sexta-feira, 16 de julho de 2021

Coluna do Carlos Augusto Martins Netto.

 SABE DE NADA, INOCENTE!

Por Carlos Augusto Martins Netto - Servidor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Farmacêutico, Escritor e Poeta.

A humanidade se debate num enfrentamento que, para muitos, é estéril e perdido. Nascer, crescer, multiplicar-se, morrer; esse é o ciclo que aprendemos nas primeiras aulas de biologia em nossas escolas. Mas fico me perguntando se toda complexidade do ser humano cabe em toda essa simplicidade. Onde encaixamos as sensações das brincadeiras de criança? Ou as explosões hormonais do primeiro beijo? Aquele cheirinho azedo da cabeça dos nossos filhos ao nascerem, e que adoramos? Onde colocamos toda aquela enxurrada de sentimentos e desejos dos tempos de namoro? Onde enfio os momentos de cerveja gelada com amigos e familiares? E a emoção de acompanhar a procissão do meu santo protetor? O certo é que a biologia nos explica os mecanismos da vida. E só!

Mas a vida é muito mais que só as questões biológicas ou fisiológicas. Aos sábados, sempre que chego do trabalho — sim, o trampo vai até o meio-dia do sábado porque nasci foi lindo e não rico! — sou recebido em casa pela dona do meu coração com uma cerveja bem gelada e aquele beijo maroto que só ela sabe dar. Moço, só de escrever sinto tudo de novo. É qualquer coisa... de muito bom. Sentar-me na cadeira que meu saudoso pai ocupava aqui em casa, também aos sábados, para saborearmos cervejas geladas regadas a um bom papo, piadas, músicas inesquecíveis e a algazarra de meus filhos e filhas. Flagro-me com lágrimas nos olhos. Emoções.

Não demora muito e me vejo rodeado de amigos, na adolescência, com aquelas conversas que sempre giravam em torno de ser adulto. Achávamos que fazendo coisas de adultos, seríamos adultos. Acho que, talvez, já ensaiávamos o tipo de adultos que gostaríamos de ser. Hoje, divirto-me com todo aquele ritual que fazíamos. Cumprimentávamos-nos com o aperto de mãos típico dos adultos, procurávamos nos relacionar conforme as regras dos adultos; enfim, éramos adultos — antes da hora! Nem imaginávamos quanta saudade teríamos daqueles tempos. Ingenuidade.

O tempo é inevitável... e inexorável. Não brinquemos. É ele quem determina a sequência de nossas vidas, não permite retorno, não nos concede vontade, muito menos atende às nossas súplicas.

Contudo, gosto de pensar que para tudo tem um jeito. Lembram de que, no início, eu citei a complexidade do ser humano? Pois é, mas nós também somos engenhosos. E driblamos o tempo com aquilo que não está sob seu controle. Querem ver? A maneira como reagimos à avalanche de emoções que sentimos ao ouvir, pela primeira vez, o choro que anuncia a chegada de um filho. Todas as emoções envolvidas ao pegá-lo nos braços, sentirmos aquele cheirinho azedo... Até hoje, consigo viver nitidamente todos esses momentos, só que, agora, faço junto com minha esposa, filhos — todos os quatro, no meu caso — e quem quer que esteja presente. Gero novas memórias, novas emoções. Incluo novos personagens. Multiplicação.

Uma outra maneira de mostrar ao tempo de que somos nós os timoneiros de nossas vidas é como vivemos. Vivamos momentos como se eles fossem acabar tão logo começassem. Isso mesmo. Não concedamos chances de sermos mornos, insossos. Marquemos as vidas das pessoas como ferro em brasa. Coloquemo-nos sob as peles dos amigos e familiares qual tatuagem. Intensidade.

O tempo pensa que é senhor de tudo — inocente! O ser humano é uma maravilha inquieta que tem saída para tudo. E, para nós, até a eternidade é possível. Isso mesmo, todas as memórias e lembranças que geramos quando são trazidas à tona, muito tempo depois de termos embarcados na nau dos destinos, tornam-nos eternos. As lembranças que falam de nós têm a força de nos fazer presentes a qualquer tempo e lugar. O tempo pensa que não, mas, sim, conseguimos enganá-lo... e sermos eternos.


























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