A dura e triste realidade diante da morte!
A morte... ela vem, sempre, não importa a idade, ela vem. Em julho faço 15 anos de formada e nesses longos anos venho lidando com os mais diversos tipos de mortes, com a despedida, com as lágrimas, com o desespero dos familiares, com o meu dolorido suspiro quando não consigo salvar uma vida.
Não é fácil! Mesmo estando enlutada pelo falecimento do meu pai, continuo vivenciando a morte bem próxima de mim, pois meu trabalho é esse.
Lembro que ainda estudante de medicina no RJ, eu dava plantões supervisionados em Japeri, e lá, fui deslocada para a Ala da morte, onde ficavam os pacientes terminais, sem prognóstico, sem esperanças..., passava visita e conversava com aqueles que estavam partindo com câncer, tuberculose, aids, insuficiência renal.
Os ouvia gemer de madrugada, segurava em suas mãos no ultimo suspiro, e quando eles paravam eu fazia todo o protocolo de ressuscitação.
Sabia que pela gravidade eles iriam morrer, mas como eu tinha feito meu juramento, eu tentava até às últimas instâncias prolongar a vida (ou o sofrimento), no fundo não aceitava a morte.
No início chorava junto com os familiares, voltava arrasada para casa, me envolvia ao ponto de me revoltar com as limitações da medicina. Mas o que mais me abalava era o comunicado do falecimento a um familiar, eu via (vejo) a dor profunda rasgando a alma em seus olhos e face, no tremor das palavras, no andar desorientado.
Hoje, infelizmente, vi esse olhar novamente. Levei a mãe para ver seu filho de 6 anos com morte encefálica. Segurei sua mão firme, vi a dor mais lancinante desse mundo lhe atravessando, e só pude dizer: "Sinto muito. Que Deus te conforte!", e a abracei forte.
Entendem por que médico tem que amar o que faz? Dinheiro nenhum desse mundo ameniza esses momentos que vivo, mas alguém tem que tentar salvar vidas. Alguém tem que comunicar aos familiares. Alguém tem que assinar o atestado de óbito. Alguém..., esse alguém às vezes, sou eu.
Texto de abril de 2017.
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