quinta-feira, 23 de maio de 2024

ESPAÇO ACADÊMICO: Coluna do Padre José Geraldo Teófilo da Silva

INDIGNAÇÃO E CORAGEM 

Padre José Geraldo - Reitor do Santuário de São Benedito/Foto de Sandro Vagner

Santo Agostinho dizia que a Esperança tem duas filhas lindas: a Indignação e a Coragem. A indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão, enquanto a coragem nos ajuda a mudar essas coisas. Portanto, na visão agostiniana, a esperança não é simplesmente esperar, mas sim agir. Esperança, nesse contexto, é um convite para vivermos profundamente o presente, que é o que realmente temos, enquanto reconhecemos e aprendemos com o passado.

Santo Agostinho - Imagem ilustrativa, retirada do Google em 23.05.2024, às 16h30, por Joaquim Filho

Para Santo Agostinho, viver na esperança significa agradecer o passado que já vivemos e que continua a viver em nós através de seus ensinamentos. No entanto, ele adverte que não podemos nos prender a esse passado. Pessoas que ficam presas ao passado são atormentadas por ele e enfrentam dificuldades em perdoar os outros e a si mesmas. É essencial deixar o passado para trás e entender que ele passou, conforme ilustrado pela famosa metáfora de Heráclito de Éfeso: “não se pode banhar duas vezes nas águas de um mesmo rio”, pois as águas estão sempre fluindo e a vida está sempre passando.

Olhar para o passado com gratidão é importante, mas igualmente vital é olhar para o futuro e reconhecer que ele existe. Isso é esperança: não viver o presente com medo do futuro, nem desejar que o tempo passe mais rápido do que o necessário para que o futuro chegue antes de seu tempo. Esperança é, portanto, uma atitude de espera ativa, de esperançar, de agir.

Imagem ilustrativa, retirada da Internet em 23.05.2024, às 16h39, por Joaquim Filho

Retornando a Santo Agostinho, ele nos orienta a identificar aquilo que merece nossa indignação, para que possamos transformar essas situações através de nossas ações corajosas. A coragem, então, não é apenas um ato de bravura momentânea, mas uma força contínua que nos impulsiona a agir diante das injustiças e dificuldades.

Por outro lado, há aspectos da vida que não dependem de nós, como a duração dos dias, das estações e das dores que sentimos. Reconhecer essas limitações também faz parte do significado da esperança. Saber diferenciar entre o que podemos mudar e o que está além do nosso controle é fundamental para viver uma vida esperançosa e equilibrada.

Esperança, portanto, não é uma espera passiva, mas um estado ativo de ser. É uma vivência profunda do presente, um aprendizado constante do passado e um olhar confiante para o futuro. Através da indignação, reconhecemos as injustiças e as situações que necessitam de mudança. Através da coragem, tomamos as ações necessárias para realizar essas mudanças. E, através da verdadeira compreensão da esperança, aceitamos as limitações da vida, agindo dentro do possível e confiando no processo da vida. 

A esperança, nessa perspectiva agostiniana, é uma força transformadora. Não é um simples aguardar passivo, mas uma ação contínua e corajosa em busca de um mundo melhor. Ela nos impulsiona a agir hoje, com os olhos no futuro, enquanto somos gratos pelo passado.  Vivemos o presente com intensidade e significado, sabendo que cada momento é único e insubstituível, assim como as águas de um rio que continuam a fluir.


















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