VIVER
Estamos há 09 dias vivendo um novo ano. O milésimo, vigésimo segundo da era cristã. Mas é preciso saber que muitos outros ficaram para trás e estima-se que a terra tenha alguns milhões de anos e o homem uns trezentos mil.
O simples fato de passar por esta vida, ir contando os dias, um após outro não significa necessariamente viver. Existir e viver são dois verbos que na prática se conjugam de maneira diferente.
Na mitologia Grega o tempo é simbolizado por duas figuras antagônicas que são chamadas respectivamente CRONOS e KAIROS. O primeiro se traduz pela contagem, é sequencial, cronológico. Já o segundo não pode ser mensurado, é algo para ser vivido, experimentado e como se diz muito hoje, mede-se pela qualidade e não pela quantidade.
Interessante notar que CRONOS é um titã, filho de Urano (céu) e Gaia (terra). E diz a lenda que ele devora seus filhos assim que nascem com medo de se cumprir uma profecia a seu respeito que dizia que um deles o tomaria o poder.
Já no Cristianismo essas duas figuras também são diferentes e o CRONOS seria o “tempo dos homens” e KAIROS o “tempo de DEUS”. Tão distantes um do outro como a terra e o céu como diz a própria escritura.
Esses dias, tenho estado mais um pouco com minha avó que no próximo dia 30 se assim DEUS permitir completará 92 anos de vida e nessa interação percebo que no limiar dos seus dias, ela se importa apenas com o KAIROS e o CRONOS já não faz sentido.
É como se ela tivesse se cansado de contar os dias, de viver esperando os minutos passarem pois não tem mais atividades para realizar, não tem mais a pressa de fazer acontecer. E aqui entra uma linda recordação da sua casa, comprida, sempre limpa, na rua Crescêncio Raposo, 324 em Pedreiras-MA.
Ali na sala ampla havia um antigo relógio de parede que a cada hora marcada um passarinho saia de dentro dele e repetia; CUCO, CUCO... martelando nossas “cucas” para apressarmos os passos, para ir para a luta.
As lembranças do passado, do que viveu, comeu, brincou, dançou, amou, experimentou são uma constante na sua admirável lucidez. O presente uma sequência de horas, minutos, lentos como suas frágeis pernas, e o futuro uma constante incerteza ou ao menos uma; a da morte.
A velhice é uma biblioteca onde podemos ler e decifrar tantos mistérios que envolvem o viver. As experiências daqueles que vieram antes de nós são de um valor inestimável. É sabedoria pura ouvi-los, sorver deles o que há de melhor, de mais belo.
Ao mesmo tempo, não podemos ficar preso ao passado e viver num eterno saudosismo. Ontem mesmo ao participar de uma festinha de formatura do ABC, fiquei admirando aquelas “criaturazinhas” iniciando tudo, experimentando vivências, saberes, buscando o desconhecido, o novo.
É encantador também o mundo infantil. Como são ávidos por novidades, por aprendizados. Eles nos fazem pensar o quanto há de busca em suas trajetórias ainda apenas iniciada e o quanto ao longo da vida podemos todos aprender e apreender no sentido mais amplo, o que o mundo nos oferece de bom. No meio do caminho estão os que vivem entre a infância e a velhice, que podemos certamente representar o presente, já que nessa minha metáfora citei os idosos como nosso futuro e as crianças como passado. A esses é permitido olhar para trás buscando o aprendizado e aplicando na vivência, olhar para frente tentando fazer diferente.
Uma bela canção de Erasmo e Roberto Carlos, nos ajuda bem nessa reflexão de início de ano. “Quem espera que a vida seja feita de ilusão, pode até ficar maluco ou morrer na solidão. É preciso ter coragem pra mais tarde não sofrer. É preciso saber viver” Saber viver se traduz antes de mais nada, viver bem. Seguir tirando “as pedras” do caminho, saber que mesmo na beleza das rosas existem os espinhos que podem nos “arranhar” e seguir...
FELIZ 2022!!!
Belíssimas palavras concordo com Erasmo Carlos é preciso ter coragem pra poder viver
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