sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Coluna do Poeta e Escritor Carlos Augusto Martins Netto.

 Um siribolo dos diabos!

Por Carlos Augusto Martins Netto - Servidor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Farmacêutico, Escritor e Poeta.

O sábado amanheceu mais cedo, como costuma ocorrer no verão, e já bem cedo transmitia a cálida sensação de que a cidade toda virara uma sauna. Nesses dias, o que não faltam são homens com as camisas coladas às costas e abertas até quase o umbigo, desnudando seus torsos e mulheres com seus leques nervosos a saracutiarem para lá e para cá no afã de gerarem uma brisazinha sequer para amenizar o calor abrasante, e até os animais são vistos desmantelados sob as sombras de qualquer coisa para se protegerem do sol inclemente e se refrescarem com a leve brisa característica dessa época do ano.

O Amaro levantou cedo, passou o café, esquentou o leite, foi à padaria comprar o pão quentinho e, na volta, preparou dois ovos estrelados, aprontou a mesa e avisou a sua esposa, Dalva, de que o café da manhã já estava na mesa.

O desjejum de marido e mulher transcorria em harmonia.

— Meu bem, passe o leite. Obrigado.

— Você vai querer manteiga no pão? É caseira, que a comadre Joana preparou com a receita da de sua bisavó. Está uma delícia!

— Não, o doutor disse que meu colesterol está alto e tenho de evitar comida gordurosa. Vou começar com a manteiga. Falando nisso, o almoço hoje bem que poderia ser uma peixada com aquele surubim que comprei anteontem. Eita, que só de pensar já estou com água na boca!

— Pois está decidido, a comida hoje será a minha moqueca de surubim.

— Então, vou ao mercado para comprar tomate, cebola, pimentão e cheiro verde fresquinhos.

— Compra do pimentão verde, vermelho e amarelo que eu vou caprichar no prato.

— Pode deixar. Ah! Não esquece de temperar o arroz com alho. Vou aproveitar e trazer também uma pimenta no leite de coco babaçu e farinha d’água para acompanhar. Eita, que hoje eu vou me acabar!

Após o café da manhã, Amaro sai para ir ao mercado fazer as compras para a já tão esperada moqueca de surubim.

— Ei, Amaro, aonde está indo com tanta pressa, rapaz? — pergunta o Vicente.

— Vou ao mercado comprar temperos, a Dalva vai preparar a sua famosa moqueca de surubim.

— Não esquece de convidar os amigos, Amaro — falou, sorrindo o Vicente.

— Ei, Vicente, tu já tá é tomando uma, é?

— Rapaz, com esse calor todo, comecei os trabalhos foi cedo. Venha molhar a palavra antes de ir ao mercado.

Amaro consultou o relógio. Dez e meia, dá tempo de tomar duas geladas e, depois, correr ao mercado e comprar os temperos.

— Vumbora, meu amigo, que hoje a quentura tá é grande — respondeu Amaro, já descendo da bicicleta.

O amigo lhe serviu, levantaram os copos e brindaram à amizade dos dois, que datava mais de vinte anos. Tomaram o primeiro copo de um gole só, para refrescar a garganta. Chamaram outros amigos que por lá passavam e, em pouco tempo, estava formada a rodinha autoproclamada “Os avulsos”. Lógico que as esposas detestaram a denominação — onde já se viu homem casado se chamar de avulso? — diziam. Mas a curiosidade, mesmo, é ver o siribolo que vai dar quando “Os avulsos” descobrirem que elas também têm um grupo, “As princesas do boteco”!




















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