domingo, 19 de setembro de 2021

Coluna do Allan Roberth

 PATRIOTISMO

O dia sete de setembro é para os brasileiros o dia em que comumente e levando em consideração todas as ressalvas de como nos foi contada a história do nosso pais, comemoramos “A independência do Brasil”. 

O ano era 1822 e diante de um cenário já conturbado entre Brasil e Portugal por conta da famosa revolução do Porto de 1820, o príncipe regente Dom Pedro I proclama às margens do Rio Ipiranga em São Paulo, a independência do Brasil em relação à Portugal.

A partir de então essa data é comemorada com todas as honras devidas e desde cedo aprendemos a exaltar a pátria realizando em todas as cidades brasileiras a festa cívica que em nossa memória infantil está profundamente marcada como algo prazeroso e que nos enchia de orgulho.

Também deixando de lado a reflexão sobre o que os governos militares impunham como obrigatoriedade e dever cívico, quero me prender aqui ao burburinho em torno do evento “Sete de Setembro” especialmente nas décadas de setenta a noventa. 

Ainda no mês de Agosto, as escolas, tanto públicas quanto as privadas já começavam os famosos ensaios para o desfile e em especial as bandas de música que davam o ritmo ao cortejo e atraia a atenção de todos nas pequenas cidades do interior do Maranhão. 

Os pelotões, devidamente organizados sob o olhar atento dos professores, diretores e organizadores saiam pelas ruas para testarem o alinhamento, a postura corporal no balançar dos braços e especialmente a marcação do ritmo que acompanhava a banda com as pernas. 

Os ensaios eram um evento à parte e, diante da liberação dos pais, ficávamos soltos para “aprontar” algumas no trajeto para a escola e no tempo em que dispúnhamos para o tal ensaio. As paqueras e namoros eram frequentes, mas o que marcavam mesmo esses acontecimentos eram as famosas provocações motivadas pelas disputas entre escolas.

E aí, não faltavam os famosos bordões usados para insultar os estudantes dos outros colégios que ao se cruzarem voltando dos ensaios começavam a se provocar. “Corrêa de Araújo, perna fina, rabo sujo” era o mais usado para atingir os estudantes de uma das maiores escolas que já existiu em Pedreiras.

 Ainda tinha o famoso, “macaco torrado” como eram apelidados os alunos do Colégio Manoel Trindade por conta da sigla MT, iniciais do nome da escola. No mesmo embalo das siglas tinha os “C... Rasgado” para provocar os alunos do Colégio Ciro Rêgo. Para os alunos da escola particular Iná Rego, a sigla “PPP” gerava confusão pois era pagou, pescou, passou...

Outro motivo para brincadeiras e que até provocavam brigas era o fato de zombar dos colegas de estaturas menores que eram colocados na famosa “rabada” dos pelotões. Quem não passou por essa situação? A vingança vinha nos anos seguintes acompanhando o crescimento físico quando já se podia “mangar” dos pequeninos da rabada.

E quando chegava a véspera do esperado sete de setembro, a ansiedade era tanta que mal dormíamos a noite. As recomendações do pais eram muitas e pelo menos naquela noite dormia-se cedo para acordar as 5 da manhã, tomar banho e em seguida o café reforçado para não desmaiar no desfile. 

As fardas já estavam bem lavadas e passadas e repousavam geralmente numa cadeira da casa assistidas pelas meias e sapatos bem lustrados aguardando a hora de serem usados. O evento também não deixava de realçar as diferenças sociais pois enquanto uns usavam fardas novas ou fantasias caras os mais pobres tinham que se contentar com seus surrados uniformes. Mas em nosso mundo infantil de igualdade o importante era participar.  

Pela manhã cedo já se via a movimentação de pais e alunos se dirigindo às escolas de onde partiam para as concentrações. As famosas fantasias usadas nos pelotões de destaques eram escondidas à sete chaves. Assim como a farda das bandas marciais que eram um espetáculo à parte.

Os meninos limpavam a vista com as “balizas” das bandas que geralmente eram mocinhas de pernas bem torneadas e corpos delineados. Essas, também dava um show na avenida com suas manobras corporais enchendo a todos de muita emoção. 

A avenida Rio Branco entupida de gente era o palco para o grande dia, uma corda passada pelos postes de iluminação elétrica continha as pessoas para não adentrarem à pista. O melhor lugar era sempre disputado pelas crianças menores que sentavam nas calçadas e podiam ter uma melhor visão do passeio cívico.

No palco montado geralmente em frente à praça Melico Rego, se espremiam autoridades civis, militares e eclesiásticas da cidade e ao redor desses os famosos “puxa sacos” que não perdiam a oportunidade de se mostrarem importantes por acompanharem seus eleitos.

O evento se estendia das primeiras horas do dia até altas horas da manhã quando passavam as últimas escolas que era sem dúvida as maiores. Essas mostravam todo seu “poder” em desfiles impecáveis cheios de criatividade, luxo e dedicação.

Assim, por muitos anos, Pedreiras viveu o seu dia da Independência do Brasil e ainda que como brasileiros de uma pequena cidade do interior do Maranhão não entendêssemos muito o que a palavra “patriotismo” carrega em si, não confundíamos e nem relacionávamos esse substantivo com partidarismo político ainda que velado.





















Um comentário:

  1. PARABÉNS.....A este ilustre filho PEDREIRENSE que com simplicidade e esmero narrou com detalhes este fato do "PATRIOTISMO" que me relembrou a minha infancia, acredito que esta foi a realidade vivida por muitos de nós interioranos e baixadeiros....OBRIGADA ALLAN por compartilhares conosco este momento tao peculiar vividos amorosamente por nossa infância....ÉS UM BRAVO PATRIOTA....PARABENS....Ducarmo Cardoso.

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