sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

PEDREIRENSES PELO MUNDO: Coluna do Carlos Augusto Martins Netto.

 CARTA A TI, MEU PAI!

Por Carlos Augusto Martins Netto - Servidor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Farmacêutico, Escritor e Poeta.

Meu querido pai, nessa semana em que o senhor faria 73 anos, a sua presença não me sai do pensamento. Decido que vou escrever algo para essa data. As mãos tremem. Os lábios também. Mais fácil dizer o que não treme. Tudo está igual. A mesa, a cadeira... Ela mesma, continua ao meu lado. Aos sábados, continuo cozinhando, tomando cerveja e ouvindo música. Ah, sempre ela, a música! Sim, e são as mesmas.

(Foto retirada do "Facebook" do Carlos Augusto Martins Netto)

Lembra daquela do Roberto que cantávamos juntos? Isso, “Ninguém vai tirar você de mim”. Ainda hoje, cantei. Moço, cantei forte. Engasguei, mas cantei! Muita lembrança. Respirei fundo, tomei um gole de cerveja. Bem gelada, daquele jeito. E me lembrei de quando a cerveja não estava muito gelada e o senhor dizia: — Eu tomo cachaça que é mais quente! Falando nisso, corri no meu armário e peguei uma garrafa de cana para marcar uma légua.

Nesse momento, o pessoal chega aqui por casa. Bárbara (a “maguinha” do Sá Viana), Anna, mamãe, Arthur, Dinane... Ah, Larissa já começou a tomar vodca ice, fazer barulho e querer mandar nas músicas. Não deixo. E continua rolando “As músicas boca quente do Cacá”.

(Foto retirada do "Facebook" do Carlos Augusto Martins Netto)

Iniciei a parte culinária. Tomate, cebola... E me vem à mente: — Véi, não esquece o cheiro verde. Bem lembrado! Meu Deus, cortar tempero sem aquela nossa conversa; um horror!

Volto minha atenção à música. Ray Charles. “I can´t stop loving you”. Beco sem saída! O jeito é pegar o sal e tratar de temperar o peixe. O cardápio de hoje será uma pescada amarela escabechada com arroz branco. Que tal?

(Foto retirada do "Facebook" do Carlos Augusto Martins Netto)

A conversa rola muito animada e, eis que surge, uma das suas muitas histórias: o senhor dizendo para o filho do tio Alberto que naquele dia não teria aula no Colégio São Francisco porque o cachorro de dona Aldenora tinha morrido. Muitos risos e gargalhadas. Não poderia ser diferente, a alegria andava contigo. Nesse momento, eu e meu irmão resolvemos levantar um brinde a ti. Com a cachacinha que o senhor tanto apreciava. E fizemos como o sempre gostava de brindar: - “Cachaça zarabitana que vem do engenho do capucho, tu bate comigo no chão que eu bato contigo no bucho. Olé, quem segura o corpo é o pé!”

Agora, já no final da tarde, na hora do Ângelo, a saudade aperta. As lembranças descem aos borbotões e uma chuva de pérolas caem pelo meu rosto. Lava tudo. Lava mesmo! E, ao final, fica uma saudade tranquila. Uma saudade serena, benigna. Mas, saudade!

(Foto retirada do "Facebook" do Carlos Augusto Martins Neto)

Ainda bem que as lembranças são muitas. Elas te fazem presente em todas as nossas reuniões. Ficamos horas e horas contando as suas presepadas e relembrando o quanto gostavas de brincar, de ser a alegria do lugar, de contar os causos de Pedreiras; enfim, de viver. E isso nos tem valido.

Meu velho, tu fazes muita falta! Ponho-me a tentar entender o porquê. E só consigo chegar a uma conclusão: ser pai, amigo, confidente, parceiro só poderia resultar em muitas lembranças. Por isso mesmo, me vem à mente o seu aniversário de setenta anos, quando ficou a meu cargo fazer o discurso. Ainda me lembro, muita emoção. E eu querendo te falar sobre ser eterno. Não consigo esquecer as suas palavras: — Só se salgar, meu Véi! Ninguém, naquele momento, pôde alcançar o quão proféticas seriam essas palavras.

Meu pai amado, preciso finalizar, caso contrário não termino nunca. E faço assim: “I can´t stop loving you”, “Ninguém vai tirar você de mim”, “Detalhes”, “Sentado à beira do caminho” e, finalmente, “Eu nunca mais vou te esquecer”. As nossas, sempre, só as nossas!

























Um comentário:

  1. Chorei lendo suas palavras, palavras de verdade, de amor, de sentimentos... É tudo tão real, tão atual que agente tem a sensação de estar presente em cada instante! Eu passei pouco tempo no meio de vocês, porém o suficiente pra me deixar marca pra toda minha vida. Minha amiga Laurinha que se foi e muito tempo eu busquei em redes sociais sem saber que havia partido, agora o tio 😔. Eu guardo uma lembrança linda dele, eu lembro perfeitamente o quão especial é cada um dessa família. O meu desejo é que Deus continue abençoando sempre cada um de vocês. E deixo um grande abraço a tia Suely, mulher exemplar, forte, alegre e muito doce ❤️
    Parabéns Carlos Augusto por se tornar um grande poeta/escritor. Meus sinceros votos de sucesso e admiração.

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