segunda-feira, 10 de julho de 2023

SEGUNDA LITERÁRIA: COLUNA DO POETA E ESCRITOR CARLOS MARTINS.

 A VIDA EM MOVIMENTO

Carlos Martins (10/07/2023)

Uma das coisas de que mais gosto é de conversar com meus filhos. Faço isso desde quando eles eram muito pequenos. É um momento em que mais escuto do que falo; algo muito difícil de acontecer, pois, segundo minha mulher, eu falo pelos cotovelos. Brincadeiras à parte, gosto dessa interação com eles, da proximidade, de falar sobre qualquer assunto, sem qualquer tipo de censura. Acredito, firmemente, que isso me aproxima mais deles e me coloca em posição de ser seus confidente — caso queiram, é claro!

O mais novo é apaixonado por futebol, sabe tudo sobre o nosso Vascão. Após chegar da escola, nem bem almoça, já se apronta todo com meião, chuteira e uniforme do Vasco da Gama para ir jogar bola com os amigos na quadra do condomínio onde moramos. 

— Menino, deixa a comida pelo menos assentar na barriga, diz a mãe.

Em vão, o moleque já está longe do alcance das palavras, não ouviu nada.

— Esse menino ainda vai ter um piripaque, diz a mãe preocupada.

Já o outro garoto, com doze anos, já apresenta todos os sintomas de uma adolescência típica: acha que é dono da verdade; não podemos falar nada que já amarra a cara; pensa que os pais já nasceram pais e que nunca tiveram a mesma idade que ele — sabe de nada inocente! De qualquer modo, também com ele consigo ter conversas, mesmo que extraídas a fórceps.

Esse não se interessa por futebol. Nem sequer torce por um time. Com ele, tenho de me esforçar mais para estar por perto, para saber de seus gostares. Até porque o garoto é meio reservado. Mas não me faço de rogado e procuro ser presente o máximo possível na sua vida. Deixo claro que sempre estarei ali ao seu lado para o que der e vier.

Outro dia, estava tomando uma cerveja e ouvindo música quando tocou uma daquelas que trazem muitas memórias de momentos felizes, puxei-o para dançar comigo. O moleque quis refugar, mas era tarde demais, já o tinha enlaçado nos meus braços. O garoto parecia um polvo, sobrava braços e pernas para todo lado. E o ritmo? Só lembrança. Mas, mesmo assim, bailei com ele pela sala. Mostrei-lhe que a dança tem um padrão.

Um pouco mais adiante, outra música. Dessa vez, foi a minha mulher que puxou o filho para dançar. E parece que o moleque aprendeu os toques que tinha lhe dado momentos antes.

Fiquei ali, ouvindo e observando tudo, nos mínimos detalhes, deliciando-me com o momento. E senti que meus olhos se abriram para ver nossas vidas em movimento, tendo os seus instantes preenchidos por experiências que, um dia, serão contadas como histórias para os meus netos, e, lógico que por mim, que serei um avô típico, daqueles contadores de histórias, compradores de balinhas e que os netos fazem gato e sapato.























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