domingo, 15 de janeiro de 2017

ROMPENDO O SILÊNCIO!

DOM JACINTO BRITO: 45 ANOS DE VIDA SACERDOTAL
(Arte enviada via WhatsApp por Nilda Rocha) 

A última vez que recebi uma correspondência de Dom Jacinto Brito, foi alusiva à passagem de um dos meus aniversários, que eu já não me lembro mais o ano, só sei que já faz um bom tempo. Ele não esquecia a data do meu aniversário, assim como de quem ele é amigo. No final da mensagem, a seguinte frase interrogativa: “Por que o silêncio?” Confesso que a interrogação mexeu comigo mais do que a mensagem de aniversário que o meu amigo me estendia naquele momento através de um gesto nobre que tínhamos no passado e que os tempos hodiernos nos roubaram: a cultura de escrever cartas e enviar pelos correios, assim como cartões postais, de aniversário, casamento, natal, etc.

O tempo passou, assim como continua passando; e, eu, nunca respondi ao amigo sacerdote o porquê do meu silêncio. Aquela pergunta ainda hoje me persegue. Carrego-a como um grande pecado cometido, ou tal qual um horrendo segredo que torturou a minh‘alma de cristão por todos esses anos. E, finalmente, hoje, dia 15 de janeiro de 2017, data do seu aniversário de vocação sacerdotal, 45 anos como sacerdote, eu, como quem revela um sigilo ou segredo de Estado, quebro o meu silêncio.


A minha aproximação com Dom Jacinto Brito se deu nos primeiros meses do ano de 1980, eu tinha 15 anos de idade, tinha acabado de me mudar do antigo bairro Tresidela para a Rua Pinto Saldanha, no bairro do Cantinho de Cima, no mesmo lugar onde hoje ainda vivem meus pais. Fui convidado pelo meu saudoso amigo de infância Ribinha para participar de uma Missa dos jovens na Igreja Matriz de São Benedito. Eu estava bem na frente, ao lado direito da Igreja, local onde ficam os músicos e as pessoas fazem as leituras e as preces. Lembro-me que quando ele foi fazer a homilia para os jovens, se dirigiu à minha pessoa e perguntou quem eu era. Disse-lhe que morava na Tresidela e que tinha me mudado para o “outro lado”, que um amigo meu havia me convidado para assistir à missa. Eu estava com uma camisa do Vasco e, ele, por ser flamenguista, até brincou comigo por causa da camisa. Foi uma saudação de uma amizade pura e sincera à primeira vista.

Foi o primeiro sinal para em pouco tempo eu já está fazendo parte dos grupos da Igreja, como Acólitos, grupo de jovens Todos Ligados em Cristo – TLC, Coral São Benedito e por fim o grupo Vocacional. Esse último era uma espécie de seminário dentro da Paróquia que preparava os jovens que queriam ser padres a irem para o Seminário em Fortaleza-CE.

Eu convivi dentro da Casa Paroquial com Dom Jacinto Brito por 10 anos ininterruptos, ou seja, de 1980 a 1990, até o dia em que comprei uma passagem para ir aventurar a vida em São Paulo por 7 (sete) anos. Foi uma década de vida dedicada aos trabalhos pastorais e convivendo com um homem de Deus, extraordinário, que me tirou do anonimato, da vida simples e apagada que eu tinha e me preparou para a vida. Depois de Deus e da minha família, tudo que eu sou, eu agradeço a Dom Jacinto Brito, que me ensinou a ver o mundo com os olhos de cristão, de intelectual, de poeta e de ser humano.

Os longos anos que passei dentro da casa paroquial me permitiram ser o Joaquim Filho que hoje sou: se não aprendi acumular bens e dinheiro, lá, foi uma universidade da vida, que me ensinou valores éticos, princípios de moralidade e respeito às leis e às autoridades. Eu diria que a convivência na Paróquia de São Benedito me humanizou. Fez-me ser consciente, crítico e me ensinou a ver o mundo por uma janela que eu mesmo construí, para não ser expectador de galáxias de estrelas que ofuscam luzes de ilusão.


A lembrança que guardo mais forte de Dom Jacinto, uma prova da nossa relação de convivência e amizade é a obra "A Fonte das Pedreiras", um livro que narra a história da Paróquia de São Benedito, mas que tem uma grande contribuição de geografia, cultura, antropologia e muito mais da nossa região, o qual ele escrevia à mão e eu e Jamil Leitão tínhamos o trabalho de datilografá-lo e depois rodar em mimeógrafo para ser editado no estado de Santa Catarina, por umas irmãs de um mosteiro. Além do jornalzinho Leva e Traz e as folhas de cânticos que fazíamos à base de stencil e mimeógrafo. Anos depois esse livro me serviu de pesquisa para compor a música de São Benedito no ano de 2015, que teve como parceiros Henrique Pedras Verdes e Neto Kawakus. 

Em setembro de 1990 fui para São Paulo. Mas antes que eu partisse, Dom Jacinto Brito me surpreendeu com uma Bíblia de presente que eu levei comigo e ainda hoje a tenho, com uma dedicatória que dizia assim:

(São Paulo, bairro Ipiranga, 1991, recebendo uma visita de Dom Jacinto)

“Joaquim Filho, querido amigo e irmão na fé! A nossa amizade nasceu à sombra da “Palavra de Deus” e dela se nutriu. Oferecendo-lhe este exemplar da Bíblia Sagrada, na hora de sua partida para uma nova etapa de sua jornada, desejo-lhe que em sua busca a bússola do Evangelho lhe oriente e a graça do Cristo lhe sustente os passos. I Timóteo 6, 11-15 é o que completa este meu escrito. Com saudades e a amizade de sempre: Padre Jacinto Brito. Pedreiras (MA), 28 de agosto de 1990.”



Dom Jacinto Brito me ensinou a ler bons livros, clássicos da literatura mundial, incitava-me a ler jornais, revistas e estar sempre plugado nos acontecimentos do mundo. Quando emprestava ou dava de presente um livro, queria saber se realmente eu tinha lido, e cobrava, exigia que fizesse uma impressão sobre o conteúdo do mesmo. Não tinha como mentir e dizer que tinha lido, sem tê-lo. Um exímio tudo: orador, escritor, pregador, disciplinador, organizado, perfeccionista e cumpridor da palavra e dos compromissos que marcava.  


Quando eu retornei de São Paulo em 1997, ele já não estava mais sendo Pároco da Igreja Matriz de São Benedito, tinha ido ser reitor no Seminário Santo Antônio em São Luís-MA, depois Bispo de Crateús-CE e, em seguida, Arcebispo de Teresina/PI. E, foi justamente desse período para cá, que nós nos afastamos e nos perdemos de vista, mas sem nenhum motivo aparente ou mais forte que eu duvido que guardássemos mágoa um do outro.

(Igreja e Seminário de Santo Antônio/São Luís-MA/Foto: Google Imagem)

Nesse dia em que o amigo completa 45 anos de vida sacerdotal, eu quero quebrar o meu silêncio e fazer chegar até ele os meus mais sinceros votos de felicidade e pedir que o bom Deus que ele tanto anuncia ao mundo possa sempre fazer dele um sacerdote abençoado e cheio de graça.


4 comentários:

  1. "Belíssima história amigo !!

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  2. Joaquim esse na foto é Cícero (Pintão)?

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  3. Joaquim esse na foto é Cícero (Pintão)?

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  4. Verdade, amigo, é meu primo sim, de Poção de Pedras, que na época morava também em São Paulo.

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