ABOLIÇÃO
Há exatos 133 anos, o Brasil, ainda colônia de Portugal vivia o período de terceira regência sob a batuta da princesa Isabel enquanto seu pai, o Imperador Dom Pedro II estava na Europa para tratamento de saúde.
A princesa já influenciada pelas ideias republicanas e aversa às questões políticas já que preferia o anonimato como dona de casa, mãe, esposa dedicada e exímia católica, assina a famosa Lei Áurea que abolia de vez a escravatura no país onde o comércio de escravos durou mais tempo.
É claro que um conjunto de fatores influenciaram na decisão da monarca e a pressão dos abolicionistas entre os quais influentes pensadores e artistas, pesaram bastante para que a lei fosse assinada mesmo contrariando a burguesia que lucrava muito com a exploração da mão de obra escrava.
Estima-se que durante mais de 3 séculos o Brasil recebeu 4,8 milhões de africanos vendidos como mercadoria para grandes fazendeiros da agromanufatura açucareira do Nordeste e para a extração de metais preciosos em Minas Gerais. Estima-se que outros 670 mil morreram no caminho.
Estamos falando de uma das maiores manchas na história da humanidade onde seres humanos foram tratados como animais e subjugados por outro ser humano da forma mais cruel possível. Tudo isso assistido pelo governo, igreja e sociedade em geral.
O historiador Laurentino Gomes em suas obras “1808”, “1822”, “1889” e “Escravidão” relata absurdos praticados contra os negros escravizados de causar pavor; como os “negros tigres” que assim eram chamados por terem manchas brancas na pele provocadas pelo chorume que escorria dos tonéis de fezes dos seus senhores carregados nas costas pelos negros para serem despejados na baia de Guanabara no Rio de Janeiro dos séculos XVI a XVIII sem esgoto e estrutura urbana.
O museu imperial de Petrópolis onde se encontra a mobília do palácio real, expõe também um pouco a intimidade da família. Lá encontra-se um modelo da cadeira que servia para que fossem feitas as necessidades fisiológicas. A mesma tinha um furo central e abaixo do assento um penico que aparava os dejetos que eram jogados fora pelos escravos e como não se tinha papel higiênico na época os panos usados para a assepsia eram lavados pelas escravas que serviam o lar.
É difícil imaginar hoje todo o horror que um povo considerado “inferior” sofreu, longe da sua pátria, a sua gente, exposto a todo tipo de exploração e humilhação. E ainda impedidos de manifestarem sua fé, talvez a única saída para uma transcendência ou fuga de toda uma realidade marcada pelo sofrimento.
E mesmo quando a revolta enchia de coragem um negro que ao toque dos tambores, lembrando da terra mãe distante o levava a fugir mato a dentro movido pela força de Exu, o Orixá que representa a liberdade, aquele que não se deixa aprisionar por nada, o capitão do mato dizia que o negro tinha incorporado o “demônio” e aí se deu de forma preconceituosa a associação de tal Orixá ao inimigo.
A tal libertação dos escravos tirou os negros das senzalas e os jogou nas favelas das grandes cidades. Sem receberem nada de seus patrões como indenização pelo tempo trabalhado os negros foram parar em subempregos e continuam sendo explorados de todas as formas. O preconceito estrutural resiste numa sociedade onde eles ainda são vistos como seres inferiores por conta da cor da sua pele. A violência dizima a juventude negra do nosso país onde os homicídios entre jovens negros são quase três vezes maiores do que entre os brancos.
E ainda as tentativas de correção da desigualdade como o “sistema de cotas” que permite aos negros o acesso ao ensino superior é rejeitada por parte da sociedade brasileira que ainda não aceita a ascensão do povo negro.
A tal ABOLIÇÃO portanto, nenhuma lição trouxe à sociedade brasileira que continua excludente, racista e injusta. Então, infelizmente nada a comemorar em mais um 13 de maio.
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