Discurso de posse de Aldo Pereira Gomes na Academia Pedreirense de Letras, em 25 de novembro de 2017
(Aldo Gomes recebendo Diploma de Acadêmico das mãos do Confrade Dr. Allan Roberto) |
Excelentíssimos Senhores
Kleber Lago e Edivaldo Santos, presidente e presidente em exercício, respectivamente,
da Academia Pedreirense de Letras; Excelentíssimo Senhor prefeito de Pedreiras Antônio
França; Vereador Elcinho e demais componentes da Mesa; minha digníssima esposa
Ilma, cunhada Iolanda e demais parentes, amigos e amigas que atenderam o nosso
convite e nos dão a honra da vossa presença.
Senhores
e Senhoras,
A vida nos reserva
passagens de tal sorte, que possíveis lacunas produzidas com sensação de infinitude
em um dia com ares de temporais fortes e ameaçadores, transformam-se de relance
e sem prenúncio que nos prepare o espírito, em suave bonança e docílima leveza
para nossas almas. Difícil externar com clareza e precisão que sentimentos me
embalam e movem o meu ser quando da minha ciência de que o meu nome fora
aprovado para compor a plêiade de membros da Academia Pedreirense de Letras,
daí passando a integrar o seleto grupo de homens e mulheres desta amada terra
ou que a adotaram amavelmente para viver e se propuseram ao suave trato das
letras, como bons artesãos da palavra, para lhes extrair o néctar, o melhor da
sua essência, pela singela e doce ousadia, aparentemente possível, de alcançar
o inalcançável. Percorreram-me as veias, o coração e a mente não só o sangue e
sensações atípicas afeitas aos fatos auspiciosos, mas e, sobretudo aura leve,
amaciante do ego, a suscitar nova investida do tempo, apontando para um
horizonte mais amplo e próximo, mais real e acolhedor dos melhores desejos e
aspirações que rondam nossos sonhos. Senti-me em estado inebriante, que de
antemão, como um primeiro exercício ainda que inacabado sobre as minhas
tendências literárias, fizeram-me percorrer épocas e contextos, experimentando
extremos como ansiedade e bem estar; certezas e dúvidas; alegria sem par e
sensação do peso da responsabilidade. Mas prevaleceu a convicção de que novas
portas se abrem para um futuro alvissareiro da compreensão do ordenamento
social calcado na honra, no respeito e no amor ao próximo. Sentindo-me neste
espaço estimulador e rejuvenescente, logo imaginei quão surpreendente foi a
reação de Pero Vaz de Caminha ao chegar à nossa amada terra Brasil e contemplar
suas belezas naturais, que o inspiraram a escrever a famosa Carta de Caminha,
primeiro documento literário brasileiro, para enviá-la ao Rei Dom Manuel,
século XVI! Tal fato histórico de caráter documental e informativo conteve
espírito nativista e ufanista, ao esboçar forte patriotismo, enaltecendo o
próprio país e deu início ao gênero e escola literária conhecida como
Quinhentismo. Prosseguindo a viagem mental e na contemplação das escolas
literárias ao longo do tempo, diligentemente fui ao período Barroco, século
XVII, muito bem representado pelo insigne Pe. Antonio Vieira, prosador, autor
do célebre Sermão da Sexagenária. Lembrei ainda uma certa ocasião em que
alguém, opinando sobre um texto que eu publicara a despeito de um tema de
momento, caracterizou-o nos moldes literários do preciosismo, do virtuosismo e
do rebuscamento, que segundo deixou nas entrelinhas, remeteria a uma
ornamentação exagerada, mesclada a um jogo sutil de palavras, qualificações
estas inerentes ao estilo Barroco.
Face
ao evento do meu ingresso na Academia Pedreirense de Letras e às reações que
naturalmente me tomaram de surpresa, algo mais estimulante multiplicou minha
alegria: o meu assento na Cadeira nº 18, cujo patrono, João Alberto Rodrigues
de Sousa, médico de renome e de família tradicional, foi o cirurgião que fez o
parto cesariana da minha digníssima esposa, que deu à luz minha filha caçula e
esta, por uma feliz coincidência, seguirá a mesma profissão do querido e
saudoso João Alberto, a quem sucedo nesta Cadeira com orgulho e
satisfação, porém com a responsabilidade
e o desejo de fazer jus à bela história deste ilustre cidadão, que foi alvo do
carinho, gratidão, respeito e admiração dos pedreirenses e de todos que tiveram
o prazer de conhecê-lo. Sequenciando a dita viagem pelo tempo à qual não pude
fugir, com celeridade percorri estilo e natureza de várias escolas e suas
características literárias e me encontrei brevemente em cada uma delas,
destacando ainda o Arcadismo, que cultiva o ideal de vida simples, inserida à
natureza; o Romantismo, em que se sobressai a emoção, o sentimento, o
subjetivismo, o nacionalismo, o ilogismo
e nas suas
manifestações a presença
marcante de metáforas, lembra o grande
poeta da Canção do Exílio, Gonçalves Dias; o Realismo, o Naturalismo e o
Parnasianismo, que ocorreram ao mesmo tempo, séculos XIX e XX, período da
Proclamação da República e da Primeira República, caracterizaram-se como
literatura de combate social, crítica à burguesia e pelos temas contemporâneos
e faça-se, no Realismo, menção especial ao grande Machado de Assis; no
Naturalismo Aluísio Azevedo, com O Mulato e O Cortiço e Raul Pompéia, com O
Ateneu, retrataram, como aspectos que mais atenção me despertam, entre outras
questões, a que trata das pessoas marginalizadas pela sociedade, e neste
particular, cabe ao iniciante do academicismo das letras que ora vos fala, a
confirmação de que atuar de todas as formas possíveis e ordeiras em defesa das
pessoas marginalizadas, visando seu soerguimento social, será uma das minhas
bandeiras de luta _ e creio que de todos os meus notabilíssimos confrades,
veteranos e iniciantes _ nesta
instituição pedreirense de letras, no entanto sem o estigma do vitimismo e do
coitadismo _ permitam-me o termo, se puderem, que em tempos recentes alguns _
repito, alguns _ proclamados formadores de opinião, comunicadores, estudiosos
da sociologia e áreas afins tentam a todo custo disseminar, sem falar aqui
sobre que propósitos e motivações estariam nas entrelinhas de tal
comportamento.
