplar suas belezas naturais, que o inspiraram a escrever a famosa Carta de Caminha, primeiro documento literário brasileiro, para enviá-la ao Rei Dom Manuel, século XVI! Tal fato histórico de caráter documental e informativo conteve espírito nativista e ufanista, ao esboçar forte patriotismo, enaltecendo o próprio país e deu início ao gênero e escola literária conhecida como Quinhentismo. Prosseguindo a viagem mental e na contemplação das escolas literárias ao longo do tempo, diligentemente fui ao período Barroco, século XVII, muito bem representado pelo insigne Pe. Antonio Vieira, prosador, autor do célebre Sermão da Sexagenária. Lembrei ainda uma certa ocasião em que alguém, opinando sobre um texto que eu publicara a despeito de um tema de momento, caracterizou-o nos moldes literários do preciosismo, do virtuosismo e do rebuscamento, que segundo deixou nas entrelinhas, remeteria a uma ornamentação exagerada, mesclada a um jogo sutil de palavras, qualificações estas inerentes ao estilo Barroco.

(Aldo Gomes e Família)

Face ao evento do meu ingresso na Academia Pedreirense de Letras e às reações que naturalmente me tomaram de surpresa, algo mais estimulante multiplicou minha alegria: o meu assento na Cadeira nº 18, cujo patrono, João Alberto Rodrigues de Sousa, médico de renome e de família tradicional, foi o cirurgião que fez o parto cesariana da minha digníssima esposa, que deu à luz minha filha caçula e esta, por uma feliz coincidência, seguirá a mesma profissão do querido e saudoso João Alberto, a quem sucedo nesta Cadeira com orgulho e satisfação,  porém com a responsabilidade e o desejo de fazer jus à bela história deste ilustre cidadão, que foi alvo do carinho, gratidão, respeito e admiração dos pedreirenses e de todos que tiveram o prazer de conhecê-lo. Sequenciando a dita viagem pelo tempo à qual não pude fugir, com celeridade percorri estilo e natureza de várias escolas e suas características literárias e me encontrei brevemente em cada uma delas, destacando ainda o Arcadismo, que cultiva o ideal de vida simples, inserida à natureza; o Romantismo, em que se sobressai a emoção, o sentimento, o subjetivismo,  o nacionalismo,  o ilogismo  e  nas  suas  manifestações  a  presença  marcante  de metáforas, lembra o grande poeta da Canção do Exílio, Gonçalves Dias; o Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo, que ocorreram ao mesmo tempo, séculos XIX e XX, período da Proclamação da República e da Primeira República, caracterizaram-se como literatura de combate social, crítica à burguesia e pelos temas contemporâneos e faça-se, no Realismo, menção especial ao grande Machado de Assis; no Naturalismo Aluísio Azevedo, com O Mulato e O Cortiço e Raul Pompéia, com O Ateneu, retrataram, como aspectos que mais atenção me despertam, entre outras questões, a que trata das pessoas marginalizadas pela sociedade, e neste particular, cabe ao iniciante do academicismo das letras que ora vos fala, a confirmação de que atuar de todas as formas possíveis e ordeiras em defesa das pessoas marginalizadas, visando seu soerguimento social, será uma das minhas bandeiras de luta _ e creio que de todos os meus notabilíssimos confrades, veteranos e iniciantes _  nesta instituição pedreirense de letras, no entanto sem o estigma do vitimismo e do coitadismo _ permitam-me o termo, se puderem, que em tempos recentes alguns _ repito, alguns _ proclamados formadores de opinião, comunicadores, estudiosos da sociologia e áreas afins tentam a todo custo disseminar, sem falar aqui sobre que propósitos e motivações estariam nas entrelinhas de tal comportamento.

