sexta-feira, 16 de abril de 2021

PEDREIRENSES PELO MUNDO: Coluna do Carlos Augusto Martins Netto.

 MITOLOGIA CULTURAL.

Por Carlos Augusto Martins Netto - Servidor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Farmacêutico, Escritor e Poeta.

O homem, ao observar os fenômenos da natureza e tudo que acontecia ao seu redor, fazia fluir dentro de si questionamentos difíceis de obtenção de resposta. Como explicar os trovões? Aqueles inquietantes e estrondosos sons que vinham dos céus e não se sabia bem de onde? E os relâmpagos? De onde vinham aquelas imensas faíscas que cortavam os céus e, por vezes, atingiam a Terra com poder apavorante? Quem e por que os produzia? Além disso, havia ainda outros mistérios que faziam borbulhar os pensamentos do homem. As estrelas do firmamento eram outros mundos iguais ao nosso ou, simplesmente, corpos celestes para adornar a noite escura? Se fossem mundos semelhantes ao nosso, possuiriam habitantes com inteligência igual, inferior ou superior à nossa? Os corpos celestes teriam ou não movimentos próprios?

Também havia questionamentos de outras naturezas. Como surgiram os seres humanos, os animais, enfim, tudo que havia no universo. Inclusive, a pergunta maior: como o universo fora criado?

Para responder a essas perguntas, o homem valeu-se de grandes histórias, denominadas mitos, que eram protagonizadas por grandes personagens dotados de grandes poderes para influenciar em todas as áreas e recônditos tanto da Terra quanto do universo – os deuses. Ao conjunto dessas histórias, chamou-se de mitologia, tendo-se como exemplos a grega, a romana e a nórdica.

No caso da mitologia grega, a mais conhecida, podemos citar deuses como Zeus (deus dos céus, raios e relâmpagos), Apolo (deus da beleza, perfeição, harmonia, equilíbrio e razão), Atena (deusa da sabedoria, das artes, da inteligência e da guerra), dentre outros. Na Grécia Antiga, acreditava-se que os deuses moravam no ponto mais alto do Monte Olimpo, daí a origem da frase “deuses do Olimpo”.

Por muito tempo os mitos foram a única fonte de respostas aos questionamentos mais íntimos da humanidade.

Sabe-se, no entanto, que, modernamente, as mitologias já não são a tônica para a explicação dos grandes questionamentos pelos quais passa a humanidade. Desde mais ou menos 600 a.C., filósofos gregos inauguraram uma nova forma de ver o mundo – por meio de reflexões lógicas a respeito dos diversos fenômenos, que acabou sendo denominado de Filosofia – e, desde então, a ciência passou a ocupar-se das atribuições dos deuses e, portanto, a ocupar um dos principais lugares do atual Monte Olimpo.

Hoje, a astronomia já revelou que os planetas têm movimentos entre si e por si; que as plantas nascem e crescem por meio da interação com os nutrientes presentes no solo e a luz solar; que o universo tal qual conhecemos foi gerado por meio de uma grande explosão; que os relâmpagos que riscam os céus nada mais são que descargas elétricas consequentes da colisão de grandes massas de ar carregadas de água e que o trovão é o som decorrente de tais colisões.

A ciência nos tem permitido viver e presenciar muitos avanços espantosos. O homem conseguiu tecnologia suficiente para desbravar o espaço sideral e, com isso, já foi até à Lua. Também conseguiu construir um telescópio que consegue enxergar até muitos anos-luz no passado do universo – isso mesmo, no passado, pois como as luzes de alguns personagens estelares ainda não chegaram aos nossos olhos situados na Terra, ainda não viraram nosso presente. Por essa razão que os cientistas dizem que ao olharmos, toda noite, para um firmamento estrelado estamos olhando o passando, pois muitas delas são estrelas que já não mais existem. Que loucura!

Todavia, apesar de todo avanço da ciência e suas tecnologias, o homem contemporâneo e suas sociedades continuam a produzir seus mitos.

No final do século XIX, surge, na ainda vila de Pedreiras, o “último sabiá de Atenas” – como se autodeclarava Corrêa de Araújo. Poeta de paixões ardentes e arrebatadoras que o levavam a produzir fortes e ásperas críticas às condições políticas da primeira época republicana. Contava com 23 anos de idade quando participou da fundação da Academia Maranhense de Letras.

Pedreiras é um verdadeiro celeiro de cultura. Nessa toada, o pequeno povoado do Lago da Onça produziu um caboclo engenhoso com as letras e que encantou a muitos com suas composições carregadas de simplicidade, sabedoria popular e pitadas de crítica social. Esse João do Vale é verdadeiramente um mito cultuado pelos amantes das artes!

Não demorou muito e tivemos o aparecimento de João Barrêto, um poeta que se pode comparar a um menestrel, como falou Raimundo Carneiro Corrêa em seu blog. Aquele que poetizou Pedreiras em muitos momentos, como no poema “Lixo”, mas não se esqueceu de falar da efemeridade da vida em “Pálida Lembrança”. Um poeta que simplesmente falava com o coração e, por isso mesmo, nos atingia em cheio.

Agora, o Samuel Barrêto. Aquele que cantava o Rio. Sem medo, declamava de maneira divina e apaixonante o seu amor por Pedreiras e mostrava de forma simples, sem arroubos toda a sua genialidade com as letras. Deixou suas marcas indeléveis por todos os cantos e recantos de Pedreiras, e em várias nuances de expressão artística.

Aqui, agora, me dou conta de que estou, na verdade, descrevendo a formação de um respeitado panteão, o Grande Panteão Cultural Pedreirense, que é formado por deuses das letras e das artes que não se cansam de nos intuir e inspirar em prol da cultura da Princesa do Mearim. 































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