Copa do Mundo no Catar ainda é
motivo de discussão por direitos
humanos
Em ano de Copa do Mundo, é
comum a expectativa para o início do torneio e a projeção de quais seleções
chegam mais fortes para a disputa do título. Porém, nesta edição, para além do
futebol, um ponto em particular também está em discussão: as denúncias de exploração de
trabalhadores na construção das arenas. Na última semana, a Fifa se reuniu com o governo do Catar para
discutir direitos trabalhistas.
O presidente da entidade, Gianni Infantino, conversou com o
Ministro do Trabalho do Catar, Ali bin Samikh Al Marri, em Doha, e, durante a
reunião, destacou: “Temos que reconhecer o importante
progresso que foi alcançado no país na última década. Reformas legislativas marcantes foram
introduzidas e trouxeram benefícios concretos para centenas de milhares de trabalhadores
migrantes”.
No comunicado oficial da Fifa sobre o encontro, há um destaque
para a nova lei
sobre o salário mínimo que já levou ao aumento dos salários de 280.000
trabalhadores, equivalente a 13% da força de trabalho total.
Além disso, outro dado levantado foi o do fechamento de 338 empresas, desde
maio de 2021, por não cumprir com a legislação sobre a jornada de trabalho
durante altas temperaturas.
Neste mês, a entidade máxima do futebol também se reuniu com
representantes da Anistia Internacional, organização não governamental que
defende direitos humanos pelo mundo. Na reunião, foi entregue uma petição com 280 mil assinaturas de
torcedores sobre riscos no setor de serviços do evento e a promessa de uma carta
documentando mais abusos trabalhistas que continuam sendo cometidos no Catar.
Luiz Henrique Martins Ribeiro, advogado especialista em negócios
no mundo do esporte, frisa que, apesar de parecer haver uma mudança fomentada
pelos eventos esportivos, e, neste caso, pela Copa do Mundo do Qatar, é improvável uma transformação
drástica nesse cenário.
“Eu entendo que não só o Mundial, como todo e qualquer evento esportivo de
grande proporção, como as Olimpíadas, seja a de Inverno ou a de Verão,
direciona o olhar para os países onde são realizados. O esporte chama atenção,
mas falta muito para ser um catalisador de mudança”, completa.
Apesar de todo esse investimento colossal para promover um dos
eventos mais grandiosos na cidade de Doha, há outro fator por trás que, na
visão dos especialistas, parece ter um objetivo claro: melhorar a imagem do país diante do resto do mundo. “É uma oportunidade do país angariar
notícias positivas pela organização, pela estrutura e outras frentes que
queiram mostrar. Sabemos da atratividade do torneio, da força de exposição, da
grandeza das seleções e do poder midiático, mas hoje a população mundial também
busca informação de algo a mais”, conclui Fábio Wolff, diretor da Wolff Sports
& Marketing.
No ano passado, os jogadores de diversas seleções durante as
Eliminatórias se manifestaram contra as péssimas condições dos funcionários
estrangeiros que
trabalharam nas obras. Alguns atletas fizeram protestos antes mesmo das
partidas, como o atacante norueguês Haaland, do Borussia Dortmund, e o alemão
Toni Kroos, do Real Madrid.
A Dinamarca, já classificada para a Copa do Catar em 2022,
anunciou um boicote comercial. No lugar dos patrocinadores, o uniforme da seleção irá expor
mensagens humanitárias em protesto à organização do torneio. Outras seleções
também se manifestaram caso da Noruega, que ano passado entrou em campo contra
Gibraltar e Turquia com mensagens no manto a favor dos direitos humanos, e da
Holanda, que também apoiou os protestos. Os atletas da equipe holandesa, no
jogo contra a Letônia, pelas Eliminatórias, vestiram camisas com a expressão “O
Futebol apoia a mudança”.
Fonte: Exame
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