Quanto a nós outros, que nos reputamos com humildade e
ponderação verdadeiros lapidadores das letras, intelectuais, estudiosos da
história dos povos, das sociedades e suas relações intra e extraterritoriais
com seus desdobramentos e rumos para melhor compreendê-las e sobre elas influir
positivamente, devemos cultivar a virtude da isenção, da moderação, da ética,
do amor ao próximo, sem perder de vista a assunção da responsabilidade que ora
nos assiste, no patamar que Deus nos reservou e na convicção de que a vida com
dignidade é um direito universal e, destarte, considerar os cidadãos e cidadãs,
dos mais humildes e que vivem à margem da sociedade até os mais célebres e
agraciados pela sorte e pela vida, como pessoas dignas das mesmas
oportunidades, com iguais direitos e deveres, cabendo-nos respeitar e até,
sempre que for o caso, zelar pelas conquistas e vitórias de quem dignamente as
obteve, e atuar com afinco e intransigência, no sentido da adoção e criação de
meios e mecanismos para inserção dos mais humildes e desventurados, que vivem
no ostracismo e na marginalidade, quer tenham chegado a isto por suas condições
intrínsecas ou por culpa da sociedade e inseri-los, como dizia, em um contexto
social e familiar que lhes permita uma vida feliz e somatória para o alcance do
bem estar, da dignidade e da cidadania de todos.
Isto
se sobrepõe a qualquer caracterização e contexto histórico que possam nos
direcionar a uma escola literária, à qual nos ligamos pela essência das
expressões dos nossos sentimentos e convicções, que não se espelham apenas nas
letras, mas em nossas práticas diárias e nas impressões que passamos a outrem,
emanadas no exemplo que damos nos trâmites corriqueiros do labor da vida.
O
solene momento em que nos alegramos com o ingresso de novos membros nesta
conspícua entidade ornamentadora das letras, imponente, porém acessiva e
singela, marca, na nossa humilde visão, importante passo na decisiva caminhada
para a conquista de uma sociedade mais justa e igualitária, cuidando para que
não prevaleça em um novo perfil de convivência social a permuta inútil de
opressores por oprimidos, em uma configuração na qual estes passariam a exercer
o papel daqueles, porquanto assim estaríamos nos reduzindo à cinzas de um
modelo de vida outrora esperançoso e assumindo a própria ruína, no insano
processo destrutivo de valores que resistem ao tempo e à frívola modernidade e
nos alçam à condição de firmeza e determinação na defesa do bem e da
fraternidade entre pessoas, povos e nações, a começar não por lugares mais
distantes na imensidão do mundo, mas do local onde vivemos, nossa acolhedora
Pedreiras junto à mui forte e querida Trizidela do Vale, o Maranhão berço de
heróis, a gentil Pátria Amada Brasil. Citação reverente e carinhosa a Trizidela
do Vale, pelo recado de alvíssaras que nos envia o nosso coração, de que
estamos cada vez mais ligados pelos laços da amizade, do respeito e da
fraternidade, e mesmo reconhecendo sua organicidade institucional própria em relação
à cidade-mãe, Pedreiras, são para nós como gêmeas siamesas, indivisíveis nas
nossas almas, e formam um coral uníssono, deslumbrante e inspirador dos nossos
sonhos.
Sobre
este iniciante na Academia Pedreirense de Letras, filho desta amável terra por
adoção de cidadania, a terra de João do Vale, a Princesa do Mearim sempre
exerceu encanto especial, juntando-se a isto a minha formação universitária em
engenharia agronômica e pós-graduação em Planejamento do Desenvolvimento
Municipal Sustentável pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a
Agricultura e Universidade Estadual do Maranhão e agraciado por Deus pelas
várias experiências profissionais técnicas de campo e gestões públicas
administrativas estaduais e municipais, vislumbrei, de fato, no nível
municipal, dar significativa e marcante parcela de contribuição,
correspondente às demandas
e aspirações dos pedreirenses.
