quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

O BRASIL FESTEJA 90 ANOS DE JOBIM, AUTOR DE MÚSICA BELA, MODERNA E JÁ ETERNA

90 ANOS DE TOM JOBIM

((Crédito da imagem: reprodução da arte gráfica do álbum Stone flower)
Por mais que já soe como clichê, o epíteto maestro soberano traduz com fidelidade a supremacia de Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim (25 de janeiro de 1927 – 8 de dezembro de 1994) no cancioneiro brasileiro. Tom maior da música produzida no Brasil na segunda metade do século XX, Jobim foi dos grandes compositores do mundo. Um gênio que deixou vasta coleção de obras-primas. Tanto que hoje, 25 de janeiro de 2017, dia em que o universo pop festeja o 90º aniversário de nascimento deste carioca que tinha a origem brasileira no sobrenome, já não vale mais o clichê de que o Brasil perdeu o tom. Sucessivos álbuns dedicados ao cancioneiro de Jobim – lançados por Vanessa da Mata em 2013, Chitãozinho & Xororó e Vinicius Cantuária em 2015, Carminho em 2016 e Danilo Caymmi e Fernanda Cunha neste mês de janeiro de 2017, para citar somente alguns recentes discos de artistas brasileiros como o que uniu Caetano Veloso e Roberto Carlos em 2008 – sinalizam que a música do maestro está viva e continua sendo ouvida e gravada no Brasil e no mundo.

(Foto: O Globo)

Sim, o cancioneiro de Jobim reina e paira soberano acima dos caprichos mercadológicos do universo pop. Jobim compôs a trilha sonora de um Brasil que, ao menos na música, deu certo no século XX. Um Brasil que começou a ficar industrial e musicalmente moderno no período em que o compositor esteve em cena, do início da década de 1950 até 1994. Só que, se o país desandou, a modernidade da música do compositor permaneceu atemporal, associada à revolução estética da Bossa Nova, mas não restrita ao cancioneiro cheio de bossa apresentado por João Gilberto em 1958. Até porque a música sempre viva de Jobim também está entranhada nas matas, sofre a benéfica influência do jazz, flerta com a música clássica (Saudade do Brasil, sublime tema instrumental de disco de 1976, explicita tal aspiração) e bebe da fonte do cancioneiro de outro soberano compositor carioca, Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959), maestro erudito que saiu de cena quando Jobim estava em plena ascensão com a composição de obra autoral impregnada de beleza tão universal que foi capaz de inserir o Brasil definitivamente no mapa-múndi da música a partir de 1963, ano da gravação, nos EUA, do álbum The composer of Desafinado plays, pedra inaugural da obra fonográfica de Jobim.

(Foto: O Globo)


A música de Jobim é por vezes carioca como o compositor, como evidenciam o Samba do avião (1962), a Garota de Ipanema (Antônio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1962) e o jeito de andar da musa inspiradora de Ela é carioca (Antônio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1963). Mas essa obra também tem canções de um amor demais que podem ter nascido em qualquer parte do mundo ao mesmo tempo em que é, também, uma obra bem brasileira, do ecológico Brasil rural de Matita Perê (Antônio Carlos Jobim e Paulo César Pinheiro, 1973).

(Tom Jobim com João do Vale cantando em um almoço/Foto: O Globo)

Urbano ou rural, o cancioneiro de Jobim sempre foi pautado pela sofisticação melódica e harmônica – requinte contrabalançado pela habitual coloquialidade das letras (nesse quesito, a parceria com o poeta Vinicius de Moraes foi fundamental). Jobim fez música refinadamente popular. Por isso, a obra do maestro continua soberana e viva no momento que são celebrados os 90 anos de nascimento do compositor. Jobim foi gênio que soube celebrar a vida numa música bela e moderna, destinada a ser eterna. A vida é breve. Mas a arte, se verdadeira como a música de Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, é sempre longa.


Fonte G1 – Por Mauro Ferreira 








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