(Aldo Gomes fazendo seu discurso de posse, sendo auxiliado pelo Confrade Samuel Barrêto)

Quanto a nós outros, que nos reputamos com humildade e ponderação verdadeiros lapidadores das letras, intelectuais, estudiosos da história dos povos, das sociedades e suas relações intra e extraterritoriais com seus desdobramentos e rumos para melhor compreendê-las e sobre elas influir positivamente, devemos cultivar a virtude da isenção, da moderação, da ética, do amor ao próximo, sem perder de vista a assunção da responsabilidade que ora nos assiste, no patamar que Deus nos reservou e na convicção de que a vida com dignidade é um direito universal e, destarte, considerar os cidadãos e cidadãs, dos mais humildes e que vivem à margem da sociedade até os mais célebres e agraciados pela sorte e pela vida, como pessoas dignas das mesmas oportunidades, com iguais direitos e deveres, cabendo-nos respeitar e até, sempre que for o caso, zelar pelas conquistas e vitórias de quem dignamente as obteve, e atuar com afinco e intransigência, no sentido da adoção e criação de meios e mecanismos para inserção dos mais humildes e desventurados, que vivem no ostracismo e na marginalidade, quer tenham chegado a isto por suas condições intrínsecas ou por culpa da sociedade e inseri-los, como dizia, em um contexto social e familiar que lhes permita uma vida feliz e somatória para o alcance do bem estar, da dignidade e da cidadania de todos.

Isto se sobrepõe a qualquer caracterização e contexto histórico que possam nos direcionar a uma escola literária, à qual nos ligamos pela essência das expressões dos nossos sentimentos e convicções, que não se espelham apenas nas letras, mas em nossas práticas diárias e nas impressões que passamos a outrem, emanadas no exemplo que damos nos trâmites corriqueiros do labor da vida.

O solene momento em que nos alegramos com o ingresso de novos membros nesta conspícua entidade ornamentadora das letras, imponente, porém acessiva e singela, marca, na nossa humilde visão, importante passo na decisiva caminhada para a conquista de uma sociedade mais justa e igualitária, cuidando para que não prevaleça em um novo perfil de convivência social a permuta inútil de opressores por oprimidos, em uma configuração na qual estes passariam a exercer o papel daqueles, porquanto assim estaríamos nos reduzindo à cinzas de um modelo de vida outrora esperançoso e assumindo a própria ruína, no insano processo destrutivo de valores que resistem ao tempo e à frívola modernidade e nos alçam à condição de firmeza e determinação na defesa do bem e da fraternidade entre pessoas, povos e nações, a começar não por lugares mais distantes na imensidão do mundo, mas do local onde vivemos, nossa acolhedora Pedreiras junto à mui forte e querida Trizidela do Vale, o Maranhão berço de heróis, a gentil Pátria Amada Brasil. Citação reverente e carinhosa a Trizidela do Vale, pelo recado de alvíssaras que nos envia o nosso coração, de que estamos cada vez mais ligados pelos laços da amizade, do respeito e da fraternidade, e mesmo reconhecendo sua organicidade institucional própria em relação à cidade-mãe, Pedreiras, são para nós como gêmeas siamesas, indivisíveis nas nossas almas, e formam um coral uníssono, deslumbrante e inspirador dos nossos sonhos.

Sobre este iniciante na Academia Pedreirense de Letras, filho desta amável terra por adoção de cidadania, a terra de João do Vale, a Princesa do Mearim sempre exerceu encanto especial, juntando-se a isto a minha formação universitária em engenharia agronômica e pós-graduação em Planejamento do Desenvolvimento Municipal Sustentável pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura e Universidade Estadual do Maranhão e agraciado por Deus pelas várias experiências profissionais técnicas de campo e gestões públicas administrativas estaduais e municipais, vislumbrei, de fato, no nível municipal, dar significativa e marcante parcela de  contribuição,  correspondente  às   demandas   e  aspirações   dos pedreirenses.  

(Ilma, Antônio França e Aldo Gomes)

Valendo-me  de  formas  de expressão popular de sensações momentâneas, diria que tive “oportunidades de ouro”, como secretário municipal de agricultura e a seguir como secretário de planejamento, ainda recentemente. Inovei, quebrando regras e tabus para realizar sonhos populares e deixar marcas inextinguíveis como frutos da boa-fé e justos propósitos, em estima e respeito ao bem maior de que se orgulha Pedreiras: o seu povo. Não sendo, porém, oportuno e de bom alvitre entrar a fundo nesta seara, e parodiando o pensador Carl Jung, fundador da psicologia analítica, não poderia omitir o fato de que “eu não sou o que aconteceu comigo, eu sou o que escolhi me tornar”. Ou ainda: ...eu sou a verdade contida naquilo que pude realizar.

