GRANDEZA DE UMA PRINCESA
A descoberta do Brasil, como nos foi ensinado nos bancos de nossas saudosas escolas — sim, saudosas, porque esse é o sentimento que me povoa quando meus pensamentos são inundados por tais recordações —, ocorreu no ano de 1500, pelas mãos do navegador português Pedro Álvares Cabral. Deixando de lado debates sobre descobrimento ou tomada de posse, fato é que esse ano marca a entrada da Ilha de Vera Cruz no contexto histórico mundial. Fazendo um paralelo, o dia do nosso nascimento é aquele em que nos apresentamos ao mundo e, portanto, é o marco da contagem da nossa passagem pelo orbe terrestre.
Uma outra saudosa lembrança que trago bem guardada no íntimo é de uma aconchegante cidade incrustada entre belíssimos morros cobertos de verdejante relva e enfeitados por majestosas palmeiras de babaçu; acompanhada de um rio de águas refrescantes, que oferta rico plantel de peixes que servem de fonte de alimentação, de onde emergem belíssimas e misteriosas lendas que engrandecem a exuberante literatura local e que tem uma gente vibrante, magnética e inquieta que enriquece esse pequeno pedaço de chão — como diz um dos poetas locais.
Esse local que de acordo com os historiadores Luciana da Silva, Leila Lopes e Gilcélio Silva nasceu pelas mãos de Manoel Rodrigues de Melo Uchôa que o descobriu no ano de 1845, após abrir uma picada a partir da recém-criada Barra do Corda. Lá chegando encontrou os habitantes locais, os índios Tabajaras ou Mearinenses, pertencentes à família dos Pedras Verdes, tal qual ocorrera com Pedro Álvares Cabral quando aportou por essas terras em que plantando tudo dá.
O local ora descoberto fora abençoado com terras férteis que a tudo produzia em abundância. Já em 1850, contava com diversas fazendas que produziam arroz, feijão, algodão e café que eram escoados em embarcações utilizando o incansável rio Mearim.
A fertilidade das terras do povoado que estava surgindo correra feito rastilho de pólvora, tanto que por volta do ano de 1877 chegara grande caravana de famílias que fugiam da seca que grassava o sertão nordestino. E as caravanas não paravam, trazendo aqueles que iriam impulsionar firmemente o desenvolvimento do povoado.
Esse despretensioso apanhado histórico revela que minha Pedreiras, Princesa do Mearim, poderia assim ser denominada desde fins de século 18, época em que já demonstrava sua pujança na economia da província.
Alegra-me saber que morei na mesma rua em que o imigrante Joaquim José de Oliveira construíra sua casa e que, mais tarde, também erguera capela devotada a São Benedito — a qual seria transformada na paróquia que, até hoje, abriga o santo padroeiro da cidade. Um dia esse local já fora carinhosamente chamado de “Bairro Paris”, mas que, realmente, é a nossa Rua Ciro Rêgo. Lá, no cocuruto do morro, no formoso patamar da Igreja, guardo eternas memórias dos amigos Emanuel e Miguel, vizinhos meus e de São Benedito, e do Luciano que morava com a minha família.
Outra felicidade que compartilho com muitos pedreirenses é ter sido evangelizado no mesmo prédio onde funcionara a sede da Intendência da Vila de Pedreiras e que, atualmente, é o Centro Comunitário Paulo VI. Isso desperta em mim um sentimento de pertencimento que me acalora o coração. Quero continuar a me emocionar e orgulhar na medida em que for descobrindo mais e mais lugares com seus fatos históricos. Pedreiras ainda é um livro a ser escrito; aliás, muitos livros!
Toda essa riqueza, e muito mais, está invisível aos olhos da esmagadora maioria dos seus moradores. Uma cidade que homenageia muitos de seus pioneiros nos nomes de ruas, avenidas e monumentos, mas que não faz muito sentido em virtude da lacuna histórica que se impôs ao longo do tempo. Toda a grandeza da cidade grita em silêncio sua história e geografia. Faz-se mister que abramos os olhos para enxergarmos que elas são depoimentos vivos de onde viemos e sujeitos ativos para o que queremos ser e do futuro que desejamos construir. Só precisamos conhecer; conhecendo fica mais fácil amar, preservar e ser.
Tal qual uma pessoa não passa a existir somente quando adquire sua carteira de identidade, mas a partir do nascimento, Pedreiras existe desde seu descobrimento e não a partir de sua emancipação política — um outro ponto a ser estudado e debatido com mais profundidade, mas isso é assunto para outra conversa! Então, particularmente, em 2021, comemoro 176 anos do descobrimento de Pedreiras, 132 anos de sua elevação à categoria de vila e 101 anos à categoria de cidade.
Parabéns, Pedreiras, a tua grandeza muito nos honra!
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