COMPETÊNCIAS COMUNICATIVAS E A PERCEPÇÃO AUDITIVA.
(Foto: Joaquim Filho)
Há um consenso no sentido de que as competências necessárias para exercer a cidadania no mundo atual não são as mesmas de 20 ou 15 anos. “Em todo o mundo, neste momento, há um movimento de esforço para redefinir quais devem ser essas competências.” (César Coll). Competências principalmente relacionadas com a mundialização cultural, com a nova economia do conhecimento, dos fenômenos de tipos sociais que as exigem.
Mesmo com parâmetros complexos, não é difícil perceber que esta competências se entrelaçam por dois fios condutores: no primeiro, são, basicamente, competências cognitivas (comunicativas e informativas) para que o indivíduo tenha autonomia, autoaprendizagem, para seguir aprendendo, para adequar-se a cada nova situação, para absorver problemas e resolvê-los de maneira independente. No segundo, estão as competências emocionais, num mundo interconectado, onde as relações sociais são intensas, a capacidade de colocar-se no lugar do outro, poder interpretar o outro, a si mesmo, e de se equilibrar são imprescindíveis.
A teoria da comunicação convencionou termos como: emissor, receptor, canal, referente, mensagem, entre outros, para os elementos da comunicação. E estabeleceu que a comunicação pode ser: oral, escrita, gestual, consciente e inconsciente. O domínio deste conhecimento, comunicação linear, nos ajuda muito, mas já não é o suficiente. A veloz dinâmica da nossa época possibilita múltiplos elementos se sobrepondo em um processo comunicativo, pelo que temos tanto mais conteúdos quanto dificuldades para interagir no processo. Quem pode dizer que domina as principais ferramentas tecnológicas de comunicação? Contudo, os maiores obstáculos à boa comunicação não são tão novos assim.
Eliana Braga declarou: “As relações comunicativas são sempre marcadas por interferências voluntárias, ou involuntárias, intencionais ou não, e compreendem o processo de interação humana em que uma pessoa não fica indiferente a outra”. As interferências as quais ela se refere são:
O pré-conceito, literalmente conceito prévio, que define opiniões e atitudes do receptor, levando-o somente entender a mensagem que de antemão queira entender, talvez por lhe interessar ou por ser de seu desagrado;
O egocentrismo, que neste processo, é o fator que impede o interlocutor de enxergar ou entender o ponto de vista do emissor, pois, pelo impulso de superioridade, há uma tendência de rebater aquilo que ouve antes mesmo de terminar de ouvir;
A projeção, este fenômeno psicológico acontece quando o interlocutor emprega ao outro, intenção que o outro nunca teve, mas que ele teria em seu lugar;
A transferência é outro fenômeno psicológico, neste caso, inconscientemente, os sentimentos que se tem com pessoas parecidas com o interlocutor podem ditar uma predisposição, favorável ou não a ele;
A inibição é outro fator prejudicial em todos os sentidos, através do qual um ou todos os interlocutores se desvalorizam e por omissão, comprometem a essência do ato comunicativo.
A habilidade em comunicação é, especialmente, importante quando se trata de viabilizar momentos de expressão de pensamentos e sentimentos. A comunicação verbal mostra que as palavras são importantes ferramentas de contato, são usadas de modo mais consciente, mas o ato de falar é complexo, pois influencia o relacionamento entre as pessoas. Sob este aspecto, é muito importante saber usar bem as palavras, reivindicar atenção ao que se diz e perceber se, realmente, é o que se quer transmitir, pois ao usar as palavras com cuidado, evita-se muitos desentendimentos.
No entanto, está comprovado que existe uma relação dialética entre a comunicação verbal e não-verbal. A ideia comum é que só o mundo verbal é real, entretanto as palavras são, tantas vezes, apenas um pretexto ou um começo. Quanto menor a dissociação entre fala e expressão, mais integrada e inteira será a pessoa. Segundo dados de estudos realizados na psicologia social, a expressão do pensamento se faz: 7% com palavras; 38% com sinais metalinguísticos, como entonação de voz, velocidade da fala, e outros; e, 55% por meio dos sinais do corpo. Desta forma, a comunicação não-verbal é responsável por mais de 90% dos sinais que chegam ao cérebro por meio dos sentidos.
Para que se possa perceber a expressão dos pensamentos e sentimentos do outro, é necessário o desenvolvimento da competência interpessoal, que é a habilidade de lidar, eficazmente, com as relações com as outras pessoas de forma adequada às necessidades de cada uma e às exigências da situação. Mas este já é conteúdo para outro texto.
Todos os que desejam comunicar-se bem precisam lembrar que a fala é estimulada desde a infância de cada um, o desafio é aprender a ouvir. “A maioria das pessoas pensam que ouve bem, assim como pensa que tem senso de humor. Mas ouvir é, na verdade, a habilidade mais negligenciada na comunicação. O problema não é conseguir que homens falem. O problema é conseguir que líderes ouçam” (Lydia Strong).
A capacidade de bem-ouvir possui pelo menos quatro níveis. São eles: entender o sentido pelo som, isto é, distinguir as palavras do locutor; compreender o que ele está sendo dito; avaliar o que está ouvindo, se fato ou fantasia, se denotativo ou figurado; e, ouvir com compreensão imaginativa o ponto de vista de quem fala, ou seja: porque ele está dizendo, o que está dizendo, da forma como está dizendo. Para isso é necessário penetrar no mundo privado de quem fala e ver como a situação se apresenta para ela.
Ouvi é uma competência escarça, urge que se faça treinamentos, terapias e outros procedimentos que potencialize a competência do ouvir de verdade, com completude. Lydia Strong diz que, “Ouvir pela metade é como acelerar o motor com o câmbio em ponto morto; gasta-se gasolina, mas não chega a lugar nenhum”. Tiago, o irmão do Senhor, já em sua época, recomendava: “Todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar e tardio para se irar” (Tg 1.19).
Walberto Magalhães Sales
BIBILIOGRAFIA:
BERGAMINI, Cecília W. Liderança: administração do sentido. São Paulo: Atlas, 1994.
BRAGA, Eliana Mara. Competência em comunicação: uma ponte entre o aprendizado e o ensino na enfermagem. São Paulo: E. M. Braga, 2004.
BIBLIA DO OBREIRO. Barueri - SP: SBB, 2007.
COLL, César. Competências Comunicativas Hoje. Disponível em <http://webeduca.wordpress.com/2007/10/02/cesar-coll-competencias-comunicativas-hoje/> Acessado em 28/12/07.
PORTO, T. M. E. 1998. Educação para a Mídia/Pedagogia da Comunicação: caminhos e desafios. In: Pedagogia da Comunicação: Teorias e práticas. Org. Heloísa Dupas Penteado. São Paulo, Cortez, 2004.
SANFELICE, Gustavo Roese; ARAUJO Denise Castilhos de. Mídia e Ação Pedagógica: possibilidades de encontro. In UNIrevista - Vol. 1, n° 3, julho 2006.
SILVA, Maria Júlia Paes da, BRAGA, Eliana Mara. Como acompanhar a progressão da competência comunicativa no aluno de Enfermagem. Disponível em <www.ee.usp.br/reeusp/> Acessado em 28/12/07.
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