domingo, 2 de maio de 2021

PEDREIRENSES PELO MUNDO: Coluna do Alan Roberth

 A JOVEM

- Eita que ele tava era com muita fome e muita sede!

Bradou Jovenilia ainda ofegante pela subida da ladeira onde estava incrustado o cemitério do povoado e se abaixando junto àquela sepultura de cimento cru, caiada de branco, apanhando o prato, o copo, colher, garrafa de água, se benzeu e se despediu dizendo:

- Amanhã lhe trago um cozidão daqueles de lamber os beiços. Sei que meu filho gosta muito e está com saudade. Mas tem sido difícil encontrar carne boa. A seca está grande e o gado magro. Porem já encomendei à seu Zé do Boi uma rabada bem gorda. Fica com DEUS!!!

E de longe, escondidos entre os túmulos os coveiros riam daquela cena e ficavam quietos ouvindo o diálogo para não intimidar a mulher. Eles também temiam ficar sem o alimento se porventura ela descobrisse que eram eles que devoravam a gostosa comida ofertada ao morto desde que aquela jovem senhora enviuvara.  

E assim foi por longos anos, “Jovem” como era conhecida perdera o seu amor ainda no vigor da sua mocidade. Homem trabalhador, braços rígidos, estatura mediana a quem a fazer nenhum metia medo. Até que fora surpreendido pelo destino daquela manhã chuvosa em que morreu soterrado por uma barreira da qual tirava areia para carregar caçambas e carroças que alimentavam a construção civil daquele lugar que aos poucos trocava as casas de barro por alvenaria. Mal pode resistir a tanta dor. Estava a esperar o seu primeiro filho e ao saber da notícia saiu gritando em desespero. Os dias passaram e se aproximava o nascimento do tão esperado filho que chegou nas primeiras horas daquela sexta feira. Desde cedo da noite passada era assistida pela parteira da localidade que tendo muito trabalho para encaixar a criança não via a hora de puxar o menino. Mas eis que o destino imprime outra marca na vida daquela mulher pois o menino nasceu morto e ela de tanto sofrer “quebrou o resguardo” e enlouquecera. 

Todos que a viam lamentavam o fato de uma mulher tão linda ter perdido o juízo daquela forma. Era doida mansa como se diz no interior, vivia a lavar roupas e tinha um calor desmedido que só curava no tanque do seu quintal coberto pela velha mangueira que de tanta sombra esfriava a água daquele recipiente. Não mexia com ninguém e se zangava apenas com os meninos que a aperreavam quando mexiam em suas roupas estendidas na calçada da rua e ela vinha em seu estado mais natural arrumar as peças enquanto a criançada se divertia ao vê-la despida. A outra mania era de todos os dias ir ao mercado comprar comida para o seu amado a quem a loucura nunca deixou morrer. Seguia com seu balde na mãe e sempre uma flor metida na orelha a enfeitar-lhe os cabelos.

 Chamava a todos de “papaizinho” ou “mamãezinha” conservando o modo como seu amado lhe tratava. Talvez ainda atormentada por lembranças daquele louco amor conservou a libido exacerbada que satisfazia aos adolescentes da localidade em suas iniciações sexuais e que iam bater em sua pequena janela altas horas da noite.  

Viveu ainda por muitos anos a alimentar o seu amor perdido, os coveiros e os meninos da redondeza, cada um de uma forma...





























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