COLUNA DO PROFESSOR RICARDO GONÇALVES
*Ricardo Costa Gonçalves
A população negra é a mais atingida pela
desigualdade e pela violência no Brasil. É o que aponta a Organização das Nações
Unidas (ONU). De acordo com o Ministério Público do Trabalho, no mercado de
trabalho, pretos e pardos enfrentam mais dificuldades na progressão da
carreira, na igualdade salarial e são mais vulneráveis ao assédio moral.
Segundo o Atlas da Violência 2017, a população negra também corresponde à maioria
(78,9%) dos 10% dos indivíduos com mais chances de serem vítimas de homicídios.
(Foto ilustrativa retirada do Google Imagem em 24.11.2017, às 08h12) |
Para a diretora executiva da Oxfam, Kátia Maria, em
entrevista à Carta Capital, o Brasil é um país que convive com uma desigualdade
estrutural, especialmente em relação à questão racial. De acordo
com o IBGE, mais da metade da população brasileira (54%) é de pretos ou pardos,
sendo que a cada dez pessoas, três são mulheres negras.
De acordo com pesquisa realizada pela ONG britânica
Oxfam, apenas em 2089, daqui a pelo menos 72 anos, brancos e negros terão uma
renda equivalente no Brasil. Em média, os brasileiros brancos ganhavam, em
2015, o dobro do que os negros: R$1589, ante R$898 mensais. Ainda, 67% dos
negros no Brasil estão incluídos na parcela dos que recebem até 1,5 salário
mínimo (cerca de R$1400). Entre os brancos, o índice fica em 45%.
(Foto ilustrativa retirada do Google Imagem em 24.11.2017, às 08h12) |
De acordo com os dados do Mapa da Violência 2015,
elaborado pela Faculdade Latina Americana de Ciências Sociais, o feminicídio que é o assassinato de mulheres por sua condição
de gênero, também tem cor no Brasil: atinge principalmente as mulheres negras.
Entre 2003 e 2013, o número de mulheres negras assassinadas cresceu 54%, ao
passo que o índice de feminicídios de brancas caiu 10% no mesmo período de tempo. Uma
prova de que os avanços nas políticas de enfrentamento à violência de gênero
não podem fechar os olhos para o componente racial.
As mulheres negras também são mais vitimadas pela violência
doméstica: 58,68%, (dados do Ligue 180 - Central de Atendimento à Mulher, de
2015). Também são as mais atingidas pela violência obstétrica (65,4%) e pela
mortalidade materna (53,6%), (dados do Ministério da Saúde e da Fiocruz).
(Foto ilustrativa retirada do Google Imagem em 24.11.2017, às 08h12) |
As principais vítimas da violência no País são
homens, jovens, negros e de baixa escolaridade. A população negra corresponde a
maioria (78,9%) dos 10% dos indivíduos com mais chances de serem vítimas de
homicídios, segundo informações do Atlas da Violência 2017, elaborado pelo
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o pelo Fórum Brasileiro de
Segurança Pública.
Hoje, de cada 100 pessoas assassinadas no Brasil,
71 são negras. De acordo com informações do Atlas, os negros possuem chances
23,5% maiores de serem assassinados em relação a brasileiros de outras raças,
já descontado o efeito da idade, escolaridade, do sexo, estado civil e bairro
de residência. Portanto, Jovens e negros do sexo masculino continuam sendo
assassinados todos os anos como se vivessem em situação de guerra, compara o
estudo.
Pesquisa da Universidade de Brasília (UNB) constata
que só 10% dos livros brasileiros publicados entre 1965 e 2014 foram escritos
por autores negros, Essa mesma pesquisa também analisou os personagens
retratados pela literatura nacional: 60% dos protagonistas são homens e 80%
deles, brancos.
Enquanto que a pesquisa "A Cara do Cinema
Nacional", da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, revelou que homens
negros são só 2% dos diretores de filmes nacionais. Atrás das câmeras, não foi
registrada nenhuma mulher negra. O fosso racial permanece entre os roteiristas:
só 4% são negros.
O levantamento feito pela Universidade Estadual do
Rio de Janeiro (UERJ) considerou as produções brasileiras que alcançaram as
maiores bilheterias entre 2002 e 2014. Dentre os filmes analisados, 31% tinham
no elenco atores negros, quase sempre interpretando papeis associados à pobreza
e criminalidade.
A crise e o desemprego também atingiu com mais intensidade a população
negra brasileira: eles são 63,7% dos desocupados, o que corresponde a 8,3
milhões de pessoas. Com isso, a taxa de desocupação de pretos e pardos ficou em
14,6% - entre os trabalhadores brancos, o índice é menor: 9,9%. Os dados são da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, no terceiro
trimestre de 2017 o rendimento médio de trabalhadores negros foi inferior ao
dos brancos: 1,5 mil ante 2,7 mil reais.
(Foto ilustrativa retirada do Google Imagem em 24.11.2017, às 08h12) |
O levantamento Nacional de Informações
Penitenciária revela que o Brasil abriga a quarta maior população prisional do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, da China
e da Rússia. São cerca de 622 mil brasileiros privados de liberdade, mais de
300 presos para cada 100 mil habitantes. Mais da metade (61,6%) são pretos e
pardos.
Diferente de outros países, a taxa de aprisionamento
no Brasil não está diminuindo. Entre 2004 e 2014, o índice cresceu 67%. A taxa
de superlotação por aqui também é maior: 147% no Brasil, ante 102% nos Estados
Unidos e 82% na Rússia.
Portanto, ao ser comparado com as estatísticas, o
racismo brasileiro, mantindo em três séculos de escravidão e muitas vezes minimizados pela branquitude nativa, revela-se sem meias
palavras.
*Professor do CE Newton Belo, do Núcleo de Extensão
e Desenvolvimento da Uema (LABEX/UEMA),
mestre em Estado, Governo e Políticas Públicas Pela Faculdade Latino Americana
de Ciências Sociais.
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