O acontecimento que ora realizamos reveste-se de um sentido precioso, garboso e impactante para Pedreiras, assinalando de forma solene e brilhante o nosso ingresso neste meio constituído por eméritos iluminadores das letras e acende edificantes perspectivas de interação com a sociedade como um todo, estimuladora do bom entendimento e da imprescindível troca de saberes em que prevalecerá a simplicidade e a boa vontade recíprocas para o bem estar de todos. Por oportuno aqui lembramos as palavras do ilustre educador e pensador Paulo Freire, quando afirma que “não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes”. É neste espírito de humildade, perspicácia e interação social para as transformações, que podemos caminhar melhor e alcançar melhores tempos, em um processo de construção coletiva e concatenada. 

Para amaciar o ego, suavizar as emoções, avivar a esperança e dar um lustro especial ao que aqui e agora se realiza, fortalece-nos o sentimento de que os assuntos a serem abordados por todos nós que formamos esta egrégia instituição literária, sê-lo-ão com ânimo e alegria de quem edifica para agasalhar a todos e se move nos caminhos do bem, procurando o entendimento dos fatos, buscando e integrando forças e fatores, que melhor se adequem àquilo que pertine às aspirações dos nossos compatriotas. 

Digníssimos senhores e senhoras que mui amavelmente dedicaram um pouco do precioso tempo e assim nos prestigiam, participando conosco do grande significado deste enlace, creio, ainda, que a vossa enfática presença nos deixa um recado e uma certeza de que podemos _ elegendo Pedreiras e Trizidela do Vale como nosso chão e ponto de partida _ materializar juntos uma sociedade mais humana. Admitimos, pelas experiências na caminhada através das estradas da vida e pelo grau de maturidade e sensatez auferidos e acumulados ao longo da jornada, que no recinto nobre e altissonante em que adentramos, na ânsia inevitável e natural de avançar para as justas e relevantes conquistas a que nos propomos, haverá momentos de discordâncias e divergências no trato das questões apreciadas, porém nos regozijamos ao saber, como cônscios que somos da missão a realizar e da nossa estatura e importância perante a sociedade, que possíveis divergências afinal produzirão convergências; as discordâncias, concordâncias; constrangimentos, congraçamento, de sorte que não haverá vácuos que não possam ser preenchidos pela materialização do bom senso e da sabedoria e esta não vem do homem, mas de Deus que a ele a concede. Idem, não perder de vista a sensível declaração do escritor e jornalista inglês George Orwell, século XIX, como ossos do ofício do pensador: “Em tempos de embustes universais, dizer a verdade se torna um ato revolucionário”. Sobre estes relatos resta apenas mencionar, até mesmo no fito de espairecer, no domínio das emoções, um pensamento marcado pela espontaneidade do poeta e escritor modernista Mário Quintana, que diz: “Há duas espécies de chato: os chatos propriamente ditos e os amigos, que são os nossos chatos prediletos”. E acrescento: Se todos vocês aqui presentes fossem chatos _ e sei que nenhum é _ seriam todos e todas chatos da minha predileção!

Enfim, confrades e confreiras, a quem desejo todo o sucesso na nova empreitada, amigos e amigas, não desejando em hipótese alguma esgotar a paciência e a boa vontade de vocês, que até o momento, felizmente, ainda não esboçaram qualquer gesto de incômodo _ vejam só! _ mínimo que seja, apesar do calor, na audiência das minhas palavras e do meu timbre de voz não suavizante, nem penetrante, nem tão agradável quanto eu gostaria, contudo na ousadia de reservar saldo positivo da vossa tolerância para possíveis outras oportunidades, agradeço a todos pela atenção, pelo apoio, carinho, compartilhamento e consideração demonstrados. 

Avante, pois, juntos, podemos mais, e as consequentes conquistas terão as impressões digitais de todos nós. Obrigado!

























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