Valendo-me
de formas de expressão popular de
sensações momentâneas, diria que tive “oportunidades de ouro”, como secretário
municipal de agricultura e a seguir como secretário de planejamento, ainda
recentemente. Inovei, quebrando regras e tabus para realizar sonhos populares e
deixar marcas inextinguíveis como frutos da boa-fé e justos propósitos, em
estima e respeito ao bem maior de que se orgulha Pedreiras: o seu povo. Não
sendo, porém, oportuno e de bom alvitre entrar a fundo nesta seara, e
parodiando o pensador Carl Jung, fundador da psicologia analítica, não poderia
omitir o fato de que “eu não sou o que aconteceu comigo, eu sou o que escolhi
me tornar”. Ou ainda: ...eu sou a verdade contida naquilo que pude realizar.
O
acontecimento que ora realizamos reveste-se de um sentido precioso, garboso e
impactante para Pedreiras, assinalando de forma solene e brilhante o nosso
ingresso neste meio constituído por eméritos iluminadores das letras e acende
edificantes perspectivas de interação com a sociedade como um todo,
estimuladora do bom entendimento e da imprescindível troca de saberes em que
prevalecerá a simplicidade e a boa vontade recíprocas para o bem estar de
todos. Por oportuno aqui lembramos as palavras do ilustre educador e pensador
Paulo Freire, quando afirma que “não há saber mais ou saber menos: há saberes
diferentes”. É neste espírito de humildade, perspicácia e interação social para
as transformações, que podemos caminhar melhor e alcançar melhores tempos, em
um processo de construção coletiva e concatenada.
Para
amaciar o ego, suavizar as emoções, avivar a esperança e dar um lustro especial
ao que aqui e agora se realiza, fortalece-nos o sentimento de que os assuntos a
serem abordados por todos nós que formamos esta egrégia instituição literária,
sê-lo-ão com ânimo e alegria de quem edifica para agasalhar a todos e se move
nos caminhos do bem, procurando o entendimento dos fatos, buscando e integrando
forças e fatores, que melhor se adequem àquilo que pertine às aspirações dos
nossos compatriotas.
Digníssimos
senhores e senhoras que mui amavelmente dedicaram um pouco do precioso tempo e
assim nos prestigiam, participando conosco do grande significado deste enlace,
creio, ainda, que a vossa enfática presença nos deixa um recado e uma certeza
de que podemos _ elegendo Pedreiras e Trizidela do Vale como nosso chão e ponto
de partida _ materializar juntos uma sociedade mais humana. Admitimos, pelas
experiências na caminhada através das estradas da vida e pelo grau de
maturidade e sensatez auferidos e acumulados ao longo da jornada, que no
recinto nobre e altissonante em que adentramos, na ânsia inevitável e natural
de avançar para as justas e relevantes conquistas a que nos propomos, haverá
momentos de discordâncias e divergências no trato das questões apreciadas,
porém nos regozijamos ao saber, como cônscios que somos da missão a realizar e
da nossa estatura e importância perante a sociedade, que possíveis divergências
afinal produzirão convergências; as discordâncias, concordâncias;
constrangimentos, congraçamento, de sorte que não haverá vácuos que não possam
ser preenchidos pela materialização do bom senso e da sabedoria e esta não vem
do homem, mas de Deus que a ele a concede. Idem, não perder de vista a sensível
declaração do escritor e jornalista inglês George Orwell, século XIX, como
ossos do ofício do pensador: “Em tempos de embustes universais, dizer a verdade
se torna um ato revolucionário”. Sobre estes relatos resta apenas mencionar,
até mesmo no fito de espairecer, no domínio das emoções, um pensamento marcado
pela espontaneidade do poeta e escritor modernista Mário Quintana, que diz: “Há
duas espécies de chato: os chatos propriamente ditos e os amigos, que são os
nossos chatos prediletos”. E acrescento: Se todos vocês aqui presentes fossem
chatos _ e sei que nenhum é _ seriam todos e todas chatos da minha predileção!
Enfim,
confrades e confreiras, a quem desejo todo o sucesso na nova empreitada, amigos
e amigas, não desejando em hipótese alguma esgotar a paciência e a boa vontade
de vocês, que até o momento, felizmente, ainda não esboçaram qualquer gesto de
incômodo _ vejam só! _ mínimo que seja, apesar do calor, na audiência das
minhas palavras e do meu timbre de voz não suavizante, nem penetrante, nem tão
agradável quanto eu gostaria, contudo na ousadia de reservar saldo positivo da
vossa tolerância para possíveis outras oportunidades, agradeço a todos pela
atenção, pelo apoio, carinho, compartilhamento e consideração demonstrados.
Avante,
pois, juntos, podemos mais, e as consequentes conquistas terão as impressões
digitais de todos nós. Obrigado!
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