sexta-feira, 28 de maio de 2021

PEDREIRENSES PELO MUNDO: Coluna do Carlos Augusto Martins Netto

 DIÁLOGO SOCRÁTICO

Por Carlos Augusto Martins Netto - Servidor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Farmacêutico, Escritor e Poeta.

Certo dia, flagrei-me às voltas com pensamentos sobre felicidade. E me vi questionando o quê seria felicidade. Sim, no futuro do pretérito mesmo, pois entendo que esse tempo verbal trata daquilo que deveria ter sido, mas não foi. Esse sentimento — ou estado de espírito — por que todos tanto procuram, poucos dizem que alcançam, alguns que estão muito próximos e outros que são completamente destituídos — há até aqueles que não acreditam na sua existência. Crenças ou posturas à parte, reflexões sobre ela valem muito a pena.

— O que é felicidade e por que é tão importante para as pessoas? — questionei Consciência. — Já ouvi muitos afirmarem que são felizes, mas quais são os parâmetros utilizados para chegarem à tal conclusão? — Seria, talvez, a abundância financeira com seu poder de minimizar aflições relacionadas à subsistência material e que, consequentemente, conduz a determinados confortos?

— Sem dúvida alguma, a vida vivida nesse cenário apresenta menos percalços no tocante às coisas materiais — respondeu-me Consciência, emendando: — E quanto àqueles que são financeiramente remediados e sofrem de toda qualidade de mazelas, tanto materiais quanto emocionais e espirituais? Que não conseguem sequer pequenos momentos de prazeres em família ou com amigos, sendo que muitos não têm amizades verdadeiras, mas somente aquelas interessadas nas questões relacionadas aos momentos que o dinheiro pode proporcionar; portanto, meramente materiais sem a profundidade dos relacionamentos em que o interesse principal é a pessoa?

— Tens razão — respondi pensativo. — Com certeza a felicidade não se encontra atrelada às questões financeiras, caso fosse assim, os mais abastados seriam ícones da felicidade. Mas não o são!

— Se não o são, então deve haver algo mais na questão da felicidade — cutucou-me Consciência.

Ela é terrível, sempre vem com esse tipo de provocação, induzindo-me a aprofundar-me cada vez mais em minhas posições, avaliando cada pensamento e questionando cada resposta. Não me deixa, de maneira alguma, assumir posicionamentos superficiais. Ela me conhece a fundo e sabe muito bem do meu apreço pelas questões bem esclarecidas, sem qualquer sorte de mitos e preconceitos.

— Já pensaste na felicidade amparada pela presença ou ausência religiosa? — perguntou Consciência. — O simples fato da prática do ritual religioso, ou sua ausência, traz felicidade?

— Não sei, essa questão religiosa é delicada — respondi. — Eu, pessoalmente, tenho profundo respeito por todas e busco conforto nos ensinamentos daquela que pratico.

— Tu buscas conforto ou felicidade? — questionou Consciência. — Conforto e felicidade são a mesma coisa? Ou um pode levar à outra? E os ateus, não têm conforto ou felicidade?

Hoje, ela está mais solta que charuto em boca de bêbado. E, também, inspirada. Cada perguntinha nojenta! Está jogando pesado.

— Bem, como falei antes, a religião me dá conforto nas agruras da vida — comentei. Nos momentos difíceis, ela me mostra que há algo acima de nós que nos ensina que a fé nos recoloca na trilha da vida... e acho que isso também cabe aos ateus, posto que eles não acreditam numa força divina ou criadora, mas em virtudes que norteiam seus viveres.

— Interessante — comentou Consciência. — Mas e a questão da felicidade? Acho que o pensamento ficou incompleto e não consegui identificar onde entra a felicidade.

— Bem, tanto o religioso quanto o ateu têm fé nos princípios que norteiam suas vidas — falei. — E são esses os princípios que nortearão suas jornadas em um caminho cheio de vida, permeado por todo tipo de experiências, desde aquelas que dão imenso prazer e contentamento e, portanto, nos fazem sorrir; até às que oportunizam a vivência de dores cortantes e que, muitas vezes, reputamos insuportável, conduzindo-nos às lágrimas.

— Desenvolva mais, estou curiosa aonde vais chegar — interrompeu Consciência.

— Então, acredito na felicidade e acho que está disponível a todos. Não consigo compreendê-la como momentos, mas avaliação geral de uma vida. Ou seja, os momentos, para mim, são alegres ou tristes, de contentamento ou decepção, de presenças ou ausências. A felicidade acaba sendo um balanço geral da vida vivida, a satisfação de chegarmos à hora de prestarmos contas e concluirmos que obtivemos sucesso nas missões a nós confiadas. Em suma, felicidade é o resultado da certeza da missão cumprida.

— Fantástico! — exclamou Consciência. — Deverias escrever sobre isso.






























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