AS FLORES DE PLÁSTICO NÃO MORREM
Por Paul Getty
A morte é inevitável. É a única certeza da vida, e o maior medo do homem. Confrontá-la pode ser um ato de coragem e, principalmente, de ousadia artística. Tem um dito popular que diz: “pra tudo na vida tem um jeito, menos para a morte”, talvez seja por isso que insistamos em falar tanto em como seria o momento da sua chegada. Na verdade, não estamos preparados em ver as pessoas que amamos partir e, tampouco, em pensar na nossa – sinal da cruz e bate na madeira três vezes.
Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mario Quintana: “Morrer, que me importa? (…) O diabo é deixar de viver.” A vida é tão boa! Não quero ir embora…
O irrequieto Maluco Beleza RAUL SEIXAS considerado um dos pioneiros do rock brasileiro. Na letra de “Canto para a minha morte”, Raul aguarda a morte se despedindo aos poucos de coisas, pessoas e situações do seu cotidiano.
E pergunta “Qual será a forma da minha morte?”. O compositor divaga em suposições que vão de um acidente de trânsito até um simples escorregão na calçada. No fim, deixa pedidos aos entes queridos e lamenta o que deixou de fazer, dividindo-se entre odiar e amar a morte, que ele deseja que demore a chegar.
“Vou te encontrar vestida de cetim
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo, mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.
Qual será a forma da minha morte?
Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida
Existem tantas
Um acidente de carro
O coração que se recusa abater no próximo minuto
A anestesia mal aplicada
A vida mal vivida, a ferida mal curada, a dor já envelhecida
O câncer já espalhado e ainda escondido, ou até, quem sabe
Um escorregão idiota, num dia de sol, a cabeça no meio-fio…”
A famosa Banda de Rock – Titãs - gravaram, FLORES, outra canção que é considerada um clássico sobre a morte.
“A dor vai curar essas lástimas
O soro tem gosto de lágrimas
As flores têm cheiro de morte
A dor vai fechar esses cortes
Flores
Flores
As flores de plástico não morrem…”
E gravaram também o grande sucesso “Epitáfio”, letra de Sérgio Britto, apesar de revelar certo arrependimento do personagem, deixa a mensagem de que devemos viver mais, valorizar os detalhes, amar e até morrer desse amor.
“Devia ter complicado menos, trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos com problemas pequenos
Ter morrido de amor
Queria ter aceitado a vida como ela é.
A cada um cabe alegria e a tristeza que vier…”
Brindando a morte e fazendo amor. É uma tarefa difícil, mas, quem sabe, se exercitarmos todos os dias, com uma boa música ao fundo, não passemos a tratar a morte de uma maneira menos pesada?
E nesses tempos de Pandemia, para amenizar sua dor, procure músicas que elevem o astral e que podem até brincar com a morte, como a vovó do rock, Rita Lee, fez, e muito bem, em “Doce Vampiro”.
Venha me beijar,
Meu doce vampiro,
Ou ouuuuu
Na luz do luar
Ãh ahãããããh
Me acostumei com você
Sempre reclamando, da vida…
Me ferindo, me curando, a ferida…
Mas nada disso importa,
Vou abrir a porta,
Prá você entrar,
Beija minha boca,
Até me matar…de amooooor!…”
Paul Getty S Nascimento - Poeta e Compositor. Membro da APL – Academia Pedreirense de Letras.
Belo texto parabéns
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